terça-feira, 14 de junho de 2022

João Batista, a voz que clama - Considerações sobre Mateus capítulo 3 - Parte 1


Aqui vamos analisar o trecho do terceiro capítulo do Evangelho de Mateus onde João Batista é citado. 

Antes de seguirmos com nosso estudo, vamos falar um pouco da preparação para a chegada do bebê João Batista e lembrar como foi seu nascimento. Ele era primo em segundo grau de Jesus pelo lado materno, pois Isabel (ou Elisabete segundo a versão King James), sua mãe, era prima em primeiro grau de Maria, mãe de Jesus, segundo os relatos das versões King James e Almeida corrigida fiel. 

Assim como Jesus foi gerado no ventre de Maria de forma sobrenatural, a concepção de João Batista também aconteceu pelo poder de Deus, pois sua mãe era estéril e já tinha idade avançada. E assim como Maria recebeu a visita de um anjo que veio avisá-la do que estava para acontecer, Zacarias, que era o pai de João, também recebeu a visita do mesmo anjo, que lhe falou sobre a gravidez de Isabel. Vejamos o relato abaixo, que é encontrado somente no Evangelho de Lucas:

"No tempo de Herodes, rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias, que pertencia ao grupo sacerdotal de Abias; Isabel, sua mulher, também era descendente de Arão. Ambos eram justos aos olhos de Deus, obedecendo de modo irrepreensível a todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas eles não tinham filhos, porque Isabel era estéril; e ambos eram de idade avançada. Certa vez, estando de serviço o seu grupo, Zacarias estava servindo como sacerdote diante de Deus. (...) Então um anjo do Senhor apareceu a Zacarias, à direita do altar do incenso. Quando Zacarias o viu, perturbou-se e foi dominado pelo medo. Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Zacarias; sua oração foi ouvida. Isabel, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe dará o nome de João. Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão por causa do nascimento dele, pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor". Zacarias perguntou ao anjo: "Como posso ter certeza disso? Sou velho, e minha mulher é de idade avançada". O anjo respondeu: "Sou Gabriel, o que está sempre na presença de Deus. Fui enviado para lhe transmitir estas boas novas. Agora você ficará mudo. Não poderá falar até o dia em que isso acontecer, porque não acreditou em minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno". (...) Depois disso, Isabel, sua mulher, engravidou e durante cinco meses não saiu de casa. E ela dizia: "Isto é obra que o Senhor fez! Agora ele olhou para mim com favor, para desfazer a minha humilhação perante o povo."(Lucas 1:5-25)

Quando Isabel estava no sexto mês de gestação, Maria, que era virgem e estava em Nazaré, engravidou pelo poder de Deus (Lc 1:26-38). E ela só soube da gravidez de sua prima por ter sido avisada pelo anjo Gabriel, que também lhe apareceu, assim como apareceu ao sacerdote Zacarias. Assim, Maria decidiu ir averiguar a situação, e viajou para a Judéia a fim de visitar sua prima, como veremos no trecho abaixo:

"Naqueles dias, Maria preparou-se e foi depressa para a uma cidade da região montanhosa da Judéia, onde entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: "Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz! Mas por que sou tão agraciada, a ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!" (Lucas 1:39-45)

João Batista, portanto, nasceu primeiro que Jesus. No dia da sua apresentação no templo e circuncisão, que segundo os costumes judaicos acontece ao oitavo dia de nascido dos meninos (veja em Gn 17:10-13), Zacarias, seu pai, voltou a falar sobrenaturalmente. Vejamos o trecho abaixo, segundo o relato de Lucas:

"Ao se completar o tempo de Isabel dar à luz, ela teve um filho. Seus vizinhos e parentes ouviram falar da grande misericórdia que o Senhor lhe havia demonstrado e se alegraram com ela. No oitavo dia foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias; mas sua mãe tomou a palavra e disse: "Não! Ele será chamado João". Disseram-lhe: "Você não tem nenhum parente com esse nome". Então fizeram sinais ao pai do menino, para saber como queria que a criança se chamasse. Ele pediu uma tabuinha e, para admiração de todos, escreveu: "O nome dele é João". Imediatamente sua boca se abriu, sua língua se soltou e ele começou a falar, louvando a Deus. Todos os vizinhos ficaram cheios de temor, e por toda a região montanhosa da Judéia se falava sobre essas coisas. Todos os que ouviam falar disso se perguntavam: "O que vai ser este menino?" Pois a mão do Senhor estava com ele. Seu pai, Zacarias, foi cheio do Espírito Santo e profetizou: (...) E você, menino, será chamado profeta do Altíssimo, pois irá adiante do Senhor, para lhe preparar o caminho, para dar ao seu povo o conhecimento da salvação, mediante o perdão dos seus pecados, por causa das ternas misericórdias de nosso Deus, pelas quais do alto nos visitará o sol nascente para brilhar sobre aqueles que estão vivendo nas trevas e na sombra da morte, e guiar nossos pés no caminho da paz". E o menino crescia e se fortalecia no espírito; e viveu no deserto, até aparecer publicamente a Israel. (Lucas 1:57-80)

Uma curiosidade: muito provavelmente, Maria esteve presente no nascimento de João Batista, e também testemunhou o que aconteceu no dia de sua apresentação no templo, pois a duração da visita que fez a sua prima foi cerca de três meses, que era o tempo que restava até que Isabel desse à luz o futuro profeta João Batista (veja em Lc 1:56). 

Agora, vamos analisar aquilo que o Evangelho de Mateus mostra sobre o ministério de João Batista, comparando também com as informações complementares contidas nos outros três evangelhos. Vejamos o trecho abaixo:

"Naqueles dias surgiu João Batista, pregando no deserto da Judéia. Ele dizia: "Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo". Este é aquele que foi anunciado pelo profeta Isaías: "Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele’". As roupas de João eram feitas de pêlos de camelo, e ele usava um cinto de couro na cintura. O seu alimento era gafanhotos e mel silvestre. A ele vinha gente de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região ao redor do Jordão. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. Quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde ele estava batizando, disse-lhes: "Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima? Dêem fruto que mostre o arrependimento! Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. "Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga." (Mateus 3:1-12)

Sobre o trecho do profeta Isaías que fala do momento em que João Batista anunciaria a chegada do Messias, vejamos abaixo:

"Consolem, consolem o meu povo, diz o Deus de vocês. Encoragem a Jerusalém e anunciem que ela já cumpriu o trabalho que lhe foi imposto, pagou por sua iniqüidade, e recebeu da mão do Senhor em dobro por todos os seus pecados. Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus. Todos os vales serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se tornarão planos; as escarpas, serão niveladas. A glória do Senhor será revelada, e, juntos, todos a verão. Pois é o Senhor quem fala"." (Isaías 40:1-5)

Ainda nesse mesmo capítulo do livro do profeta Isaías, também podemos ler:

"Você, que traz boas novas a Sião, suba num alto monte. Você, que traz boas novas a Jerusalém, erga a sua voz com fortes gritos, erga-a, não tenha medo; diga às cidades de Judá: "Aqui está o seu Deus!" O Soberano Senhor vem com poder! Com seu braço forte ele governa. A sua recompensa com ele está, e seu galardão o acompanha. Como pastor ele cuida de seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas crias." (Isaías 40:9-11)

Assim como os trechos acima, existem outros no Antigo Testamento que falam da vinda de João Batista a fim de preparar Israel para receber o Cristo, como podemos ler em Salmos 85:12,13. Alguns parágrafos abaixo também veremos outra referência, no livro do profeta Malaquias, que também avisa sobre o mensageiro João.

João iniciou seu trabalho na cidade de Betânia, na região da Judéia, proclamando a chegada do Reino dos céus (ou Reino de Deus) para os israelitas, e isso tinha a ver com a proximidade da iniciação do ministério de Jesus em Israel. Até aquele momento, o Cristo vivia ocultado de todos, mas a partir da hora em que o profeta João passou a anunciá-lo, o nosso Salvador começou a ficar conhecido.

No Evangelho de Marcos, há um trecho similar ao que lemos em Mateus, com uma informação adicional:

"Conforme está escrito no profeta Isaías: "Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele preparará o teu caminho"— "voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele’ ". Assim surgiu João, batizando no deserto e pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. A ele vinha toda a região da Judéia e todo o povo de Jerusalém. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão." (Marcos 1: 2-5)

No trecho acima, na verdade, não existe apenas a citação do profeta Isaías, que também aparece no Evangelho de Mateus, mas antes dela há uma citação do profeta Malaquias, que tanto se refere à vinda de João Batista quanto à chegada do Messias:

"Vejam, eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, aquele que vocês desejam, virá", diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 3:1)

Lendo o Evangelho de Lucas, encontramos ainda outras informações sobre quem eram os governadores romanos de cada região de Israel, e quem eram os sumos sacerdotes no trabalho templário quando o profeta João Batista apareceu anunciando a vinda do Messias:

"No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia; Herodes, tetrarca da Galiléia; seu irmão Filipe, tetrarca da Ituréia e Traconites; e Lisânias, tetrarca de Abilene; Anás e Caifás exerciam o sumo sacerdócio. Foi nesse ano que veio a palavra do Senhor a João, filho de Zacarias, no deserto. Ele percorreu toda a região próxima ao Jordão, pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. Como está escrito no livro das palavras de Isaías, o profeta: "Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele. Todo vale será aterrado e todas as montanhas e colinas, niveladas. As estradas tortuosas serão endireitadas e os caminhos acidentados, aplanados. E toda a humanidade verá a salvação de Deus’"." (Lucas 3:1-6)

No trecho do Evangelho de Mateus que lemos alguns parágrafos acima, observamos que muitos israelitas estavam recebendo a mensagem de João, pois criam nas profecias que avisavam sobre a vinda do Messias. No meio dessas pessoas que vinham procurar o profeta, também estavam os fariseus e saduceus. 

Ao vê-los, João ficou indignado, chamando-os de "raça de viboras", porque eles agiam traiçoeiramente. Ao se declararem servos do Senhor, contudo, rejeitando e distorcendo muitas de suas ordenanças e ensinando o povo a fazer o mesmo, mais tarde eles iriam incitar as pessoas a odiar, perseguir e desejar a morte de Jesus. Contudo, não foram somente os fariseus e saduceus que procuraram o profeta, mas também os sacerdotes e levitas o fizeram, segundo observamos no Evangelho de João, como veremos a seguir.

"Esse foi o testemunho de João, quando os judeus de Jerusalém enviaram sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem ele era. Ele confessou e não negou; declarou abertamente: "Não sou o Cristo". Perguntaram-lhe: "E então, quem é você? É Elias?" Ele disse: "Não sou". "É o Profeta?" Ele respondeu: "Não". Finalmente perguntaram: "Quem é você? Dê-nos uma resposta, para que a levemos àqueles que nos enviaram. Que diz você acerca de si próprio?" João respondeu com as palavras do profeta Isaías: "Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Façam um caminho reto para o Senhor’ ". Alguns fariseus que tinham sido enviados interrogaram-no: "Então, por que você batiza, se não é o Cristo, nem Elias, nem o Profeta?" Respondeu João: "Eu batizo com água, mas entre vocês está alguém que vocês não conhecem. Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias não sou digno de desamarrar". Tudo isso aconteceu em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando." (João 1:19-28)

De fato, João era um profeta, conforme o próprio Cristo confirmou (Mateus 11:8,9), mas não "o profeta" ao qual os fariseus se referiam. Equivocadamente, as lideranças religiosas de Israel acreditavam que alguém semelhante ao próprio Moisés viria para anunciar a chegada do Messias, por causa de um determinado episódio que podemos ler no livro de Deuteronômio:

"O Senhor, o seu Deus, levantará do meio de seus próprios irmãos um profeta como eu; ouçam-no. Pois foi isso que pediram ao Senhor, ao seu Deus, em Horebe, no dia em que se reuniram, quando disseram: "Não queremos ouvir a voz do Senhor, do nosso Deus, nem ver o seu grande fogo, se não morreremos!" O Senhor me disse: "Eles têm razão! Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas." (Deuteronômio 18:15-19)

O problema dos fariseus com o trecho acima é que eles pensaram que "o profeta" ao qual Moisés se referiu era o mesmo mensageiro que viria antes do Messias para anunciar a Sua chegada. No entanto, esse profeta descrito em Deuteronômio está se referindo ao próprio Cristo.

Por causa desse equívoco, muitos acreditavam que Jesus Cristo era esse tal profeta que os fariseus imaginavam, ou mesmo mais outro enviado como um dos antigos profetas, como podemos ver em alguns trechos dos evangelhos (Mateus 21:10,11; Marcos 6:15), e não acreditavam que Jesus era o Messias que eles deveriam estar aguardando. 

No livro de Atos, um dos discípulos que ajudavam os Apóstolos no trabalho de distribuição de mantimentos para as viúvas e órfãos, chamado Estêvão, antes de ser assassinado por apedrejamento pelos fariseus, falou-lhes quem era o profeta sobre o qual Moisés se referiu:

"Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis." (Atos 7:37, ACF)

Agora vamos analisar algumas falas do profeta João Batista, como, por exemplo, "Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga", ao falar de Jesus. Tais palavras não são necessariamente a citação de alguma profecia específica do Antigo Testamento, no entanto, é uma compilação de alguns trechos de várias partes proféticas das escrituras que se relacionam a Cristo. 

Duas palavras dadas aos israelitas, uma dada pelo profeta Malaquias e outra pelo profeta Oséias, se enquadram na mensagem da "pá e do fogo que nunca se apaga":

"Pois certamente vem o dia, ardente como uma fornalha. Todos os arrogantes e todos os malfeitores serão como palha, e aquele dia, que está chegando, ateará fogo neles", diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 4:1)

"Por isso levarei o meu trigo quando ele ficar maduro, e o meu vinho quando ficar pronto. Arrancarei dela minha lã e meu linho, que serviam para cobrir a sua nudez." (Oséias 2:9)

Quanto as palavras "o machado está posto à raiz das árvores...", muito provavelmente está fazendo alusão a um trecho do livro do profeta Isaías, que diz:

"Vejam! O Soberano, o Senhor dos Exércitos, cortará os galhos com grande força. As árvores altivas serão derrubadas, as altas serão lançadas por terra. Com um machado ele ceifará a floresta; o Líbano cairá diante do Poderoso." (Isaías 10:33,34)

Com relação à vestimenta do profeta e seus hábitos alimentares, descritos em Mateus 3:4 e Marcos 1:6, são informações importantes para entendermos onde João Batista morava ou mesmo passava a maior parte do seu tempo. As roupas e alimentos consumidos pelo profeta eram característicos de alguém que vivia no campo, afastado da parte mais urbana das cidades da Judéia. Os pastores de ovelhas daquela época, por exemplo, tinham hábitos similares aos de João.

Algumas pessoas costumam interpretar que a palavra "gafanhotos" relacionada a um dos alimentos que João Batista comia regularmente, está se referindo a um alimento vegetal e não a um inseto, como a própria palavra sugere, e que o profeta era vegetariano. Porém, essas informações não são verdadeiras. Vejamos esse mesmo trecho de Mateus 3:4 na versão King James:

"E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos, e o seu alimento era locustas e mel silvestre." 

O significado da palavra "locusta", de acordo com o Dicio (Dicionário On Line de Português) é "grande gafanhoto do gênero Locusta, com uma única espécie, largamente conhecido por destruir plantas e plantações; gafanhoto-do-deserto".

A palavra usada no original grego nesse trecho da escritura é ἀκρίς - cuja pronúncia é "akris", e signigica literalmente "gafanhoto", um inseto que é comum em países orientais e, quando infesta esses locais, é capaz de destruir plantações e árvores.

Então, as escrituras bíblicas nas suas mais variadas versões estão sendo claras em nossa língua, quando falam que o profeta João Batista comia realmente um inseto comum da sua região, chamado gafanhoto.

Para finalizar nosso estudo, agora vamos fazer uma análise sobre qual era a missão de João Batista, que estava diretamente ligada à mensagem que ele ia divulgando. Quando o anjo Gabriel apareceu a Zacarias para anunciar a gravidez de sua esposa Isabel, ele avisou para quê aquele bebê havia sido chamado por Deus:

"Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor."(Lucas 1:15-17)

Ao falar com Zacarias naquele momento, o anjo cita um trecho do livro do profeta Malaquias, que diz:

"Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes do grande e terrível dia do Senhor. Ele fará com que os corações dos pais se voltem para seus filhos, e os corações dos filhos para seus pais; do contrário eu virei e castigarei a terra com maldição." (Malaquias 4:5,6)

Portanto, a missão de João Batista era preparar os israelitas e também os prosélitos da fé judaica que estavam em Israel, para receber a justificação de seus pecados a fim de poderem entrar no Reino dos céus. Ele cumpria esse chamado avisando e conscientizando as pessoas de que todos estavam transgredindo a reta justiça de Deus, e que, por isso, precisavam se arrepender sinceramente, e buscar se adequar a ela de todo o coração. Abaixo segue um trecho do Evangelho de Lucas onde vemos um pouco do que o profeta dizia ao povo:

"João dizia às multidões que saíam para serem batizadas por ele: "Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima? Dêem frutos que mostrem o arrependimento. E não comecem a dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo". "O que devemos fazer então? ", perguntavam as multidões. João respondia: "Quem tem duas túnicas reparta-as com quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo". Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: "Mestre, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não cobrem nada além do que lhes foi estipulado". Então alguns soldados lhe perguntaram: "E nós, o que devemos fazer? " Ele respondeu: "Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário". O povo estava em grande expectativa, questionando em seus corações se acaso João não seria o Cristo." (Lucas 3:7-18)

Lembrando que, complementando a descrição contida em Lucas, conforme vimos parágrafos acima no Evangelho de Mateus, João não chamou todos os que vinham até ele de "raça de viboras", mas somente aqueles que exerciam influência no meio do povo, que eram os fariseus e saduceus.

Como o profeta João era cheio do Espírito Santo e tinha a mesma unção do profeta Elias, ele não somente falava ao povo com ousadia e autoridade, como também certamente muitos sinais sobrenaturais aconteciam conforme ele seguia fazendo seu trabalho, e isso fazia com que o povo acreditasse nele, provavelmente pensando que ele fosse mesmo o Messias, apesar dele avisar que não era.

No Evangelho de João, encontramos também um trecho que confirma o chamado de Deus para João Batista:

"Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João. Ele veio como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem. Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz. (...) João dá testemunho dele. Ele exclama: "Este é aquele de quem eu falei: Aquele que vem depois de mim é superior a mim, porque já existia antes de mim". (...) Esse foi o testemunho de João, quando os judeus de Jerusalém enviaram sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem ele era. Ele confessou e não negou; declarou abertamente: Não sou o Cristo." (João 1:6-20)

O batismo feito por João nas águas do rio Jordão era um sinal de Deus dado através do profeta que apontava o momento em que as pessoas se arrependiam sinceramente de seus pecados, ao ouvirem João falar dos preceitos do Reino de Deus, e também que elas estavam se dispondo a receber o Messias que estava chegando ali naquele momento para justificá-los diante do Pai, perdoando-lhes, assim, os seus pecados.

O batismo nas águas, portanto, não tem poder de justificar qualquer pessoa diante do Pai, mas simboliza que esse alguém decidiu iniciar o processo de conversão da maldade do mundo para os preceitos da justiça de Deus, os quais embasam a fé cristã verdadeira.

No evangelho de João (Jo 3:22) consta a informação de que Jesus Cristo também seguiu com o ritual de batismo, fazendo descer às águas todos os que escolhiam seguí-lo, e isso sugere que os doze apóstolos de Jesus foram todos batizados por imersão, a maioria deles pelo próprio Jesus, na região da Judéia. Dois deles, que seguiam o profeta João Batista antes de seguirem a Cristo, certamente devem ter sido batizados pelo profeta João, e um deles era André, irmão de Pedro (veja em Jo 1:40)

Esse mesmo batismo por imersão continua sendo tradicionalmente feito até hoje, porém, como cumprimento de uma ordem dada pelo próprio Jesus Cristo ressurreto, antes de sua ascenção aos céus (veja em Mt 28:19). 

Desta forma, na maioria das denominações cristãs evangélicas, quando pessoas creem na mensagem de salvação e por isso se arrependem verdadeiramente dos seus pecados, decidindo receber o governo do Senhor Jesus sobre suas vidas, elas são batizadas mergulhando rapidamente todo o corpo em água, como testemunho público de suas conversões à fé cristã. 

Missionária Oriana Costa.