sábado, 5 de novembro de 2022

Sigam-me - Considerações sobre Mateus capítulo 4 - Parte 3


Dando continuidade ao nosso estudo do Evangelho de Mateus, vamos analisar o período em que o Senhor Jesus começa a formar sua equipe, fazendo seus primeiros discípulos e, em seguida, escolhendo dentre eles aqueles que dariam continuidade ao trabalho de divulgação da mensagem do Reino e do cuidado daqueles que fossem se juntando à família de Deus.

Nessa fase Jesus viaja bastante, visita muitas cidades e povoados, entra nas sinagoas para ensinar, como também ensina às multidões em acampamentos, e, nesse processo, realiza muitos milagres por onde vai passando. Nos estudos seguintes veremos esses acontecimentos com mais detalhes.

Voltando para nossa análise, vamos entender como Jesus formou sua equipe de doze apóstolos. Mas, antes de prosseguir, é bom entendermos que a palavra "apóstolo" significa aquele que se dedica à defesa e propagação de uma doutrina ou de um ideal. E a palavra "discípulo" significa aprendiz, aluno receptivo a ensinamentos.

As palavras "apóstolo" e "discípulo" não são usadas unicamente no âmbito religioso, mas em quaisquer assuntos seculares em que alguém se dispõe a propagar determinados conceitos ou conhecimentos ainda desconhecidos ou não dominados pela maioria das pessoas, no caso do nome "apóstolo", e quando pessoas resolvem seguir determinado propagador de conceitos, doutrinas, filosofias ou conhecimentos, no caso do nome "discípulos".

Os apóstolos de Jesus Cristo, que também eram discípulos dele, foram preparados pelo Senhor para continuar a propagar oficialmente a mensagem do Reino de Deus como autoridades designadas pelo próprio Deus, depois de sua ascenção aos céus, e os demais discípulos, por conseguinte, seguiam aprendendo os preceitos do Reino e como praticá-los.

Então, voltando para a análise do Evangelho de Mateus, ao deixar Nazaré, a cidade onde morou desde a infância, para fixar residência em Carfanaum com sua mãe e seus irmãos (Mt 4:13-16), Jesus continua o trabalho de anunciação do Seu Reino, e segue atraindo muitos seguidores. 

Lembrando aqui que a cidade natal de Jesus não foi Nazaré, que ficava na província da Galiléia e sim Belém, situada na província da Judéia, e essa informação ficou esquecida durante o período do ministério de Jesus Cristo. Como Ele foi criado e morou até a fase adulta em Nazaré, era conhecido como Jesus de Nazaré e isso escondia dos judeus/fariseus que Ele era o Cristo, e que seu nascimento ocorreu conforme o que já estava predito nas escrituras em Miquéias 5:2.

Prosseguindo com nosso estudo, vejamos a seguir o que aconteceu no período em que Jesus sai de Nazaré para morar em Carfanaum:

"Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo". Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram. Indo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Eles estavam num barco com seu pai, Zebedeu, preparando as suas redes. Jesus os chamou, e eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, o seguiram. E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava. E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão."(Mateus 4:17-25)

Os outros três evangelhos fornecem informações complementares ao de Mateus, de como Cristo foi escolhendo dentre seus primeiros discípulos, aqueles que aprenderiam mais sobre o Reino de Deus a fim de anunciá-lo - veja em Marcos 1:14 até Marcos 3:19, Lucas 4:14 até Lucas 6:11 e João 1:35 até o capítulo 3.

Como os trechos para análise são muito longos, não serão todos transcritos aqui no nosso texto, mas vamos seguir comentando os acontecimentos por meio de uma comparação detalhada entre eles. 

O Evangelho de Marcos confirma o conteúdo do Evangelho de Mateus, onde Cristo, após deixar o deserto da Judéia, se dirigiu à região costeira da Galiléia a fim de chamar os dois irmãos filhos do pescador Jonas, André e Simão, e em seguida chamar mais outros dois irmãos, filhos do pescador Zebedeu, Tiago e João. 

Também nesse Evangelho vemos que Jesus chamou em Carfanaum a Levi (Mateus), filho de Alfeu, que era um publicano ou cobrador de impostos. No momento em que foi chamado por Cristo, Levi estava sentado na coletoria, o local onde os impostos dos israelitas eram recolhidos (veja também em Mt 9:9, Lc 5:27-29). 

Por fim, no capítulo 3 de Marcos, vemos que o Senhor Jesus sobe em um determinado monte para orar (o nome do monte não é falado no texto - veja também no capítulo 10 de Mateus e em Lucas 6:12-16) e ali nomeia oficialmente os seus doze apóstolos, dentre a multidão de discípulos que já o seguia voluntariamente, vindas de vários locais de Israel e de cidades circunvizinhas. 

Agora vejamos algumas curiosidades sobre como os discípulos que mais tarde formariam a equipe de 12 apóstolos foram chamados. De acordo com o relato dos Evangelhos, os nomes deles são Simão (Pedro, filho de Jonas) e seu irmão André, Tiago (filho de Zebedeu) e seu irmão João, Filipe, Bartolomeu (Natanael), Tomé (Dídimo), Mateus (Levi), Tiago (filho de Alfeu) e seu irmão Judas, Simão (Zelote) e Judas Iscariotes.

Ao lermos o Evangelho de João, encontraremos ainda outras informações adicionais, que detalham um pouco mais como foi que os primeiros discípulos conheceram o Senhor Jesus, e como passaram a seguir seus ensinamentos (sem ainda terem sido chamados pessoalmente por Ele):

"No dia seguinte João estava ali novamente com dois dos seus discípulos. Quando viu Jesus passando, disse: "Vejam! É o Cordeiro de Deus!" Ouvindo-o dizer isso, os dois discípulos seguiram a Jesus. Voltando-se e vendo Jesus que os dois o seguiam, perguntou-lhes: "O que vocês querem?" Eles disseram: "Rabi", (que significa Mestre), "onde estás hospedado?" Respondeu ele: "Venham e verão". Então foram, por volta das quatro horas da tarde, viram onde ele estava hospedado e passaram com ele aquele dia. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido o que João dissera e que haviam seguido a Jesus. O primeiro que ele encontrou foi Simão, seu irmão, e lhe disse: "Achamos o Messias" (isto é, o Cristo). E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: "Você é Simão, filho de João. Será chamado Cefas" (que significa Pedro). No dia seguinte Jesus decidiu partir para a Galiléia. Quando encontrou Filipe, disse-lhe: "Siga-me". Filipe, como André e Pedro, era da cidade de Betsaida. Filipe encontrou Natanael e lhe disse: "Achamos aquele sobre quem Moisés escreveu na Lei, e a respeito de quem os profetas também escreveram: Jesus de Nazaré, filho de José". Perguntou Natanael: "Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?" Disse Filipe: "Venha e veja". Ao ver Natanael se aproximando, disse Jesus: "Aí está um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade"." (João 1:35-47)

Após uma leitura minuciosa dos quatro evangelhos vamos descobrir que Cristo não saiu chamando os seus discípulos mais  chegados sem conhecê-los previamente. Pelo menos dois deles, como é o caso dos filhos do pescador Jonas, André e Simão (Pedro), por exemplo, já conheciam Jesus pessoalmente antes dele passar os quarenta dias no deserto da Judéia, como sugere o Evangelho de João. 

Ao ler os evangelhos de Mateus e Marcos temos a impressão de que Jesus não tinha contato com seus primeiros discípulos antes de chamá-los, visto que o relato desse acontecimento se encontra bem resumido nesses dois primeiros evangelhos, com poucos detalhes. 

No entanto, conferindo o evangelho de Lucas, encontraremos um trecho interessante, mostrando como foi que André, Pedro, Tiago e João foram convencidos a deixar seus trabalhos de pescadores para atender o chamado de Jesus e seguí-lo. Vejamos o relato a seguir:

"Certo dia Jesus estava perto do lago de Genesaré, e uma multidão o comprimia de todos os lados para ouvir a palavra de Deus. Viu à beira do lago dois barcos, deixados ali pelos pescadores, que estavam lavando as suas redes. Entrou num dos barcos, o que pertencia a Simão, e pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia. Então sentou-se, e do barco ensinava o povo. Tendo acabado de falar, disse a Simão: "Vá para onde as águas são mais fundas", e a todos: "Lancem as redes para a pesca". Simão respondeu: "Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes". Quando o fizeram, pegaram tal quantidade de peixe que as redes começaram a rasgar-se. Então fizeram sinais a seus companheiros no outro barco, para que viessem ajudá-lo; e eles vieram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase começarem a afundar. Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus e disse: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!" Pois ele e todos os seus companheiros estavam perplexos com a pesca que haviam feito, como também Tiago e João, os filhos de Zebedeu, sócios de Simão. Então Jesus disse a Simão: "Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens". Eles então arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram." (Lucas 5:1-11)

O trecho acima mostra que os referidos discípulos já conheciam e seguiam Jesus antes desse acontecimento, sem, no entanto, serem muito próximos dele. 

Curiosamente, os Evangelhos de Mateus e Marcos passam a ideia de que logo após ser batizado por João Batista em Betânia, o Senhor foi para o deserto sem seguidores, e que, ao sair de lá, Ele soube que João estava preso e seguiu para Nazaré, cidade onde morava com sua família, e prosseguiu ainda sem seguidores. 

Porém, notamos que os evangelhos não deixam claro quanto tempo demorou entre o batismo de Jesus e sua ida ao deserto, e quanto tempo levou para que o Senhor ficasse sabendo que João tinha sido preso após ter saído do deserto da Judéia. Nesses intervalos, que podem ter durado uma semana ou mais, Jesus prosseguiu anunciando o Seu Reino e atraindo muitos seguidores onde passava.

Então, a narrativa contida entre os versículos 35 e 39 do primeiro capítulo do Evangelho de João aponta para um possível acontecimento anterior ao momento do deserto, e, por conseguinte, mostra que André e Simão provavelmente tiveram um encontro prévio com Jesus antes de serem convidados pessoalmente pelo Senhor a seguí-lo de perto, à beira do lago de Genesaré.

Quando o Senhor foi chamando pessoalmente aqueles que iriam fazer parte de sua equipe oficial de discípulos, tais individuos, juntos a um grande grupo de pessoas, provavelmente já acompanhavam assiduamente o seu trabalho.

Para fechar nosso estudo, vejamos os trechos biblicos onde somos informados que Jesus Cristo, após ser batizado por João Batista, atraiu um grande número de seguidores e não saiu batizando-os diretamente, assim como João fazia. No entanto, o Senhor autorizou seus discípulos a batizarem, conforme vemos abaixo:  

"Depois disso Jesus foi com os seus discípulos para a terra da Judéia, onde passou algum tempo com eles e batizava. João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e o povo vinha para ser batizado. (Isto se deu antes de João ser preso.) Surgiu uma discussão entre alguns discípulos de João e um certo judeu, a respeito da purificação cerimonial. Eles se dirigiram a João e lhe disseram: "Mestre, aquele homem que estava contigo no outro lado do Jordão, do qual testemunhaste, está batizando, e todos estão se dirigindo a ele"."(João 3:22-26)

"Os fariseus ouviram falar que Jesus estava fazendo e batizando mais discípulos do que João, embora não fosse Jesus quem batizasse, mas os seus discípulos. Quando o Senhor ficou sabendo disso, saiu da Judéia e voltou uma vez mais à Galiléia." (João 4:1-3)

Com todas essas informações, concluímos que Jesus Cristo realmente já estava atraindo muitos seguidores ou discípulos logo após ser batizado por João Batista, provavelmente antes mesmo de passar os quarenta dias no deserto ou de iniciar a realização de milagres, por causa do Seu ensino.

Missionária Oriana Costa 

Postagem publicada em 30/12/2022