quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Depoimento - Parte 1 - O TEA na minha vida...

Este é um texto especial. Ainda em toda a minha vida não escrevi nada do gênero. Venho tratar aqui de algo que está em minha mente, mais precisamente em meu cérebro, desde que fui gerada no útero da minha mãe, contudo, nem ela e nem eu sabíamos disso: sou portadora de TEA (Transtorno do Espectro Autista).

Minha vida sempre foi um grande dilema. Muitas coisas que aconteciam comigo e aconteciam ao meu redor eu não entendia. Sempre me achei muito diferente da maioria das pessoas, mas não compreendia o porquê. Às vezes, me achava muito capaz para algumas coisas, outras vezes me achava uma tola, uma idiota, uma excluída. Meus pais nunca me disseram nada a respeito, apesar de eu notar um certo esforço da minha mãe em querer saber porque eu me comportava de maneira tão diferente do resto das crianças no tempo de escola.

Sofri a minha infância, adolescência e juventude inteiras, me sentindo incompreendida pelos meus pais e por outras pessoas, me sentindo mal quando estava perto de muita gente ou em lugares com muito barulho (eu era obrigada a estar nesses lugares), passando meus dias enclausurada no meu quarto e sem amigos - estar sozinha, ou com pouca gente perto de mim, me fazia muito bem e ainda hoje me faz.

Creio que as pessoas na escola e na faculdade deviam me achar muito estranha, mas não tinham coragem de me dizer. Quando eu era adolescente, tinha mais amizade com crianças do que com pessoas da minha idade. Eu achava mais fácil me relacionar com elas. Elas não exigiam muito e gostavam de mim do jeito que eu era. Eu realmente não tinha assunto para as pessoas da minha idade. Se fosse para falar de coisas relacionadas à escola, de estudos, até conseguia conversar, mas, quando passava disso, já não me interessava mais e assim eu tendia a fugir de conversas mais maduras.

Eu amava poesia (e cheguei a fazer várias), artes plásticas de uma forma geral, música e teatro. No entanto, por ser criada de uma forma muito presa, não podia ir fundo com nenhuma das coisas que gostava. Meus pais não me deixavam sair para passear com amigos, e eles mesmos não gostavam de sair. Os únicos lugares que eu podia ir eram: escola, dentista, médico, às compras, sozinha ou na companhia deles. Minha família sempre foi muito reservada e o passeio que eles faziam sempre era para um pequeno sítio situado num município vizinho à cidade que morávamos, para o qual iam todos os fins de semana. Foi nesse ambiente "de claustro" que eu cresci.

Hoje, graças a Deus, consigo enxergar porque fui criada tão presa: percebi que meu pai está dentro do espectro autista, sendo dele que herdei tal condição.

Meu pai sempre foi um homem muito solitário e amargo, só se sentia bem longe de tudo e de todos. Nos fins de semana, se retirava para o seu pequeno sítio de três hectares. Após fazer um concurso para escriturário em um banco, passando em segundo lugar no ano de 1977, ainda quando eu era pequena, trabalhou ali até se aposentar, cerca de trinta anos depois. Ele sempre foi fascinado por matemática e lógica, o que ajudou para que ele se desse muito bem no seu trabalho. O hiperfoco é uma das características de pessoas que se enquadram no perfil do TEA; porém, no meu caso, sempre tive um foco onde eu podia usar minhas habilidades criativas.

Então, de segunda a sexta, meu pai passava o dia trabalhando, fazendo cálculos no banco e, à noite, voltava para casa para jantar e dormir; ao voltar para casa não falava muito com ninguém, simplesmente se isolava. Não tinha amigos, a não ser os colegas de trabalho, que vez perdida apareciam para nos visitar.

Meus pais muito dificilmente saiam para visitar outras pessoas, mesmo seus parentes. E muito dificilmente estes apareciam em nossa casa, pois geralmente as pessoas gostam de ir fazer visitas umas às outras nos fins de semana e, nesses dias, nós estávamos longe, isolados num sítio, onde meu pai gostava de estar. Geralmente, as pessoas que costumavam ir ao sítio vez ou outra e ficar nos fins de semana conosco eram as irmãs do meu pai, minhas tias.

Uma delas ficou viúva muito cedo e uma outra era casada com um marido esquizofrênico, de forma que encontravam nesses passeios em família uma forma de abrandarem aquele vazio da ausência dos maridos. A presença do meu pai servia para suprir a falta dos pais dos meus primos.

Dessa forma, me acostumei a ficar só a maior parte do tempo e, quando muito, na companhia da minha família, sem muito papo com meus pais, vivendo num mundo de sonhos, cores, formas e sons, um mundo só meu, que eu não compartilhava com absolutamente ninguém.

Quando eu e meus pais conversávamos, sempre era para resolver alguma coisa, tomar alguma decisão e só. Eles não demonstravam nenhum tipo de afeto com pessoas, nem mesmo comigo ou com minha irmã; especialmente o meu pai só conseguia demonstrar afeto pelos bichos de estimação que criava. Quando eu questionava minha mãe sobre isso ela respondia que não precisávamos ser carinhosos uns  com os outros para estarmos bem; e também sempre me dizia: "amigos só põem a gente a perder, não precisamos de amigos", talvez numa tentativa de me consolar. Foi nesse contexto que passei toda a minha infância, adolescência e parte da minha juventude. Essa era a minha normalidade.

No entanto, apesar das minhas limitações, eu sentia que não era bom levar a vida daquele jeito. De fato, aquela maneira de viver me oprimia e eu me sentia sempre desvalorizada e incompreendida pelos meus pais. Por não conversarmos muito, em muitas ocasiões eu acabava tomando minhas decisões sem comunicar a eles e fazia muitas coisas às escondidas. Na escola e na faculdade, ninguém tinha ideia do estilo de vida que eu tinha.

A partir dos 14 anos, iniciava e terminava namoros (muitas vezes, sem que meus pais soubessem), sempre na tentativa de que algum deles desse certo e eu finalmente saísse daquela prisão. Mas, eu me aborrecia rapidamente com os comportamentos dos rapazes e logo abandonava os relacionamentos. O que eu não sabia era que eu tinha um problema neurológico e, mesmo que eu casasse e saísse de casa, o fato de eu estar casada e morando longe dos meus pais não iria melhorar muito minha vida. Fatidicamente, descobri isso passando por mais sofrimentos depois de me casar, ainda muito jovem, com 20 anos. Aos 21 anos, alguns meses antes de descobrir minha primeira gravidez, deixei Jesus Cristo entrar em meu coração e passei a aprender Sua palavra. Este é o motivo de eu ainda estar viva hoje e conseguir superar os sintomas do TEA, o que me faz parecer uma pessoa normal.

Por não ter muita noção de perigo, muitas vezes me envolvi em situações que poderiam ter terminado tragicamente, se não fosse a intervenção de Deus me protegendo, pois, como eu não tinha amigos e não dizia nada a ninguém, qualquer coisa poderia me acontecer e muito provavelmente as pessoas só iriam saber quando já fosse tarde demais. Com o tempo, fui aprendendo a não ficar sozinha em todo o tipo de lugar, porque, antigamente, eu não sentia medo de absolutamente nada.

Fui tratada como uma pessoa normal (neurotípica) esses anos todos da minha vida e isso me custou muito sofrimento e frustrações. Certamente, se eu tivesse sido diagnosticada na infância, muitos transtornos e situações desgastantes que passei teriam sido evitados e eu teria tido uma melhor qualidade de vida. Vejo que o que realmente está fazendo a diferença hoje é saber a verdade sobre mim mesma. Antes tarde do que nunca, mas ainda considero que não seja tão tarde, apesar de já ter passado dos quarenta. Pelo menos agora estou mais consciente de quem realmente sou e das minhas limitações e posso dizer alguma coisa concreta às pessoas se precisar explicar minha conduta.

Os vizinhos da casa onde morávamos durante minha adolescência estranhavam minha maneira de ser e achavam que eu era orgulhosa, porque, ao sair na rua, não cumprimentava as pessoas que passavam perto de mim. E ainda hoje, pode ser que algum vizinho do lugar onde moro me ache estranha, visto que nem sempre saio de casa disposta a falar ou cumprimentar as pessoas, mas tenho me esforçado para agir como uma pessoa normal e educada.

Tenho sempre que me policiar ao sair de casa, pois como meu jeito de ser é diferente, posso ferir alguém com minhas palavras ou meu comportamento sem perceber. Tento parecer o mais normal possível, mas isso é muito cansativo para mim, demanda muita renúncia e paciência. Por isso reluto tanto para sair de casa às vezes, especialmente quando é para socializar. Preciso sempre tomar muito cuidado com o que digo ou faço para não ser mal interpretada, ainda assim, vez por outra, escorrego nas ações e nas palavras e aí, já era.

Festas, reuniões, locais com muita gente e muito barulho são sempre muito desgastantes para mim, tanto por causa da vigilância que eu tenho que ter com meu próprio comportamento, quanto pelos estímulos sensoriais ao meu redor (mudanças climáticas, cheiros, sons, luz, movimentos, cores, formas, etc.), que muitas vezes me incomodam e até me assustam. 

Até para ir à igreja ou visitar meus pais, preciso fazer um esforço extra, pois, inacreditavelmente, apesar de gostar muito dos meus irmãos e dos meus pais, eu não sinto falta; mas, ainda que eu não me sinta muito confortável, eu procuro estar lá por crer em Deus e saber, pela palavra d'Ele, que é necessário congregar para manter a fé e que também não devo abandonar meus pais. Minha forma de ver o mundo é muito diferente do normal, mais aguçada em alguns aspectos e deficiente em outros; meus sentimentos são diferentes, isso muitas vezes me atrapalha e se apresenta como um obstáculo gigantesco na hora de realizar algumas tarefas, mas não me impede de fazer o que é certo quando eu sou instruída sobre o que é certo fazer. 

Com toda a certeza, eu acabo fazendo um esforço muito maior do que uma pessoa normal precisa fazer para executar trabalhos comuns, mas procuro ser perseverante. Isso não significa que, muitas vezes, eu não desista de continuar com algumas coisas. Se for para o meu bem ou para o bem da minha família, certamente, desistirei. Isso ocorreu, por exemplo, quando precisei interromper a faculdade que eu amava, a fim de conciliar outras situações importantes na minha vida.

Não conseguia estudar e conciliar isso com os cuidados que tinha que ter com a saúde do meu marido, que na época chegou a ficar muito tempo doente, de cadeira de rodas, e acabei renunciando minha vaga na universidade. Estou há nove anos longe do meu curso do coração (Artes Visuais, UFRN), mas ainda sonho em retomá-lo e terminá-lo. E creio que este sonho está mais perto de se realizar agora.

Tenho problemas com relação a discernir fisionomias; não foram poucas as vezes que senti repulsa com os rostos e comportamentos de algumas pessoas, em vários lugares diferentes, que para outros indivíduos ao meu redor (como para meu marido, por exemplo) são percebidas como pessoas absolutamente normais. Ou seja, uma pessoa de aparência normal pode parecer monstruosa (exagerando aqui na palavra para que me possa fazer entender) ou bem estranha para mim, dependendo de como eu a percebo.

Consigo discernir quando uma pessoa está triste ou está alegre, se está cansada ou está pensativa/preocupada, mas certos de tipos de posturas e jeitos de olhar podem me causar estranheza e podem me fazer ficar bem afastada de alguns indivíduos, sem que estas pessoas sequer tenham interagido comigo. 

Não tenho muito sucesso ao fazer leitura labial, seria um desastre eu estar numa situação difícil em que alguém tente me comunicar alguma coisa apenas mexendo os lábios, sem emitir nenhum som: nada entenderia e a pessoa perderia seu tempo.

Também não me apego a pessoas ou coisas facilmente; só sinto falta de alguém se tal pessoa estiver convivendo comigo há muitos anos diariamente, ou se o indivíduo estiver ligado a mim de uma forma mais forte, como meu marido e meus dois filhos. E mesmo assim, a saudade ainda é um sentimento que não conheço muito bem. Não sou de ficar mandando mensagens para as pessoas ou querendo saber da vida delas; isso pode soar como indiferença, mas o fato é que, em todo o tempo, estou envolta na minha rotina, sempre silenciosa (eu não falo muito) e buscando me concentrar nos meus afazeres. Este é um motivo pelo qual tenho dificuldade de manter amizades, mas Deus realmente tem me ajudado com isso.

Às vezes, para mim, ficar em filas é bem complicado, especialmente se estiverem conversando atrás de mim ou muito próximos a mim. Sinto cócegas com alguns tipos de sons emitidos nas minhas costas e isso incomoda bastante. Esse é um tipo de percepção sonora que eu acho bem estranho em mim. 

Se faço apenas um tipo de serviço (ainda que minucioso) em que preciso me concentrar bem nele, me sinto confortável, no entanto, se tenho que fazer muitos serviços um atrás do outro, ou tenho que mudar de um para outro rapidamente, isso já me desgasta, me trava, pois minha mente sobrecarrega rápido - por isso sou tão lenta para serviços domésticos (essa é uma característica bem masculina que tenho). Contudo, amo cozinhar, pois nesse serviço posso usar bastante minha criatividade. Quase sempre estou inventando novas receitas de bolos e outras guloseimas, para a alegria dos que me cercam.

Um dos momentos mais difíceis da minha vida foi quando eu tive que cuidar dos serviços da casa e dos meus dois filhos, quando eram pequenos, coisa que eu realmente não conseguia fazer; deste modo, acabava optando somente por cuidar deles e deixava a casa sempre para depois (por isso a casa vivia bagunçada a maior parte do tempo).

Eu não sabia como explicar o motivo de eu me sentir tão cansada o tempo todo apenas por cuidar dos meus dois filhos, se eu não estava doente. Fui mal interpretada muitas vezes pela minha própria mãe, que me dizia que eu estava de má vontade para cuidar da casa; durante toda a minha adolescência e início da minha juventude, ela me chamou por várias vezes de imprestável e de inútil, por não conseguir fazer tudo o que ela me pedia, na velocidade que ela queria, e isso me entristecia muito. Mas, ao aprender o ensino de Cristo, eu a perdoei, pois sei que ela me interpretou mal por não entender o que se passava comigo.

Aconteceu que, por três anos seguidos, enquanto meus filhos ainda eram pequenos (eles tinham apenas um ano de diferença de um para o outro), eu só conseguia cuidar deles dois e não conseguia cuidar de mim (especialmente não conseguia descansar ou dormir o suficiente, nem me alimentar direito). Não havia quem me ajudasse na maior parte do tempo, meu marido passava muito tempo fora de casa por causa da faculdade e do trabalho e meus pais moravam longe.

À medida que o tempo foi passando, fui ficando fraca e um dia fui levada para o hospital às pressas com uma grave infecção que quase me levou a óbito. Não morri naquele momento porque fui livrada por Deus. Passei uma semana internada até ter condições de receber alta e ir para casa. Depois disso, vendo meu estado de saúde fragilizado, meus pais resolveram me ajudar contratando uma pessoa para me auxiliar nos serviços domésticos, pois naquele tempo eu não podia pagar. Ninguém desconfiava que aquilo tudo estava acontecendo por causa de uma limitação neurológica que eu tinha. Esse foi, sem dúvida, um dos piores momentos que passei em minha vida por causa do TEA.

Sair da rotina sempre foi muito desgastante para mim, isso inclui toda e qualquer mudança no andamento natural das minhas coisas cotidianas. Quando sei que vou ter que viajar (mesmo que seja a passeio) ou ir visitar alguém (dependendo do motivo da visita), geralmente fico muito ansiosa e perco o sono antes e durante todo o decorrer do evento. É muito comum eu voltar de viagens exausta, se não tomar medicamentos para aliviar a ansiedade, pois só consigo dormir bem ao chegar em casa.

Não entendo todo tipo de piadas e muitas coisas ou situações que fazem as pessoas rirem, para mim, são indiferentes ou não têm graça nenhuma. Não consigo achar pessoas se acidentando algo engraçado - é assim que soa para mim as famosas "videocassetadas" -, enquanto os outros estão rolando de rir, eu fico séria.

Essas são algumas das situações que passei, e continuo passando, no meu dia-a-dia, desde a minha infância até agora. Muitas pessoas não entendem minhas reações diante de algumas situações, mas creio que se alguém que me conhece estiver lendo esse texto vai passar a me entender melhor a partir de agora. 

São muitas as limitações de uma pessoa que está dentro do espectro autista, por causa da sua percepção diferente das coisas ao redor, e realmente não sei se estaria casada por todos esses anos (24 anos) com a mesma pessoa, se Deus não tivesse agido em nossas vidas para nos fazer aceitar um ao outro. Também não sei se suportaria atender ao chamado de Deus na minha vida, sendo uma pessoa anti-social por natureza, e tendo que lidar com pessoas, trabalhar em equipe, ouvir sons altos e ter que passar muitas situações difíceis para mim, se o Senhor Jesus não me ajudasse muito e poderosamente.

Muitas vezes fiquei sem entender, ou entendi errado, comportamentos e falas do meu marido e, tantas outras vezes, meu marido ficou sem me entender ou entendeu errado minhas falas e meu comportamento. Isso resultou em muito desgaste em nosso casamento, creio que se não fosse a intervenção do nosso Criador, certamente não estaríamos mais juntos. Pelo conhecimento de Cristo aprendemos a perdoar e suportar um ao outro e praticamos o perdão mútuo mais do que um casal normal o faz em seu cotidiano, e digo com todas as letras que é isso que nos tem ajudado a prosseguir em paz e alegria.

Hoje estamos indo em busca de um acompanhamento profissional, pois o próprio Deus nos abriu os olhos para a existência do TEA em minha vida e tem nos direcionado a lidar com essa situação da forma correta. Graças ao cuidado do Senhor para conosco, meu marido está me compreendendo melhor e agora eu estou me sentindo mais segura; quando alguém é constantemente incompreendido pelos outros, tal pessoa se torna um ser que vive insatisfeito, inseguro e frustrado o tempo todo (era assim que eu me sentia).

O que posso dizer, enfim, é que Deus muda quadros e contraria as situações para que Seu Nome seja glorificado. Estamos vencendo! Em breve vou publicar outro texto com mais detalhes de como foi enfrentar o pastoreio de igrejas sem saber da minha condição, e como isso me afetou. Até lá!  

Oriana Costa

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Rastros e resultados


É muito comum na nossa vida cotidiana tomarmos decisões com base na aparência das coisas ou com base no que sentimos no momento. Isso é absolutamente natural e até nos livra de acidentes e outras coisas que atentam contra o nosso bem-estar. Muitas das nossas reações, se não forem rápidas, podem custar caro para nossas vidas ou para as vidas dos que nos rodeiam, podendo até mesmo finalizá-las.

No entanto, algumas vezes precisamos de um tempo a mais para agir ou para fazer uma escolha. Nós precisamos analisar os rastros e os resultados daquilo que vamos nos associar, apoiar ou usar. Precisamos saber se nossas decisões serão de fato boas não somente naquele momento em que estamos optando, mas também nos dias futuros.

Um dos problemas que enfrentamos nesses momentos é que em algumas situações não temos como saber ou discernir se as informações que chegam até nós sobre aquele assunto são mesmo verdadeiras, outras vezes, não temos como ter acesso às informações que precisamos. Em certas ocasiões, porém, nós somos levados a tomar decisões embasados pelo que ouvimos falar, mas não pesquisamos sobre o assunto; é muito comum, para a maioria das pessoas, seja por comodismo ou por falta de tempo, ou até mesmo por falta de paciência para pesquisar, aceitar de imediato a opinião de pessoas influentes ou mais letradas como sendo corretas do que ouvir ou ler a respeito e depois ir estudar um pouco sobre o tal assunto.



Pessoas que tomam como verdade ou acreditam de imediato na primeira coisa que ouvem ou leem, e não procuram analisar depois as informações que tiveram acesso, são enganadas e tomam decisões erradas para suas vidas mais facilmente do que aquelas que ouvem ou leem, mas em seguida procuram se informar mais sobre o que ficaram sabendo, na medida do possível.

É claro que existem pessoas nas quais depositamos nossa confiança cegamente, por assim dizer, pois sabemos que elas jamais mentiriam ou passariam a nós quaisquer informações equivocadas. A opinião dessas pessoas para nós é muito importante, e porque não dizer, até crucial, nos momentos de decidirmos alguma coisa. Porém, somos limitados e falhos: ninguém sabe de tudo e, muitas vezes, apesar da muita vivência, indivíduos podem se enganar ao emitir suas opiniões na tentativa de ajudar. Sem esquecer, obviamente, que nem tudo o que serve para uma pessoa, necessariamente, servirá para outra.

Por este motivo, não devemos ficar somente com uma opinião sobre um assunto, ou com a opinião de um grupo isolado, especialmente quando a decisão a ser tomada vai interferir de maneira forte em nossos futuros. E não somente isso, mas devemos procurar, sozinhos, nos informar melhor sobre o assunto. Temos hoje a internet à nossa disposição e, fazendo bom uso dela, podemos acessar com rapidez as informações que necessitamos, analisando racionalmente todos os lados possíveis das histórias ou todas as facetas, boas e más, que os assuntos possam apresentar.

Essas ações devem estar ancoradas num parâmetro importante: precisamos ter à disposição uma fonte absolutamente confiável de informações, onde possamos, a partir dela fazer, comparações com as demais fontes que nos emitem conhecimento. Deve ser uma fonte precisa, imutável, justa, imparcial, universal. Mas, onde encontrar tal fonte? Será que essa fonte existe? 

Bem, a resposta é que a fonte existe e é fácil de encontrar. Seu nome é "Bíblia Sagrada", também conhecida como a "Palavra de Deus". Ela não é somente um conjunto de livros religiosos. Antes disso, é um livro histórico. As informações contidas nela têm a capacidade de nortear nossas vidas da maneira correta, nos livrando de muitos males e prejuízos. O conteúdo da Bíblia é absolutamente íntegro e confiável, ao contrário do que muitos imaginam, e pode ser tomado como padrão de comparação em qualquer situação.



A Palavra de Deus apresenta centenas de situações e seus resultados, mostrando como elas aconteceram e porque aconteceram. Também mostra que desde o princípio da criação as coisas continuam se sucedendo da mesma maneira, só mudando a roupagem ou, a tecnologia. Ela realmente aguça o discernimento de quem investe tempo em buscar nela conhecimento e entendimento sobre os mais variados assuntos.

O conteúdo bíblico nos socorre prontamente na hora de enxergar o que é verdadeiramente bom e o que é de fato ruim para nós. Quem toma decisões adotando como parâmetro o conhecimento de Deus não se decepciona, é livrado do mal e tem sucesso em tudo o que faz. A própria palavra de Deus diz o seguinte:

"Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que vivem conforme a lei do Senhor! Como são felizes os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam! Não praticam o mal e andam nos caminhos do Senhor. Tu mesmo ordenaste os teus preceitos para que sejam fielmente obedecidos. Quem dera fossem firmados os meus caminhos na obediência aos teus decretos. Então não ficaria decepcionado ao considerar todos os teus mandamentos.” (Salmos 119:1-6)

"A tua palavra, Senhor, para sempre está firmada nos céus. A tua fidelidade é constante por todas as gerações; estabeleceste a terra, que firme subsiste. Conforme as tuas ordens, tudo permanece até hoje, pois não há nada que não esteja a teu serviço. Se a tua lei não fosse o meu prazer, o sofrimento já me teria destruído. Jamais me esquecerei dos teus preceitos, pois é por meio deles que preservas a minha vida." (Salmos 119:89-93)

"Tenho constatado que toda perfeição tem limite; mas não há limite para o teu mandamento. Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro. Os teus mandamentos me tornam mais sábio que os meus inimigos, porquanto estão sempre comigo. Tenho mais discernimento que todos os meus mestres, pois medito nos teus testemunhos. Tenho mais entendimento que os anciãos, pois obedeço aos teus preceitos." (Salmos 119:96-100)

Os três trechos acima grafados estão localizados no Salmo 119, constante no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada. Eles constituem a fala do Rei Davi, onde ele, ao mesmo tempo em que dá seu depoimento com relação ao que comprovou através do uso da instrução de Deus, também conversa com Ele. E não é somente ele que chega a estas conclusões ao tomar como padrão para sua vida os princípios estabelecidos por Deus, mas todos aqueles que acessam este conhecimento de todo o coração concordam unânimes com o parecer desse famoso rei.


Oriana Costa - Missionária

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Um sentimento puxa outro, um conhecimento leva a outro, uma atitude leva a outra


Nestes meus 44 anos de caminhada na Terra, tenho aprendido muito a cada dia, especialmente depois que passei dos trinta. E graças ao conhecimento da palavra de Deus, tenho discernido melhor as coisas ao meu redor.

Atualmente, vivendo ainda no meu país, e observando tudo o que vem acontecendo, não somente em minha nação, como também em muitas outras, percebo como os pensamentos e desejos individuais das pessoas tem passado por cima da verdade que as rodeia e levado muitos a mergulharem numa grande confusão gerada por conceitos egoístas e imediatistas. Valores imutáveis e constantes que antes norteavam as pessoas em suas decisões, e lhes traziam equilíbrio e paz, não só individualmente como socialmente falando, hoje, são colocados de lado para dar lugar a valores inconstantes, que mudam a cada instante dependendo da aparência das situações, das emoções e das formas de pensar muito pessoais de cada indivíduo.

Cada pessoa tem sua maneira de pensar e ver as coisas, como também nossas emoções variam de acordo com cada circunstância que enfrentamos diariamente, e isso não é ruim. O problema é que fatores que mudam com facilidade não podem servir de base para se criar leis e se tomar decisões, pois leis são criadas (ainda que aqui na terra elas mudem de acordo com nossas vontades) e decisões são tomadas para interferir em nossos futuros para sempre, de uma forma ou de outra.

Algumas leis e decisões não têm tanta força para mudar nossas rotinas a ponto de nos fazer modificar a forma de viver e de se relacionar com os outros, mas outras têm muito poder para fazer isso acontecer, de forma a interferir tanto para o nosso bem quanto para o nosso mal, seja individualmente seja coletivamente. E essas coisas eu observei estudando a Bíblia e usando como fator de comparação a Palavra de Deus, que não muda e não falha, e não usando apenas os acontecimentos ao meu redor ou meus próprios sentimentos e desejos pessoais. Aliás, percebi, pelo conhecimento da Palavra de Deus, que muitas decisões que tomei, levada por meus próprios sentimentos, me fizeram sofrer muito mais na vida do que se, simplesmente, eu tivesse conhecido e colocado em evidência a verdade de Cristo no momento de agir.

Muitas vezes criei regras para mim mesma, como por exemplo: "agora só vou amar apenas quem me ama e só vou valorizar quem me valoriza"; comecei a praticar tais regras, contudo, elas se basearam em sofrimentos passei. O resultado foi mais sofrimento, pois isso me levou a guardar mágoas, ficar sempre lembrando o que as pessoas fizeram de ruim comigo e não perdoar de verdade o meu próximo, mesmo que eu falasse que já tinha perdoado. Cristo nos ensina exatamente o contrário do que eu pensava levada por meus sentimentos e experiências ruins: "Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus." (Mateus 5:44, ACF)



O que Cristo falou não é somente um bom conselho, mas é a lei que opera em seu Reino, e é a forma como os verdadeiros filhos de Deus se comportam. Filhos de Deus não vão se comportar de maneira diferente da que Cristo ensina e, se por acaso contrariam essa conduta, logo se arrependem, pois lembram e colocam a Palavra de Deus em primeiro lugar em suas vidas. Somente ela pode representar um fator de ensino e correção justos na vida de alguém, para que tal pessoa seja livrada de sofrimentos vãos, esteja em paz consigo mesma e "esteja em paz com os outros ao seu redor" (na medida do possível, pois como falei no início "cada pessoa pensa de uma forma diferente", e por isso tem formas diferentes de interpretar os fatos; por este motivo há tanta perseguição aos cristãos - os que não conhecem o ensino de Cristo muitas vezes interpretam as atitudes dos cristãos de forma equivocada).

Observei, ao longo desses anos de vida, que existem coisas que, por mais que as pessoas neguem movidas por seus sentimentos e desejos pessoais, sempre serão o que são e nada poderá mudá-las; como exemplo temos: a terra girando em torno do sol, o sol trazendo calor à terra, a terra produzindo ervas verdes, animais e plantas formando ecossistemas perfeitos, a lua girando em torno da terra, seres vivos nascendo e seres vivos morrendo. Para todas essas coisas acontecerem sem falhar, existem leis que foram criadas, estabelecidas em seus devidos locais e nunca mudam, como por exemplo, a lei da gravidade. Quem criou essa lei perfeita e muito poderosa, como também todo o universo, não foi o homem nem o acaso, mas Deus.

A lei da gravidade não foi criada pelo homem e sim, descoberta e pesquisada por ele, para ser melhor entendida e usada. E ela é tão perfeita e tão bem estabelecida que, se qualquer ser humano tentar mudá-la não conseguirá. A única coisa que os seres humanos podem fazer é se adaptarem a ela em cada lugar que ela age. Quando alguém tenta desafiá-la sem se proteger adequadamente, achando que nada lhe acontecerá, fica à mercê de seus efeitos, pois ela não para da funcionar onde está estabelecida em nenhum momento.

Agora faço a seguinte pergunta: como alguém pode saber que roubar é errado de fato e parar de roubar para nunca mais voltar a fazê-lo? Somente por alguém lhe dizer que roubar é errado? Somente por saber dos danos que roubar causam ao próximo? Somente por que sabe que se roubar poderá ser penalizado ou castigado por isso? Se essas afirmações fossem suficientes para fazer com que as pessoas que roubam parassem definitivamente de roubar, então não teríamos tantos ladrões agindo hoje em nosso país e no mundo, e as penitenciarias, especialmente no Brasil, não estariam tão cheias de ladrões de todas as classes sociais.

Alguém que rouba precisa comparar o ato de roubar com algum outro comportamento ou conceito que lhe faça mais sentido ou, desta forma, tal pessoa não verá vantagem alguma em parar de tomar à força, ou às escondidas, as coisas dos outros. Quem rouba não se envergonha do que faz, a menos que diante de tal indivíduo seja colocado um fator verdadeiro, imutável e constante, com resultados totalmente benéficos, que conduza ao arrependimento sincero de sua prática. O único parâmetro de comparação capaz de fazer alguém repensar sua conduta e se arrepender realmente é o ensino de Cristo - a Verdade de Deus -, não há outro. Não é pela força que se converte realmente o mal pensamento de alguém em um bom pensamento e sim pelo conhecimento da verdade das coisas.



A verdade das coisas vem do nosso Criador e este nos apresenta um padrão de justiça puro e que não varia conforme as situações, que está manifesto em Cristo. E Cristo, por sua vez, nos revela tal informação por seu ensino.

Oriana Costa - Missionária

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https://youtu.be/S7x-GYma9zY - clicando nesse link você terá acesso ao canal do Ministério Águios.