quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Testemunhos falsos - Considerações sobre Mateus 26 - Parte 5


Neste texto, faremos a conclusão da análise do capítulo 26 do Evangelho de Mateus. No estudo anterior, entendemos melhor como se deu o momento da prisão do Senhor Jesus Cristo. Agora, veremos o episódio seguinte, onde o Mestre é levado à presença do Sumo Sacerdote e, enquanto isso acontece, Pedro nega conhecer o Senhor, temendo ser preso. 

Vejamos o trecho a seguir:

Os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio estavam procurando um depoimento falso contra Jesus, para que pudessem condená-lo à morte. Mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas.
Finalmente se apresentaram duas que declararam: "Este homem disse: ‘Sou capaz de destruir o santuário de Deus e reconstruí-lo em três dias’ ". Então o sumo sacerdote levantou-se e disse a Jesus: "Você não vai responder à acusação que estes lhe fazem?" Mas Jesus permaneceu em silêncio. O sumo sacerdote lhe disse: "Exijo que você jure pelo Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, diga-nos". "Tu mesmo o disseste", respondeu Jesus. "Mas eu digo a todos vós: chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu". 
Foi quando o sumo sacerdote rasgou as próprias vestes e disse: "Blasfemou! Por que precisamos de mais testemunhas? Vocês acabaram de ouvir a blasfêmia. Que acham?" "É réu de morte!", responderam eles. Então alguns lhe cuspiram no rosto e lhe deram murros. Outros lhe davam tapas e diziam: "Profetize-nos, Cristo. Quem foi que lhe bateu?" 
Pedro estava sentado no pátio, e uma criada, aproximando-se dele, disse: "Você também estava com Jesus, o galileu". Mas ele o negou diante de todos, dizendo: "Não sei do que você está falando". Depois, saiu em direção à porta, onde outra criada o viu e disse aos que estavam ali: "Este homem estava com Jesus, o Nazareno". E ele, jurando, o negou outra vez: "Não conheço esse homem!" Pouco tempo depois, os que estavam por ali chegaram a Pedro e disseram: "Certamente você é um deles! O seu modo de falar o denuncia". Aí ele começou a se amaldiçoar e a jurar: "Não conheço esse homem!" Imediatamente um galo cantou. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus tinha dito: "Antes que o galo cante, você me negará três vezes". E, saindo dali, chorou amargamente. (Mateus 26:59-75)

Vamos iniciar nossa análise com um versículo que pode ser encontrado em dois livros da Lei, no qual há um mandamento que se refere ao "falso testemunho":

Não darás falso testemunho contra o teu próximo. (Êxodo 20:16, Deuteronômio 5:20)

Os líderes religiosos de Israel precisavam de, pelo menos, duas testemunhas convincentes para acusar e condenar Cristo, por causa da especificação contida na Lei, como veremos adiante. 

Então, apesar de estarem cientes de que não existiam motivos para a acusação do Senhor, pois sempre que os procuravam nunca conseguiam encontrá-los, os fariseus e mestres da Lei se empenharam em arranjar, pelo menos, duas testemunhas falsas para assim conseguirem exterminar o Mestre do meio deles.

Portanto, o que fizeram ao Senhor Jesus foi, sem sombra de dúvida, o descumprimento do mandamento que proíbe o falso testemunho. E não cumprir esse mandamento, segundo a Lei Mosaica, resulta em uma determinada punição, como veremos a seguir:

Uma só testemunha não é suficiente para condenar alguém de algum crime ou delito. Qualquer acusação precisa ser confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Se uma testemunha falsa quiser acusar um homem de algum crime, os dois envolvidos na questão deverão apresentar-se ao Senhor, diante dos sacerdotes e juízes que estiverem exercendo o cargo naquela ocasião. Os juízes investigarão o caso e, se ficar provado que a testemunha mentiu e deu falso testemunho contra o seu próximo, deem-lhe a punição que ele planejava para o seu irmão. Eliminem o mal do meio de vocês. O restante do povo saberá disso e terá medo, e nunca mais se fará uma coisa dessas entre vocês. Não tenham piedade. Exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. (Deuteronômio 19:15-21)

De acordo com o trecho acima, todos os que se acomunaram para condenar e matar o Senhor Jesus – que era inocente daquelas acusações – deveriam morrer crucificados, assim como estavam planejando fazer com Ele, isso se fossem levados a julgamento naquele momento, de acordo com o mandamento da Lei. 

No entanto, Cristo veio não para condenar, mas para salvar. O Pai desejou fazer um acordo de paz com toda a humanidade, e estava disposto a nos perdoar, mediante a nossa fé na mensagem que Seu Filho Unigênito estava anunciando e também no sacrifício para o qual havia sido designado a fazer por toda a humanidade. E Ele foi até o fim nessa empreitada, porque amou o homem que criou e não desejava a sua destruição, como também ama todo o restante da Sua grandiosa criação.

Então, para que esse acordo entre Deus e os homens fosse estabelecido de uma vez por todas, Cristo precisava cumprir tudo o que havia sido profetizado à respeito d'Ele, pois somente assim TODOS (inclusive aqueles que estavam envolvidos no processo de sua morte) teriam a chance de se arrepender de seus pecados, após seu sacrifício na cruz, mediante a fé na mensagem do Reino, tendo assim acesso à justificação disponibilizada gratuitamente pelo nosso Criador.

O sofrimento pelo qual o Senhor Jesus teria que passar, até sua morte, está predito no Antigo Testamento em muitos lugares. Um dos profetas maiores, Isaías, predisse o que o Messias teria que passar de uma forma surpreendente (leia o capítulo 53 de Isaias). Abaixo vamos conferir três trechos que, como aqueles contidos no livro de Isaías, apontam que o Messias seria acusado injustamente e que Ele não iria se defender:

Testemunhas maldosas enfrentam-me e questionam-me sobre coisas de que nada sei. Elas me retribuem o bem com o mal e procuram tirar-me a vida. Contudo, quando estavam doentes, usei vestes de lamento, humilhei-me com jejum e recolhi-me em oração. Saí vagueando e pranteando, como por um amigo ou por um irmão. Eu me prostrei enlutado, como quem lamenta por sua mãe. Mas, quando tropecei, eles se reuniram alegres; sem que eu o soubesse, ajuntaram-se para me atacar. Eles me agrediram sem cessar. Como ímpios caçoando do meu refúgio, rosnaram contra mim. (Salmos 35:11-16)

Ó Deus, a quem louvo, não fiques indiferente, pois homens ímpios e falsos dizem calúnias contra mim, e falam mentiras a meu respeito. Eles me cercaram com palavras carregadas de ódio; atacaram-me sem motivo. Em troca da minha amizade eles me acusam, mas eu permaneço em oração. Retribuem-me o bem com o mal, e a minha amizade com ódio.(Salmos 109:1-5)

Estou calado! Não posso abrir a boca, pois tu mesmo fizeste isso. Afasta de mim o teu açoite; fui vencido pelo golpe da tua mão. (Salmos 39:9,10)

Enquanto Cristo enfrentava as autoridades de Jerusalém naquela noite, dois discípulos de Jesus permaneceram por perto, observando os acontecimentos, segundo nos revela o Evangelho de João, no capítulo 18. Eles conseguiram entrar no pátio da casa do Sumo Sacerdote, Caifás, pois um deles era seu conhecido.

Um desses discípulos era Pedro, que veria com seus próprios olhos o cumprimento de uma palavra que recebeu do Senhor Jesus, horas antes de sua prisão: "Asseguro-lhe que ainda esta noite, antes que o galo cante, três vezes você me negará". (Mt 26:34)

No Evangelho de Lucas lemos um trecho que revela o que aconteceu no pátio da casa de Caifás, logo após o cantar do galo:

O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: "Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes". Saindo dali, chorou amargamente. (Lucas 22:61,62)

Isso significa que o Mestre estava vendo os seus dois discípulos ali perto, e viu também que eles não tinham coragem de se apresentar ao Sinédrio para lhe defenderem, pois eles estavam com medo de serem silenciados devido ao ódio que todos tinham do Senhor. Cristo, em contrapartida, não falou que ali estavam duas testemunhas de que ele era inocente, a fim de que tudo o que foi predito à respeito d'Ele fosse cumprido, e também para protegê-los.

Missionária Oriana Costa

sábado, 6 de novembro de 2021

A prisão - Considerações sobre Mateus 26 - Parte 4


Nos momentos que antecederam sua crucificação, o Senhor Jesus é preso por um grupo, às ordens dos líderes judeus. Sendo traído pelo apóstolo Judas, e já prestes a passar pelo injusto julgamento, ainda opera dois sinais, à vista de todos.

Assim como outras passagens do Evangelho de Mateus, cujas análises se encontram aqui no blog, para ser bem entendido, o trecho que vamos estudar agora também carece ser comparado com as outras passagens relacionadas a esse mesmo episódio, contidas nos outros Evangelhos.

Vejamos a seguir:

"Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!" Enquanto ele ainda falava, chegou Judas, um dos Doze. Com ele estava uma grande multidão armada de espadas e varas, enviada pelos chefes dos sacerdotes e líderes religiosos do povo. O traidor havia combinado um sinal com eles, dizendo-lhes: "Aquele a quem eu saudar com um beijo, é ele; prendam-no". Dirigindo-se imediatamente a Jesus, Judas disse: "Salve, Mestre!", e o beijou. Jesus perguntou: "Amigo, que é que o traz?" Então os homens se aproximaram, agarraram Jesus e o prenderam. Um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou a espada e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Disse-lhe Jesus: "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como então se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?" Naquela hora Jesus disse à multidão: "Estou eu chefiando alguma rebelião, para que vocês venham prender-me com espadas e varas? Todos os dias eu estava ensinando no templo, e vocês não me prenderam! Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas". Então todos os discípulos o abandonaram e fugiram. Os que prenderam Jesus o levaram a Caifás, o sumo sacerdote, em cuja casa se haviam reunido os mestres da lei e os líderes religiosos. Mas Pedro o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote, entrou e sentou-se com os guardas, para ver o que aconteceria. (Mateus 26:46-58)

Sobre o local em que Cristo estava quando foi encontrado por Judas, de acordo com o Evangelho de João, era um olival situado perto do vale do Cedrom. Esse vale – também chamado de Vale de Josafá – se estende ao longo do muro oriental de Jerusalém, separando o Monte do Templo do Monte das Oliveiras. Portanto, o Senhor e os Apóstolos não estavam mais no Getsêmani quando foram encontrados por Judas, mas num lugar ali próximo, provavelmente mais perto do Monte do Templo.

Outra informação importante, é que não era somente os Apóstolos que estavam com Jesus naquela hora. Havia, também, outras pessoas, e sabemos disso por causa do relato do Evangelho de Marcos, que cita o momento inusitado em que um jovem, que estava perto deles vestindo apenas um lençol de linho, perdeu sua veste e ficou nu, enquanto fugia, para não ser levado preso junto com Jesus.

Quanto às pessoas que vieram ao encontro de Jesus, os evangelhos de Mateus e Marcos relatam que era "uma multidão armada de espadas e varas, enviada pelos chefes dos sacerdotes, mestres da lei e líderes religiosos" (Mt 26:47, Mc 14:43).

No entanto, o Evangelho de Lucas mostra que, no momento em que foi encontrado, Jesus falou diretamente aos "chefes dos sacerdotes, aos oficiais da guarda do templo e aos líderes religiosos" (Lc 22:52) que tinham ido procurá-lo.

Já no Evangelho de João, está escrito que a multidão que seguiu Judas, para procurar Jesus, era composta de "um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus" (Jo 18:3), que levavam tochas, lanternas e armas.

O consenso dessas informações nos leva a crer que aquela multidão, que saiu tarde da noite à procura de Jesus, era formada por representantes de alguns dos chefes dos sacerdotes, dos mestres da lei e dos demais líderes religiosos, como também algumas dessas autoridades em pessoa, somado aos oficiais da guarda do templo e um destacamento de soldados romanos, provavelmente composto por cerca de dez homens bem armados.

No Antigo Testamento há trechos que indiretamente falam acerca do momento em que o Senhor Jesus é encontrado e levado preso. O beijo de Judas, por exemplo, é profetizado no livro de Provérbios:

Quem fere por amor mostra lealdade, mas o inimigo multiplica beijos. (Pv 27:6)

O momento em que Jesus é encontrado pela multidão, que queria prendê-lo e matá-lo, também foi profetizado pelo Rei Davi em um de seus Salmos:

As cordas da morte me enredaram; as torrentes da destruição me surpreenderam. As cordas do Sheol me envolveram; os laços da morte me alcançaram. (Salmos 18:4,5)

Depois que o Senhor Jesus é encontrado, Ele ainda realiza dois sinais miraculosos diante dos seus Apóstolos, de seus seguidores e da multidão que veio prendê-lo. O primeiro sinal se dá quando Ele sai do olival e se dirige à multidão, perguntando pela primeira vez a quem eles estavam procurando. Quando a multidão responde "a Jesus de Nazaré", e Ele responde "Sou Eu", todas aquelas pessoas são lançadas para trás e caem sem forças no chão (Jo 18:4-7). Esse acontecimento é encontrado somente no Evangelho de João.

O segundo sinal acontece depois que Pedro se defende, com uma espada, dos que estavam tentando prender Jesus, decepando a orelha direita de um servo do sumo sacerdote. O Senhor Jesus, ao ver o que tinha acontecido, repreende Pedro e cura o homem, recolocando a orelha no lugar. O ferimento do servo do sumo sacerdote, que se chamava Malco, pode ser lido nos quatro evangelhos, porém, o momento em que Jesus coloca a orelha do homem no lugar encontra-se descrito somente no Evangelho de Lucas (Lc 22:51).

Quando o Senhor foi preso, os Apóstolos e todos os seus seguidores fugiram para não serem presos junto com Ele. Essa situação já havia sido predita por Jesus naquela mesma noite, durante o jantar de celebração da Páscoa (Mt 26:31). Mas, apesar da fuga dos discípulos ser um ato de covardia da parte deles, o fato deles conseguirem fugir foi o cumprimento de uma petição que o Senhor Jesus fez ao Pai a respeito deles (Jo 18:8,9), minutos antes de ser preso, no momento em que, orando, intercedia pela igreja no Getsêmani:

Pai santo, protege-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um. Enquanto estava com eles, eu os protegi e os guardei pelo nome que me deste. Nenhum deles se perdeu, a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se cumprisse a Escritura. Agora vou para ti, mas digo estas coisas enquanto ainda estou no mundo, para que eles tenham a plenitude da minha alegria. (João 17:11-13)

Ainda que temendo a situação, dois discípulos decidiram ficar por perto, para observar o que iria acontecer com Seu Mestre. Apesar dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas informarem que apenas Pedro seguiu o Senhor após sua prisão, de acordo com o Evangelho de João, foram dois homens, e um deles era Pedro; o outro não tem seu nome revelado, mas muito provavelmente era o próprio apóstolo João.

E, para concluir, o primeiro lugar para onde Jesus foi levado após sua prisão não foi para a casa de Caifás, o Sumo Sacerdote, mas foi para a casa do sogro dele, o fariseu Anás, segundo o relato do Evangelho de João. Vejamos, abaixo, o trecho desse Evangelho, que confirma os dois discípulos que acompanharam o Senhor após sua prisão e o momento em que Cristo é levado até Anás:

Assim, o destacamento de soldados com o seu comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus. Amarraram-no e o levaram primeiramente a Anás, que era sogro de Caifás, o sumo sacerdote naquele ano. Caifás era quem tinha dito aos judeus que seria bom que um homem morresse pelo povo. Simão Pedro e outro discípulo estavam seguindo Jesus. Por ser conhecido do sumo sacerdote, este discípulo entrou com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote, mas Pedro teve que ficar esperando do lado de fora da porta. O outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, voltou, falou com a moça encarregada da porta e fez Pedro entrar. (João 18:12-16)

Missionária Oriana Costa