quarta-feira, 28 de abril de 2021

Sepulcros caiados - Considerações sobre Mateus 23 - Parte 5


Neste texto, vamos analisar a penúltima parte do último discurso que o Senhor Jesus fez publicamente no templo de Jerusalém, diante das autoridades religiosas, dos discípulos e da multidão que estava ali presente. Esse acontecimento se deu alguns dias antes de sua prisão.

De fato, esse trecho se trata do fechamento do raciocínio dos cinco primeiros julgamentos que o Senhor estava fazendo naquele momento, relacionados às atitudes dos fariseus e mestres da Lei, e que se iniciou a partir do versículo 13. Para entender melhor o contexto desse conteúdo, leia as outras quatro publicações anteriores a esta, aqui neste blog.

Continuando nosso estudo, vejamos o trecho abaixo:

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas. Guias cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo. Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. Fariseu cego! Limpe primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo. Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade. (Mateus 23:23-28)

Observamos, desta forma, que a quinta acusação que o Mestre faz contra os fariseus e mestres da Lei é com relação à omissão dos preceitos mais importantes, para os quais a Lei Mosaica aponta todo o tempo: a Justiça de Deus (que ainda seria revelada plenamente a eles, e por isso deveria ser desejada e buscada), e as suas misericórdia (com relação à situação condenatória dos seres humanos) e fidelidade (em cumprir todas as suas promessas e pactos).

O Senhor Jesus alertou a todos que cumprir à risca o mandamento do dízimo não justifica a falta de entendimento dos reais princípios da Lei, que, obviamente, aqueles que estavam liderando espiritualmente a nação de Israel deveriam ter.

Por não buscarem conhecer a Deus de fato, aqueles homens se encheram de vaidades, ganância e cobiça, achando que apenas decorando e cumprindo os mandamentos da Lei estariam justificados de seus pecados diante do Pai, e assim manteriam diante do povo o status de "justos". Foi por isso que o Senhor fez uma metáfora tão exagerada: "vocês coam um mosquito da água que bebem, mas no fim acabam engolindo um camelo".

Cristo chamou a atenção daqueles líderes para a sua cegueira espiritual, pois estavam dando mais importância à aparência de sábios e justos do que à verdadeira sabedoria e justiça de Deus. 

Ele mostrou que se encher do conhecimento das escrituras e procurar cumprir os mandamentos ao pé da letra, sem, porém, entender para quê eles realmente servem é o mesmo que "limpar somente o exterior do copo e do prato e deixar sujo o interior deles". Então, agindo daquela forma, os fariseus e mestres da Lei estavam sendo hipócritas e maus uns com os outros, pois somente o entendimento pleno da justiça de Deus dá às pessoas o discernimento verdadeiro da maldade, levando-as a rejeitar sua ação plenamente.

A expressão "sepulcro caiado" se refere a um túmulo, da época de Jesus, que estava branqueado por fora com cal. Na íntegra, era a pedra do túmulo ou as paredes ao redor pintadas de branco. Caiar um sepulcro, portanto, servia para melhorar aparência do lugar, deixando-o mais agradável de ver, no momento das visitações. No entanto, isso não mudava o que havia por dentro dele: um cadáver fétido, em decomposição.

Por isso, também, o Senhor Jesus comparou aqueles homens a "sepulcros caiados", pois eles insistiam em parecer sábios e justos aos olhos de todos, mas, por dentro, estavam mortos espiritualmente e não se importavam em mudar a situação de seus corações.

Mesmo que o Senhor Jesus os alertasse, eles não lhe davam ouvidos e se enfureciam mais ainda contra Ele a cada vez que eram confrontados com a verdade. Seus corações estavam endurecidos, cheios da operação da maldade, e suas vidas entregues aos sentimentos e desejos provenientes dela.

Texto: Missionária Oriana Costa

Edição: Pr. Wendell Costa

terça-feira, 27 de abril de 2021

Regras a mais - Considerações sobre Mateus 23 - Parte 4


Nesta parte de seu discurso, onde Cristo segue julgando o procedimento das lideranças religiosas de Israel, dentro do templo em Jerusalém, Ele aponta especialmente o quanto aqueles homens estavam totalmente longe de Deus e muito apegados aos bens materiais e às riquezas do mundo.

Cristo aqui faz mais dois julgamentos importantes (veja os dois primeiros em Considerações sobre Mateus 23 - Parte 3) com relação ao procedimento daqueles líderes religiosos.

Vejamos o trecho a seguir:

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês. Ai de vocês, guias cegos!, pois dizem: ‘Se alguém jurar pelo santuário, isto nada significa; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, está obrigado por seu juramento’. Cegos insensatos! Que é mais importante: o ouro ou o santuário que santifica o ouro? Vocês também dizem: ‘Se alguém jurar pelo altar, isto nada significa; mas se alguém jurar pela oferta que está sobre ele, está obrigado por seu juramento’. Cegos! Que é mais importante: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? Portanto, aquele que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele. E o que jurar pelo santuário, jura por ele e por aquele que nele habita. E aquele que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele se assenta. (Mateus 23:15-22)

Um detalhe interessante é que no início desse trecho o Senhor Jesus fala que existia uma espécie de "evangelização", que era feita pelos mestres da Lei e fariseus, aonde eles supostamente saíam do território de Israel a fim de divulgar sua fé em outras nações e, provavelmente, também ensinar a Lei aos estrangeiros que faziam aliança com Deus.

Porém, esse assunto não é muito conhecido no meio cristão, no entanto, aqui o Senhor fala da existência desse trabalho, antes mesmo que a promessa da Nova Aliança com Deus se cumprisse.

De fato, não há informações acessíveis sobre o procedimento daqueles homens nessa área, no entanto, segundo a forma como Jesus julga aquela liderança, era como se, nesse trabalho, a mensagem que anunciava o cumprimento da promessa de justificação feita por Deus a Abrão – que aconteceria com a vinda do Messias que estabeleceria seu reinado para sempre em toda a terra – estivesse sendo deixada de lado. Então, essa é mais uma razão pela qual Jesus faz essa primeira acusação e os condena chamando-os, por causa disso, de "filhos do inferno".

Com toda a certeza, essa omissão da promessa de justificação feita por Deus, assim como está nas escrituras, não viria senão de alguém que estivesse contra o Criador, ou seja, o diabo.

O segundo julgamento de Cristo nesse trecho são as "regrinhas a mais" que os mestres da Lei e os fariseus estavam ensinando. Dentre elas, estava a desobrigação de cumprir um juramento, caso ele fosse feito em nome do santuário ou em nome do altar do sacrifício. No entanto, eles diziam que se alguém jurasse em nome do ouro que revestia o santuário ou em nome das ofertas que estavam sobre o altar do sacrifício, aí o indivíduo teria que cumprir sua promessa.

Na cultura judaica antiga, com relação aos juramentos, geralmente eles eram feitos sempre em nome de alguém ou em nome de alguma coisa importante, quando o sujeito queria deixar bem claro que a promessa ou o voto que fez se cumpriria da forma e no tempo que foi estabelecido. 

O santuário (que era a parte mais externa do templo) e o altar (local mais interno do templo onde eram colocadas as ofertas de cereais e feitos os sacrifícios de animais pela expiação dos pecados do povo) eram os locais mais importantes para os israelitas, por isso eram os mais usados na hora em que eles queriam jurar pelo cumprimento de alguma promessa ou voto.

Em relação a fazer juramentos, a Lei diz o seguinte:

Quando um homem fizer um voto ao Senhor ou um juramento que o obrigar a algum compromisso, não poderá quebrar a sua palavra, mas terá que cumprir tudo o que disse.(Números 30:2)

No livro de Eclesiastes, escrito pelo Rei Salomão, também há um trecho que diz:

Não seja precipitado de lábios, nem apressado de coração para fazer promessas diante de Deus. Deus está nos céus, e você está na terra, por isso, fale pouco. Das muitas ocupações brotam sonhos; do muito falar nasce a prosa vã do tolo. Quando você fizer um voto, cumpra-o sem demora, pois os tolos desagradam a Deus; cumpra o seu voto. É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir. Não permita que a sua boca o faça pecar. E não diga ao mensageiro de Deus: "O meu voto foi um engano". Por que irritar a Deus com o que você diz e deixá-lo destruir o que você realizou? Em meio a tantos sonhos, absurdos e conversas inúteis, tenha temor de Deus. (Eclesiastes 5:2-7)

Portanto, não foi à toa que o Senhor Jesus condenou o procedimento dos líderes religiosos de Israel. Segundo a Lei, qualquer promessa ou voto feito sob juramento deveria ser cumprido, salvo algumas pequenas exceções referentes às mulheres (veja em Números 30:2-15). 

Então, independente do ouro que revestia o santuário em algumas partes ou qualquer outra riqueza ou objeto caro que estivesse dentro do templo, ou mesmo de qualquer oferta que estivesse sobre o altar, um voto ou uma promessa feita sob juramento deveria ser cumprida.

No entanto, por não enxergarem o sentido dos mandamentos da Lei mosaica, os mestres da Lei e fariseus estavam sutilmente ensinando que as riquezas e bens materiais que haviam dentro do templo eram mais valiosos do que o próprio santuário.


Texto: Missionária Oriana Costa 

Edição: Pr. Wendell Costa


domingo, 18 de abril de 2021

Hipocrisia das lideranças - Considerações sobre Mateus 23 - Parte 3


Neste texto, veremos a terceira parte do discurso que o Senhor Jesus fez no templo de Jerusalém, depois de ter sido abordado pelos mestres da Lei e fariseus pela última vez, antes de ser preso. 

Esta parte do capítulo 23 do Evangelho de Mateus é composta por sete julgamentos feitos por Cristo, com relação ao procedimento da liderança religiosa de Israel, e que, por sinal, são palavras bem duras e contundentes, mas totalmente verdadeiras.

Vale lembrar que os líderes religiosos estavam ali presentes, juntamente com os discípulos e a multidão que cercava o Mestre dentro do templo, testemunhando todo o discurso, e que, também, as acusações que o Messias faria contra as lideranças israelitas já estavam preditas, as quais aconteceriam quando Ele viesse:

"Eu ainda faço denúncias contra vocês", diz o Senhor, "e farei denúncias contra os seus descendentes." (Jeremias 2:9)

Vamos conferir abaixo as duas primeiras acusações feitas pelo Senhor contra os fariseus e mestres da Lei, no seu último dia de ensino no templo de Jerusalém:

"Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo. Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. Por isso serão castigados mais severamente." (Mateus 23:13,14)

Como vemos, Cristo não poupou palavras, julgando aquilo que os fariseus e mestres da Lei estavam fazendo com a nação de Israel. A responsabilidade maior recaía sobre eles, pois tudo o que diziam e faziam era considerado regra e exemplo para todo o povo. Assim, o Senhor expôs publicamente, e pela última vez diante de uma multidão, todo o procedimento equivocado e enganoso daqueles homens.

A primeira acusação de Jesus contra eles foi "vocês estão impedindo aqueles que desejam entrar no Reino dos céus de fazê-lo e nem vocês mesmos estão querendo entrar nele". Esse julgamento é grave, haja vista que a nação de Israel foi planejada por Deus para representar o Reino de Deus na terra até a vinda do Messias. Israel deveria ser uma nação gloriosa e ser um exemplo para as outras nações em todas as áreas, especialmente na submissão ao Criador de todas as coisas.

Por conta disso, todo israelita deveria desejar ardentemente o Reino de Deus, não somente por saber da existência dele pelas escrituras, mas também por ter a incumbência de anunciar às outras nações da terra que Deus enviaria um Justificador, para que todos os que cressem em sua mensagem e sacrifício pudessem entrar nesse lugar gratuitamente.

No entanto, o que estava acontecendo, já há muitos anos, ainda antes do Messias chegar, era exatamente o oposto. Devido à influência das lideranças, a maioria das pessoas apegou-se às práticas religiosas como uma realidade absoluta, esquecendo de que os livros da Lei e as palavras ditas pelos profetas apontavam (e ainda apontam!) para a realidade do Reino de Deus, que era espiritual e muito superior a deste mundo. Além disso, as Escrituras mostravam que o Messias viria para justificá-los e reinar para sempre sobre eles, como, de fato, observamos que aconteceu.

Com o tempo, os mestres da Lei e fariseus foram agregando regras novas àquelas já determinadas por Deus nos mandamentos da Lei e fazendo delas seu meio de justificação diante d'Ele. Isso entristecia profundamente ao Senhor.

A segunda acusação que Cristo fez às lideranças israelitas foi "vocês devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações". Em miúdos, isso significa que, por causa do amor ao dinheiro, aqueles homens não poupavam nem os mais necessitados na sociedade, a fim de manter seu alto padrão de vida. 

Quando Cristo fala das viúvas, Ele está se referindo especialmente aquelas com mais idade, que já não se casariam novamente e não eram abastadas financeiramente. Portanto, mulheres nessa situação precisavam da ajuda dos filhos para se manterem. No livro de Êxodo há um aviso em relação ao que aconteceria com quem desprezasse ou deixasse de ajudar viúvas e crianças órfãs:

Não prejudiquem as viúvas nem os órfãos; porque se o fizerem, e eles clamarem a mim, eu certamente atenderei ao seu clamor. (Êxodo 22:22,23)

Então, desconsiderando os mandamentos da Lei e criando novas regras, e fazendo o povo acreditar que elas eram agradáveis a Deus, aqueles homens faziam com que o povo lhes entregasse mais dinheiro ou mantimentos do que a Lei instituída pelo próprio Deus já determinava.

Visto que a maior parte dos procedimentos no templo não eram feitos publicamente, sendo presenciados apenas pelos sacerdotes, as lideranças religiosas precisavam agir de uma maneira que convencessem o povo de que estavam em plena comunhão com o Senhor. Desta forma, eles se exibiam orando por horas nas ruas para que todos vissem. Isso fazia com que o povo confiasse totalmente neles.

Ensinando os discípulos em falas anteriores, o Senhor Jesus tanto alertou sobre como deveríamos proceder quando estivéssemos falando com o Pai, como também expôs alguns dos descumprimentos à Lei mosaica que os fariseus estavam provocando, ao manterem as "tradições" que foram sendo criadas nos últimos cinco séculos antes da vinda do Senhor. Vejamos nos trechos a seguir:

E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o recompensará. (Mateus 6:5,6)

Por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês? Pois Deus disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’ e ‘quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado’. Mas vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é uma oferta dedicada a Deus’, ele não é obrigado a ‘honrar seu pai’ dessa forma. Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês. (Mateus 15:3-6)

Lembrando que "honrar pai e mãe", segundo a Lei Mosaica, não é somente respeitar a autoridade deles, mas também sustentá-los financeiramente quando estiverem em idade avançada (pois naquela época não existia aposentadoria) e cuidar deles. Os mandamentos da Lei não ensinavam ao povo de Deus a dar como oferta no templo aquilo que seria a parte cabível ao sustento dos pais idosos.


Texto: Miss. Oriana Costa 

Edição: Pr. Wendell Costa


terça-feira, 13 de abril de 2021

O nosso Pai - Considerações sobre Mateus 23 - Parte 2


No trecho do capitulo 23 do evangelho de Mateus, que vai dos versos 9 a 12, o Senhor Jesus continua seu discurso para a multidão que o rodeava no templo em Jerusalém, e aqui Ele dá instruções sobre como as autoridades espirituais devem ser tratadas e consideradas pelos demais.

Levando sempre em conta que o Pai Criador é a maior autoridade que há na eternidade (Céus) e na Terra, então Cristo esclarece que tipo de títulos devemos dar às lideranças eclesiásticas, para, de maneira alguma, colocá-las em pé de igualdade com a autoridade de Deus, ou acima dela.

Vejamos as instruções do Mestre a seguir:

A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados ‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo. O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23:9-12)

A primeira instrução se refere ao título de "Pai". Normalmente, no mundo, chamamos de pai a pessoa que nos gerou, ou aquele indivíduo que nos adotou, substituindo a falta do nosso genitor, e isso é absolutamente normal. No entanto, quando estamos tratando de lideranças espirituais ou religiosas, a coisa muda.

Como o Pai Criador está presente e nunca deixou de existir, além de ser a única e maior autoridade que há na eternidade, então, espiritualmente falando, o título de "Pai" cabe somente a Ele.

Portanto, não devemos dar o título de "Pai" a nenhuma liderança espiritual ou religiosa na terra, pois, ao fazermos isso, estamos colocando tal pessoa no mesmo patamar de autoridade de Deus.

A segunda instrução é não chamar uma liderança espiritual de "chefe". A palavra "chefe" (na versão NVI) remete ao título de "mestre" (versão ACRF), que é a mesma coisa que estar dizendo que tal pessoa está acima de você, por saber todas as coisas (no âmbito espiritual), e por isso ela é capaz de governar ou liderar sua vida totalmente.

O único capaz de chefiar, liderar, instruir ou governar a vida de alguém, com extrema precisão, é Deus, pois foi Ele quem nos criou. Ele detém todo o conhecimento sobre todas as coisas, nos Céus e na Terra.

Contudo, em instruções contidas nas cartas dos Apóstolos, vemos palavras como estas a seguir:

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. (Efésios 4:11-15)

Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo. (Tiago 3:1,2)

Isso quer dizer que apesar do próprio Deus ser o único perfeito e totalmente sábio, capaz de instruir e nortear a vida de alguém com precisão, Ele não fará esse serviço aparecendo, pessoalmente, para nós, a fim de que possamos ouvi-lo diretamente todo o tempo.

Antes do Dilúvio, as Escrituras mostram que Deus falava diretamente com as pessoas (por exemplo, Ele falou com Caim, procurando dissuadi-lo a dominar o pecado, em Gênesis 4:6-7). Contudo, depois desse evento, Ele se ocultou da humanidade e passou a levantar sacerdotes e profetas para que, através destes, pudesse anunciar Sua vontade e receber as ofertas dos homens.

Na Antiga Aliança, Deus estabeleceu, de maneira mais clara, o princípio do sacerdócio e levantou os profetas, os quais recebiam sobre si o poder do Espírito de Deus, para trazer instruções e correção ao povo. Já na Nova Aliança, o Espírito de Deus foi "derramado sobre toda a carne", assim, todos os cristãos podem ser usados por Ele para algum tipo de serviço na obra de proclamação do Evangelho bem como na condução e cuidado das pessoas.

Contudo, como o Apóstolo Tiago bem disse: "Todos tropeçamos de muitas maneiras", significando que, mesmo estando atendendo um chamado de Deus, ninguém é perfeito como Deus, todos nós cometemos erros, e por isso ninguém é digno de se colocar como "Mestre" ou "Chefe" sobre a vida de alguém já adulto e consciente dos seus atos.

Os cinco chamados de Deus, referidos no capítulo 5 do livro de Efésios, não dão o direito, a quem os atende, de tomarem o lugar de Deus nas vidas das pessoas, dizendo tudo o que elas tem de fazer. Cada um é apto para escolher viver ou não de acordo com o que Cristo ensina.

Quem age de má fé com os outros, usando sua influência para ir além do conselho ou ensino (baseado na justiça de Deus), ou ir além da proclamação do evangelho, tudo a fim de incitar ou obrigar as pessoas a fazerem alguma coisa, é um manipulador e está pecando contra Deus!

Muitas pessoas que acompanharam Jesus no início de seu ministério terreno decidiram deixá-lo por não compreenderem a mensagem que Ele pregou. E, de fato, Cristo sempre deixou as pessoas à vontade para segui-lo ou não e jamais obrigou seus discípulos a se submeterem às ordenanças da Justiça de Deus ou ao chamado que Deus estava lhes fazendo; os que realmente decidiram segui-lo atenderam ao Senhor de livre e espontânea vontade.

Para concluir, a terceira instrução de Cristo foi: "O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado." Isso quer dizer que, enquanto a Igreja do Senhor Jesus estiver na terra, mesmo quem sabe mais ou quem está em posição de autoridade deve imitar a Cristo, que mesmo conhecendo plenamente a Justiça de Deus e sendo a maior autoridade que há na Terra e nos Céus, escolheu servir aos outros e se humilhar em prol da salvação de toda a humanidade.

Então, mesmo aqueles que conhecem muito as Escrituras e ensinam aos outros vão precisar sempre lembrar e reconhecer que não sabem tudo, e que o único Dono das vidas das pessoas é Jesus Cristo.

Essa situação coloca todos os cristãos no mesmo patamar, como servos de Deus e servos uns dos outros, especialmente rejeitando a glória a si mesmo e remetendo-a totalmente a Deus. É preciso lembrar, também, que o próprio Deus não faz acepção de pessoas e trata a todos os seus filhos igualmente, e, por isso, devemos proceder da mesma forma com os nossos irmãos na fé.

De acordo com as cartas dos Apóstolos, portanto, quem atende ao chamado de mestre inevitavelmente acabará aprendendo mais sobre a Justiça de Deus do que os demais, e assim adquire autoridade para ensinar os preceitos do Reino aos outros. Por causa disso, esse indivíduo será julgado por Deus com maior rigor, como explica o Apóstolo Tiago.

É por esse motivo que aqueles que atendem ao chamado de mestre devem ter cuidado para não se ensoberbecer, se esforçando dia a dia para dominar ainda mais seus impulsos carnais, buscando agradar mais a Deus e servir ao próximo.


Texto: Missionária Oriana Costa 

Edição: Pr. Wendell Costa