sábado, 6 de março de 2021

Ele não é Deus de mortos, mas de vivos!


Vamos estudar uma passagem bastante interessante, encontrada no evangelho de Mateus, capítulo 22, versos 23 ao 33. Nesse episódio, o Senhor Jesus continua sendo abordado pelas lideranças religiosas em Jerusalém, alguns dias antes de sua prisão e crucificação, e dessa vez Ele enfrenta os "saduceus".

Antes de iniciarmos nossa análise, é bom termos uma ideia de quem eram as pessoas que estavam falando com o Cristo naquele momento.

Os saduceus formavam uma seita que nasceu entre os judeus, onde especialmente não se acreditava na ressurreição dos mortos. Esse grupo de pessoas era composto pela classe mais alta de Israel, assim participavam dele muitos sacerdotes. Saduceus e fariseus estavam sempre em conflito por diversas causas, dentre elas devido às divergências doutrinárias e políticas que haviam entre eles.

A negação da ressurreição pelos saduceus mostra que esse grupo de pessoas não considerava tudo o que estava na Torah, assim como acontecia com os fariseus. De fato, eles estavam negando abertamente vários trechos das escrituras que apontam a existência da ressurreição, assim como os que podemos ler a seguir:

Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu. E Elias tomou o menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu à sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu filho vive. (1Reis 17:21-23)
Depois morreu Eliseu, e o sepultaram. Ora, as tropas dos moabitas invadiram a terra à entrada do ano. E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram uma tropa, e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, caindo nela o homem, e tocando os ossos de Eliseu, reviveu, e se levantou sobre os seus pés. (2Reis13:20,21)
Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos. (Isaías 26:19)
Observando que, apesar das duas primeiras passagens não relatarem ressurreição "eterna" (que acontecerá na volta do Senhor), elas mostram claramente a capacidade de Deus em fazer alguém voltar a viver após a morte do corpo. Então, voltando para o trecho que estamos analisando, aqueles indivíduos abordaram o Mestre com o seguinte questionamento:
Naquele mesmo dia, os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão: "Mestre, Moisés disse que se um homem morrer sem deixar filhos, seu irmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência. Entre nós havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu. Como não teve filhos, deixou a mulher para seu irmão. A mesma coisa aconteceu com o segundo, com o terceiro, até o sétimo. Finalmente, depois de todos, morreu a mulher. Pois bem, na ressurreição, de qual dos sete ela será esposa, visto que todos foram casados com ela? (Mateus 22:23-28)
O trecho da Lei usado pelos saduceus nessa conversa se encontra no livro de Deuteronômio:
Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado para com ela. (Deuteronômio 25:5)
Então, se Jesus respondesse a eles que a mulher seria esposa dos sete irmãos, por ter estado casada com todos os sete, seria acusado de contrariar a Lei Mosaica, pois, de acordo com seus estatutos, uma mulher casada que tem relacionamento com mais de um homem é considerada adúltera ou prostituta. Assim, eles estavam esperando pegar Jesus nessa resposta.

No entanto, o que eles não entendiam é que a realidade espiritual que se segue após a ressurreição é totalmente diferente da realidade deste mundo, e que a Lei Mosaica é aplicável apenas para esta última. Portanto, a resposta de Jesus para aqueles homens foi a seguinte:
Jesus respondeu: "Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus! Na ressurreição, as pessoas não se casam nem são dadas em casamento; mas são como os anjos no céu." (Mateus 22:29,30)
E, para mostrar-lhes o quanto estavam desprezando o conteúdo das Escrituras sobre a continuidade da existência das pessoas após a morte física, o Senhor confrontou os saduceus dizendo:
E quanto à ressurreição dos mortos, vocês não leram o que Deus lhes disse: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos! Ouvindo isso, a multidão ficou admirada com o seu ensino. (Mateus 22:31-33)
Jesus confrontou aqueles homens com o trecho das Escrituras, no qual o anjo do Senhor fala com Moisés através de uma sarça (Êxodo 3:1-6).

Esse trecho é bem peculiar, pois quando Deus fala ali com Moisés, dá a entender que Abraão, Isaque e Jacó estão com Ele, ou seja, que estão vivos espiritualmente, apesar de terem morrido fisicamente, muitos anos antes daquele momento. De fato, se depois que uma pessoa morresse na Terra ela deixasse de existir, certamente Deus não teria se dirigido a Moisés dizendo "Eu Sou o Deus de Abraão...", e sim teria dito "Eu fui o Deus de Abraão...".

Então, para Deus, a morte física não significa a cessação da existência do homem – o qual, sendo criado à imagem e semelhança de Deus, é eterno – sendo a condição da morte algo transitório, ou seja, muitos dos que morreram fisicamente ressuscitarão na volta de Cristo, conforme está escrito no livro do profeta Daniel:
E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. (Daniel 12:1,2)
Portanto, Jesus demonstrou que o Seu povo deve estar amparado pela esperança da ressurreição, a qual foi devidamente paga por Cristo na cruz, não sendo uma expectativa vã.


Texto: Miss. Oriana Costa
Edição: Pr. Wendell Costa

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