terça-feira, 13 de abril de 2021

O nosso Pai - Considerações sobre Mateus 23 - Parte 2


No trecho do capitulo 23 do evangelho de Mateus, que vai dos versos 9 a 12, o Senhor Jesus continua seu discurso para a multidão que o rodeava no templo em Jerusalém, e aqui Ele dá instruções sobre como as autoridades espirituais devem ser tratadas e consideradas pelos demais.

Levando sempre em conta que o Pai Criador é a maior autoridade que há na eternidade (Céus) e na Terra, então Cristo esclarece que tipo de títulos devemos dar às lideranças eclesiásticas, para, de maneira alguma, colocá-las em pé de igualdade com a autoridade de Deus, ou acima dela.

Vejamos as instruções do Mestre a seguir:

A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados ‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo. O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23:9-12)

A primeira instrução se refere ao título de "Pai". Normalmente, no mundo, chamamos de pai a pessoa que nos gerou, ou aquele indivíduo que nos adotou, substituindo a falta do nosso genitor, e isso é absolutamente normal. No entanto, quando estamos tratando de lideranças espirituais ou religiosas, a coisa muda.

Como o Pai Criador está presente e nunca deixou de existir, além de ser a única e maior autoridade que há na eternidade, então, espiritualmente falando, o título de "Pai" cabe somente a Ele.

Portanto, não devemos dar o título de "Pai" a nenhuma liderança espiritual ou religiosa na terra, pois, ao fazermos isso, estamos colocando tal pessoa no mesmo patamar de autoridade de Deus.

A segunda instrução é não chamar uma liderança espiritual de "chefe". A palavra "chefe" (na versão NVI) remete ao título de "mestre" (versão ACRF), que é a mesma coisa que estar dizendo que tal pessoa está acima de você, por saber todas as coisas (no âmbito espiritual), e por isso ela é capaz de governar ou liderar sua vida totalmente.

O único capaz de chefiar, liderar, instruir ou governar a vida de alguém, com extrema precisão, é Deus, pois foi Ele quem nos criou. Ele detém todo o conhecimento sobre todas as coisas, nos Céus e na Terra.

Contudo, em instruções contidas nas cartas dos Apóstolos, vemos palavras como estas a seguir:

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. (Efésios 4:11-15)

Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo. (Tiago 3:1,2)

Isso quer dizer que apesar do próprio Deus ser o único perfeito e totalmente sábio, capaz de instruir e nortear a vida de alguém com precisão, Ele não fará esse serviço aparecendo, pessoalmente, para nós, a fim de que possamos ouvi-lo diretamente todo o tempo.

Antes do Dilúvio, as Escrituras mostram que Deus falava diretamente com as pessoas (por exemplo, Ele falou com Caim, procurando dissuadi-lo a dominar o pecado, em Gênesis 4:6-7). Contudo, depois desse evento, Ele se ocultou da humanidade e passou a levantar sacerdotes e profetas para que, através destes, pudesse anunciar Sua vontade e receber as ofertas dos homens.

Na Antiga Aliança, Deus estabeleceu, de maneira mais clara, o princípio do sacerdócio e levantou os profetas, os quais recebiam sobre si o poder do Espírito de Deus, para trazer instruções e correção ao povo. Já na Nova Aliança, o Espírito de Deus foi "derramado sobre toda a carne", assim, todos os cristãos podem ser usados por Ele para algum tipo de serviço na obra de proclamação do Evangelho bem como na condução e cuidado das pessoas.

Contudo, como o Apóstolo Tiago bem disse: "Todos tropeçamos de muitas maneiras", significando que, mesmo estando atendendo um chamado de Deus, ninguém é perfeito como Deus, todos nós cometemos erros, e por isso ninguém é digno de se colocar como "Mestre" ou "Chefe" sobre a vida de alguém já adulto e consciente dos seus atos.

Os cinco chamados de Deus, referidos no capítulo 5 do livro de Efésios, não dão o direito, a quem os atende, de tomarem o lugar de Deus nas vidas das pessoas, dizendo tudo o que elas tem de fazer. Cada um é apto para escolher viver ou não de acordo com o que Cristo ensina.

Quem age de má fé com os outros, usando sua influência para ir além do conselho ou ensino (baseado na justiça de Deus), ou ir além da proclamação do evangelho, tudo a fim de incitar ou obrigar as pessoas a fazerem alguma coisa, é um manipulador e está pecando contra Deus!

Muitas pessoas que acompanharam Jesus no início de seu ministério terreno decidiram deixá-lo por não compreenderem a mensagem que Ele pregou. E, de fato, Cristo sempre deixou as pessoas à vontade para segui-lo ou não e jamais obrigou seus discípulos a se submeterem às ordenanças da Justiça de Deus ou ao chamado que Deus estava lhes fazendo; os que realmente decidiram segui-lo atenderam ao Senhor de livre e espontânea vontade.

Para concluir, a terceira instrução de Cristo foi: "O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado." Isso quer dizer que, enquanto a Igreja do Senhor Jesus estiver na terra, mesmo quem sabe mais ou quem está em posição de autoridade deve imitar a Cristo, que mesmo conhecendo plenamente a Justiça de Deus e sendo a maior autoridade que há na Terra e nos Céus, escolheu servir aos outros e se humilhar em prol da salvação de toda a humanidade.

Então, mesmo aqueles que conhecem muito as Escrituras e ensinam aos outros vão precisar sempre lembrar e reconhecer que não sabem tudo, e que o único Dono das vidas das pessoas é Jesus Cristo.

Essa situação coloca todos os cristãos no mesmo patamar, como servos de Deus e servos uns dos outros, especialmente rejeitando a glória a si mesmo e remetendo-a totalmente a Deus. É preciso lembrar, também, que o próprio Deus não faz acepção de pessoas e trata a todos os seus filhos igualmente, e, por isso, devemos proceder da mesma forma com os nossos irmãos na fé.

De acordo com as cartas dos Apóstolos, portanto, quem atende ao chamado de mestre inevitavelmente acabará aprendendo mais sobre a Justiça de Deus do que os demais, e assim adquire autoridade para ensinar os preceitos do Reino aos outros. Por causa disso, esse indivíduo será julgado por Deus com maior rigor, como explica o Apóstolo Tiago.

É por esse motivo que aqueles que atendem ao chamado de mestre devem ter cuidado para não se ensoberbecer, se esforçando dia a dia para dominar ainda mais seus impulsos carnais, buscando agradar mais a Deus e servir ao próximo.


Texto: Missionária Oriana Costa 

Edição: Pr. Wendell Costa

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