Neste texto, faremos a conclusão da análise do capítulo 26 do Evangelho de Mateus. No estudo anterior, entendemos melhor como se deu o momento da prisão do Senhor Jesus Cristo. Agora, veremos o episódio seguinte, onde o Mestre é levado à presença do Sumo Sacerdote e, enquanto isso acontece, Pedro nega conhecer o Senhor, temendo ser preso.
Vejamos o trecho a seguir:
Os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio estavam procurando um depoimento falso contra Jesus, para que pudessem condená-lo à morte. Mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas.
Finalmente se apresentaram duas que declararam: "Este homem disse: ‘Sou capaz de destruir o santuário de Deus e reconstruí-lo em três dias’ ". Então o sumo sacerdote levantou-se e disse a Jesus: "Você não vai responder à acusação que estes lhe fazem?" Mas Jesus permaneceu em silêncio. O sumo sacerdote lhe disse: "Exijo que você jure pelo Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, diga-nos". "Tu mesmo o disseste", respondeu Jesus. "Mas eu digo a todos vós: chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu".
Foi quando o sumo sacerdote rasgou as próprias vestes e disse: "Blasfemou! Por que precisamos de mais testemunhas? Vocês acabaram de ouvir a blasfêmia. Que acham?" "É réu de morte!", responderam eles. Então alguns lhe cuspiram no rosto e lhe deram murros. Outros lhe davam tapas e diziam: "Profetize-nos, Cristo. Quem foi que lhe bateu?"
Pedro estava sentado no pátio, e uma criada, aproximando-se dele, disse: "Você também estava com Jesus, o galileu". Mas ele o negou diante de todos, dizendo: "Não sei do que você está falando". Depois, saiu em direção à porta, onde outra criada o viu e disse aos que estavam ali: "Este homem estava com Jesus, o Nazareno". E ele, jurando, o negou outra vez: "Não conheço esse homem!" Pouco tempo depois, os que estavam por ali chegaram a Pedro e disseram: "Certamente você é um deles! O seu modo de falar o denuncia". Aí ele começou a se amaldiçoar e a jurar: "Não conheço esse homem!" Imediatamente um galo cantou. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus tinha dito: "Antes que o galo cante, você me negará três vezes". E, saindo dali, chorou amargamente. (Mateus 26:59-75)
Vamos iniciar nossa análise com um versículo que pode ser encontrado em dois livros da Lei, no qual há um mandamento que se refere ao "falso testemunho":
Não darás falso testemunho contra o teu próximo. (Êxodo 20:16, Deuteronômio 5:20)
Os líderes religiosos de Israel precisavam de, pelo menos, duas testemunhas convincentes para acusar e condenar Cristo, por causa da especificação contida na Lei, como veremos adiante.
Então, apesar de estarem cientes de que não existiam motivos para a acusação do Senhor, pois sempre que os procuravam nunca conseguiam encontrá-los, os fariseus e mestres da Lei se empenharam em arranjar, pelo menos, duas testemunhas falsas para assim conseguirem exterminar o Mestre do meio deles.
Portanto, o que fizeram ao Senhor Jesus foi, sem sombra de dúvida, o descumprimento do mandamento que proíbe o falso testemunho. E não cumprir esse mandamento, segundo a Lei Mosaica, resulta em uma determinada punição, como veremos a seguir:
Uma só testemunha não é suficiente para condenar alguém de algum crime ou delito. Qualquer acusação precisa ser confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Se uma testemunha falsa quiser acusar um homem de algum crime, os dois envolvidos na questão deverão apresentar-se ao Senhor, diante dos sacerdotes e juízes que estiverem exercendo o cargo naquela ocasião. Os juízes investigarão o caso e, se ficar provado que a testemunha mentiu e deu falso testemunho contra o seu próximo, deem-lhe a punição que ele planejava para o seu irmão. Eliminem o mal do meio de vocês. O restante do povo saberá disso e terá medo, e nunca mais se fará uma coisa dessas entre vocês. Não tenham piedade. Exijam vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. (Deuteronômio 19:15-21)
De acordo com o trecho acima, todos os que se acomunaram para condenar e matar o Senhor Jesus – que era inocente daquelas acusações – deveriam morrer crucificados, assim como estavam planejando fazer com Ele, isso se fossem levados a julgamento naquele momento, de acordo com o mandamento da Lei.
No entanto, Cristo veio não para condenar, mas para salvar. O Pai desejou fazer um acordo de paz com toda a humanidade, e estava disposto a nos perdoar, mediante a nossa fé na mensagem que Seu Filho Unigênito estava anunciando e também no sacrifício para o qual havia sido designado a fazer por toda a humanidade. E Ele foi até o fim nessa empreitada, porque amou o homem que criou e não desejava a sua destruição, como também ama todo o restante da Sua grandiosa criação.
Então, para que esse acordo entre Deus e os homens fosse estabelecido de uma vez por todas, Cristo precisava cumprir tudo o que havia sido profetizado à respeito d'Ele, pois somente assim TODOS (inclusive aqueles que estavam envolvidos no processo de sua morte) teriam a chance de se arrepender de seus pecados, após seu sacrifício na cruz, mediante a fé na mensagem do Reino, tendo assim acesso à justificação disponibilizada gratuitamente pelo nosso Criador.
O sofrimento pelo qual o Senhor Jesus teria que passar, até sua morte, está predito no Antigo Testamento em muitos lugares. Um dos profetas maiores, Isaías, predisse o que o Messias teria que passar de uma forma surpreendente (leia o capítulo 53 de Isaias). Abaixo vamos conferir três trechos que, como aqueles contidos no livro de Isaías, apontam que o Messias seria acusado injustamente e que Ele não iria se defender:
Testemunhas maldosas enfrentam-me e questionam-me sobre coisas de que nada sei. Elas me retribuem o bem com o mal e procuram tirar-me a vida. Contudo, quando estavam doentes, usei vestes de lamento, humilhei-me com jejum e recolhi-me em oração. Saí vagueando e pranteando, como por um amigo ou por um irmão. Eu me prostrei enlutado, como quem lamenta por sua mãe. Mas, quando tropecei, eles se reuniram alegres; sem que eu o soubesse, ajuntaram-se para me atacar. Eles me agrediram sem cessar. Como ímpios caçoando do meu refúgio, rosnaram contra mim. (Salmos 35:11-16)
Ó Deus, a quem louvo, não fiques indiferente, pois homens ímpios e falsos dizem calúnias contra mim, e falam mentiras a meu respeito. Eles me cercaram com palavras carregadas de ódio; atacaram-me sem motivo. Em troca da minha amizade eles me acusam, mas eu permaneço em oração. Retribuem-me o bem com o mal, e a minha amizade com ódio.(Salmos 109:1-5)
Estou calado! Não posso abrir a boca, pois tu mesmo fizeste isso. Afasta de mim o teu açoite; fui vencido pelo golpe da tua mão. (Salmos 39:9,10)
Enquanto Cristo enfrentava as autoridades de Jerusalém naquela noite, dois discípulos de Jesus permaneceram por perto, observando os acontecimentos, segundo nos revela o Evangelho de João, no capítulo 18. Eles conseguiram entrar no pátio da casa do Sumo Sacerdote, Caifás, pois um deles era seu conhecido.
Um desses discípulos era Pedro, que veria com seus próprios olhos o cumprimento de uma palavra que recebeu do Senhor Jesus, horas antes de sua prisão: "Asseguro-lhe que ainda esta noite, antes que o galo cante, três vezes você me negará". (Mt 26:34)
No Evangelho de Lucas lemos um trecho que revela o que aconteceu no pátio da casa de Caifás, logo após o cantar do galo:
O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: "Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes". Saindo dali, chorou amargamente. (Lucas 22:61,62)
Isso significa que o Mestre estava vendo os seus dois discípulos ali perto, e viu também que eles não tinham coragem de se apresentar ao Sinédrio para lhe defenderem, pois eles estavam com medo de serem silenciados devido ao ódio que todos tinham do Senhor. Cristo, em contrapartida, não falou que ali estavam duas testemunhas de que ele era inocente, a fim de que tudo o que foi predito à respeito d'Ele fosse cumprido, e também para protegê-los.
Missionária Oriana Costa