quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Judas Iscariotes - Considerações sobre Mateus 27 - Parte 1


Vamos começar lendo o trecho a seguir:

De manhã cedo, todos os chefes dos sacerdotes e líderes religiosos do povo tomaram a decisão de condenar Jesus à morte. E, amarrando-o, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador. Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. E disse: "Pequei, pois traí sangue inocente". E eles retrucaram: "Que nos importa? A responsabilidade é sua". Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se. Os chefes dos sacerdotes ajuntaram as moedas e disseram: "É contra a lei colocar este dinheiro no tesouro, visto que é preço de sangue". Então decidiram usar aquele dinheiro para comprar o campo do Oleiro, para cemitério de estrangeiros. Por isso ele se chama campo de Sangue até o dia de hoje. Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias: "Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado pelo povo de Israel, e as usaram para comprar o campo do Oleiro, como o Senhor me ordenou. (Mateus 27:1-10)

Neste texto, vamos entender melhor o momento em que Judas "se arrepende" de ter traído Jesus. Esse é um dos assuntos polêmicos acerca da vida e morte do Messias, pois há duas correntes de pensamento acerca do que aconteceu com Judas, por ele ter traído o Cristo e depois ter desistido de viver.

A primeira corrente defende que Judas foi salvo, mesmo tendo atentado contra a própria vida, porque se arrependeu do que tinha feito. A segunda é que não houve salvação para ele, mesmo tendo se arrependido, porque cometeu suicídio. É bom lembrar que estas duas correntes são provenientes de julgamentos que se baseiam na "aparência da situação".

No entanto, ao julgarmos o acontecido pelos parâmetros da justiça de Deus, teremos uma ideia do que realmente se sucedeu. Para tanto, em primeiro lugar, levaremos em consideração as falas de Jesus e dos Apóstolos e o que a Lei Mosaica apresenta sobre esse caso específico.

Vale lembrar que, quando Judas traiu o Senhor e em seguida cometeu suicídio, a Lei Mosaica ainda estava em vigor, pois naquele momento o Messias não havia sido crucificado nem ressuscitado, e a segunda aliança entre Deus e os homens ainda não estava estabelecida.

Por isso, tudo o que ele fez, assim como tudo o que outras pessoas fizeram contra o Cristo naquele tempo, movidas por suas incredulidades à mensagem do Reino, será julgado por Deus segundo o rigor da Lei de Moisés. A mensagem de salvação – mensagem do Reino ou mensagem do Evangelho, como é mais conhecida –, já havia sido anunciada pelos antigos profetas (que foram assassinados pelo próprio povo de Israel!) até João Batista e, depois, foi proclamada pelo próprio Jesus.

Levando em consideração as palavras do Senhor Jesus, veremos que, apesar de ter-se arrependido do que fez, Judas Iscariotes "não deveria ter nascido", "era um diabo" e "se perdeu", e por isso sabemos que ele foi condenado, como veremos abaixo:

O Filho do homem vai, como está escrito a seu respeito. Mas ai daquele que trai o Filho do homem! Melhor lhe seria não haver nascido. (Mateus 26:24)

Então Jesus respondeu: "Não fui eu que os escolhi, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo!" (Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, que, embora fosse um dos Doze, mais tarde haveria de traí-lo) (João 6:70,71)

Enquanto estava com eles, eu os protegi e os guardei pelo nome que me deste. Nenhum deles se perdeu, a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se cumprisse a Escritura. (João 17:12)

Essas afirmações do Senhor Jesus, portanto, põem abaixo a crença de que Judas Iscariotes não foi salvo por ter se suicidado, pois antes mesmo de tirar a própria vida, ele já estava condenado. Contudo, é importante ressaltar que, ao contrário do que é ensinado por alguns, as profecias sobre Judas não significam que Deus determinou que ele se perdesse e o reservou para o inferno. Mas simplesmente mostram que o Pai já sabia o que aconteceria e assim o revelou.

Estar "destinado à perdição" significa que isso era o que aconteceria com Judas, por não ter crido em Cristo. Assim também todo aquele que crê será salvo, mas todo o que rejeitar o evangelho será condenado (Marcos 16:16). O destino de qualquer que rejeita a Cristo, pela incredulidade, está estabelecido por Deus, contudo não é Deus quem escolhe em nosso lugar, pois Deus é bom e deseja que todos se salvem (1 Timóteo 2:4).

Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. (João 3:18)

Agora, examinando a Lei Mosaica, encontramos o seguinte, sobre esse assunto:

Não se envolva em falsas acusações nem condene à morte o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado. Não aceite suborno, pois o suborno cega até os que têm discernimento e prejudica a causa do justo. (Êxodo 23:7,8)

Há algo sobre o arrependimento de Judas que devemos notar: aquele remorso não foi proveniente da fé naquilo que Jesus estava anunciando, que era a mensagem do Reino de Deus, mas vinha de si mesmo ou de sua carne.

Judas não conseguiu ver Jesus como o Messias, pois não acreditava nas Escrituras nem aceitou ou concordou com o que Ele anunciou. Se tivesse sido assim, ele não teria traído o Cristo, mas teria se juntado aos demais Apóstolos, para esperar o cumprimento dos avisos dados pelo Senhor.

E sobre o remorso que Judas sentiu e que o fez procurar suicídio, temos uma explicação na própria Bíblia sobre isso. O Apóstolo Paulo fala bem sobre esse assunto, como veremos a seguir:

A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte. (2 Coríntios 7:9)

No capítulo 26 de Mateus, vemos que um outro discípulo falhou com Jesus no momento em que Ele foi preso, não cumprindo sua promessa de lealdade para com o Senhor, e, quando reconheceu seu erro, ficou demasiadamente amargurado. No entanto, sua culpa não o fez se separar dos demais ou procurar tirar sua própria vida.

Ao invés de trilhar o mesmo caminho de Judas, aquele homem aceitou o perdão de Deus e simplesmente continuou junto aos que tinham fé em Cristo, se esforçando para atender o chamado de Deus para sua vida. Nos quatro Evangelhos há relatos similares do que aconteceu com ele. Esse homem foi Simão Pedro.

O arrependimento desse discípulo se deu por causa de sua fé na mensagem do Reino, por isso continuou firme. Ele creu realmente em Jesus e foi convencido de seu erro pelas palavras que ouviu de seu mestre antes d'Ele ser preso. E esse mesmo discípulo de Cristo foi usado por Deus para orientar as pessoas com relação à lacuna que Judas deixou, na primeira formação da igreja:

Naqueles dias Pedro levantou-se entre os irmãos, um grupo de cerca de cento e vinte pessoas, e disse: "Irmãos, era necessário que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse por boca de Davi, a respeito de Judas, que serviu de guia aos que prenderam Jesus. Ele foi contado como um dos nossos e teve participação neste ministério". (Com a recompensa que recebeu pelo seu pecado, Judas comprou um campo. Ali caiu de cabeça, seu corpo partiu-se ao meio, e as suas vísceras se derramaram. Todos em Jerusalém ficaram sabendo disso, de modo que, na língua deles, esse campo passou a chamar-se Aceldama, isto é, campo de Sangue.) "Porque", prosseguiu Pedro, "está escrito no Livro de Salmos: ‘Fique deserto o seu lugar, e não haja ninguém que nele habite’; e ainda: ‘Que outro ocupe o seu lugar’. (...) Então indicaram dois nomes: José, chamado Barsabás, também conhecido como Justo, e Matias. Depois oraram: "Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tens escolhido para assumir este ministério apostólico que Judas abandonou, indo para o lugar que lhe era devido". Então tiraram sortes, e a sorte caiu sobre Matias; assim, ele foi acrescentado aos onze apóstolos. (Atos 1:15-26)

Pedro se guiou pelas profecias contidas nas escrituras, para escolher alguém dentre os que estavam perto para substituir Judas, e ele fez isso porque cria no conteúdo da Torah, pois entendeu que ele é verdadeiro.

Nos salmos de Davi, citados por Pedro, podemos encontrar diversos trechos falando de Cristo, e também encontramos trechos que falam sobre o que aconteceria a Judas:

Fique deserto o lugar deles; não haja ninguém que habite nas suas tendas. (Salmos 69:25)

Seja a sua vida curta, e outro ocupe o seu lugar. (Salmos 109:8)

Ora, Judas sabia que Jesus era inocente, mas não resistiu à oportunidade de ganhar dinheiro através do ódio que as lideranças religiosas de Israel tinham do Senhor. Ele simplesmente se aproveitou da situação para lucrar.

E quando se encheu de remorso, ele avisou às lideranças que Jesus era inocente, antes de cometer suicídio, e rejeitou as trinta moedas de prata que tinha recebido, porém isso não o justificou diante do Pai, porque ele não creu na mensagem de salvação.

Uma curiosidade: de acordo com o trecho do Evangelho de Mateus que estamos estudando, a profecia que se refere às trinta moedas de prata, pagas a Judas pela vida de Jesus, foi feita pelo profeta Jeremias. 

No entanto, esse profeta cita a "casa do oleiro" e não o "campo do oleiro", de forma que não encontramos no livro de Jeremias nenhuma menção a esse campo ou às trinta moedas de prata. Se alguma palavra foi proferida por esse profeta sobre esse assunto, provavelmente se perdeu. Contudo, no livro do profeta Zacarias há uma menção similar, como veremos abaixo:

Eu lhes disse: Se acharem melhor assim, paguem-me; se não, não me paguem. Então eles me pagaram trinta moedas de prata. E o Senhor me disse: "Lance isto ao oleiro", o ótimo preço pelo qual me avaliaram! Por isso tomei as trinta moedas de prata e as atirei no templo do Senhor para o oleiro. (Zacarias 11:12,13)

Missionária Oriana Costa