terça-feira, 17 de maio de 2022

Ele será chamado nazareno - Considerações sobre Mateus capítulo 2 - Parte 2

Continuando nosso estudo do Evangelho de Mateus, veremos nesse texto que Jesus Cristo, correu o perigo de ser morto mesmo antes de nascer. María poderia ter sido apedrejada caso Deus não tivesse alertado José, e se isso tivesse realmente acontecido, Jesus seria morto antes de nascer. No entanto, o Cristo continuou sofrendo perigo de morte após seu nascimento, sendo ainda um bebê indefeso. 

Por isso, a fim de protegê-lo, o Pai guiou José a se mudar duas vezes de cidade, até que o perigo passasse. No entanto, devido à fúria de Herodes com relação ao desvio de rota dos magos e ao medo que ele tinha de que Israel fosse liberta do domínio romano, outras crianças acabaram pagando com suas vidas por causa da existência de Jesus. Vejamos o trecho a seguir:

"Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu a José em sonho e disse-lhe: "Levante-se, tome o menino e sua mãe, e fuja para o Egito. Fique lá até que eu lhe diga, pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo". Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe durante a noite, e partiu para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "Do Egito chamei o meu filho". Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos. Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias: "Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem". Depois que Herodes morreu, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse: "Levante-se, tome o menino e sua mãe, e vá para a terra de Israel, pois estão mortos os que procuravam tirar a vida do menino". Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, e foi para a terra de Israel. Mas, ao ouvir que Arquelau estava reinando na Judéia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Tendo sido avisado em sonho, retirou-se para a região da Galiléia e foi viver numa cidade chamada Nazaré. Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno." (Mateus 2:13-23)

Após a partida dos sábios que vieram do oriente conhecer e adorar o pequeno Jesus, o Pai avisou a José que se mudasse para o Egito para que o Cristo continuasse vivo. Com isso, se cumpre a profecia do livro do profeta Oséias:

"Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho." (Oséias 11:1)

A morte das crianças de Belém e redondezas, após a fuga de José, Maria e Jesus, também foi predita no livro do profeta Jeremias:

"Assim diz o Senhor: "Ouve-se uma voz em Ramá, pranto e amargo choro; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque os seus filhos já não existem." (Jeremias 31:15)

No trajeto de volta para Israel, depois que Herodes morreu, José tinha interesse em morar na Judéia, provavelmente em Jerusalém ou em Belém mesmo. No entanto, ao saber que o filho de Herodes, Arquelau, estava no governo da província da Judéia, ficou receoso de ir morar lá, temendo pela vida do pequeno Jesus.

Então, Deus confirmou que ainda havia perigo ali caso Jesus fosse encontrado, e conduziu a família para a província da Galiléia, de volta a cidade de Nazaré, o local de onde José e Maria saíram no momento do ressenciamento ordenado por César Augusto (Lc 2:1-7), quando Maria ainda estava grávida. Com isso cumpriu-se mais uma profecia, no entanto, essa, em especial, não se encontra clara na língua portuguesa. Após pesquisarmos no Antigo Testamento, não encontraremos nenhum trecho semelhante a "Ele será chamado Nazareno."

Como a palavra Nazaré pode significar "ramo, renovo ou rebento" no hebraico, alguns estudiosos acreditam que essa profecia está relacionada a um dos trechos do livro do profeta Isaías:

"Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do Senhor repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor. E ele se inspirará no temor do Senhor." (Isaías 11:1-3)

Porém, há outros trechos no Antigo Testamento que fazem referência a esse significado, como veremos dois deles a seguir:

"E o Senhor me ordenou: "Tome prata e ouro dos exilados Heldai, Tobias e Jedaías, que chegaram da Babilônia. No mesmo dia vá à casa de Josias, filho de Sofonias. Pegue a prata e o ouro, faça uma coroa, e coloque-a na cabeça do sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. Diga-lhe que assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Aqui está o homem cujo nome é Renovo, e ele sairá do seu lugar e construirá o templo do Senhor. Ele construirá o templo do Senhor, será revestido de majestade e se assentará em seu trono para governar. E ele será sacerdote no trono." (Zacarias 6:9-13)

"Dias virão, declara o Senhor, em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra. Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça." (Jeremias 23:5,6)

Uma curiosidade: quando lemos o Evangelho de Lucas, nos deparamos com uma narrativa um pouco diferente daquela contida no Evangelho de Mateus, como se José não tivesse ido de Belém para o Egito, dando a entender que de Belém a família voltou para Nazaré. Vejamos o trecho abaixo:

"Completando-se os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, o qual lhe tinha sido dado pelo anjo antes de ele nascer. Completando-se o tempo da purificação deles, de acordo com a Lei de Moisés, José e Maria o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor (como está escrito na Lei do Senhor: "Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor") e para oferecer um sacrifício, de acordo com o que diz a Lei do Senhor: "duas rolinhas ou dois pombinhos". (...) Depois de terem feito tudo o que era exigido pela Lei do Senhor, voltaram para a sua própria cidade, Nazaré, na Galiléia. O menino crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele." (Lucas 2:21-40)

Muito provavelmente, Lucas resumiu os acontecimentos e não mencionou que após a circuncisão de Jesus, a família não voltou imediatamente para Nazaré, como afirma Mateus. Se cruzarmos as informações contidas nos dois Evangelhos, vamos entender que após a circuncisão de Jesus, a família voltou a Belém, e ficou por lá até a visita dos Magos vindos do oriente.

Após essa visita, a família se mudou para o Egito, e, algum tempo depois, voltaram para a cidade de Nazaré, onde o Senhor viveu o restante da sua infância e toda a sua juventude. Quando se tornou adulto, após ser batizado por João Batista no rio Jordão, passar pela tentação no deserto e dar início ao seu ministério, Jesus foi morar sozinho em Cafarnaum (Mt 4:13).

Missionária Oriana Costa.









terça-feira, 10 de maio de 2022

Os magos do oriente - Considerações sobre Mateus capítulo 2 - Parte 1


Quando o Pai enviou Seu Filho Unigênito Jesus, não fez isso para que Ele justificasse e reinasse apenas sobre os israelitas, mas o enviou para justificar e reinar sobre todas as nações da terra. Abrão, que era caldeu, e sua descendência, que mais tarde formaria a nação de Israel, foram escolhidos por Deus para divulgar isso ao mundo, até que Jesus finalmente viesse. 

Assim, com o passar dos séculos, muitos estrangeiros acreditaram no Reino de Deus e permaneceram aguardando sua vinda, tanto ao entrarem em contato com os profetas israelitas ou com os escritos que os profetas deixaram nas nações onde permaneceram cativos, quanto estando em visitação a Israel, onde passavam a conhecer e a assimilar os estatutos da Lei mosaica que os israelitas cumpriam, e que apontavam para a vinda de seu justificador no futuro. 

Desta forma, diversas pessoas de outras nações tornavam-se prosélitos da fé judaica e muitos outros estrangeiros acabavam se convertendo ao judaimo mesmo, alicerçando sua fé na esperança de herdarem o Reino de Deus no futuro.

Os Magos do oriente, portanto, eram estrangeiros que esperavam o Reino de Deus por conhecerem o pacto que Deus fez com Abrão e a promessa envolvida nessa aliança. Eles sabiam que o nascimento do Messias estava próximo por terem analisado as profecias que tiveram acesso fora de Israel, em suas próprias nações. 

Algumas das profecias que extraordinariamente apontam o momento em que o Messias nasceria em Israel foram feitas pelo profeta Daniel, no tempo em que os israelitas estiveram cativos na Babilônia (veja Daniel capítulos 7 e 8).

Vejamos abaixo o trecho do Evangelho de Mateus que mostra a chegada dos Magos a Israel:

"Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’ ". Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido. Enviou-os a Belém e disse: "Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo". Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no Oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino. Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra. E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram a sua terra por outro caminho." (Mateus 2:1-12)

De acordo com o texto acima, os magos vindos do oriente perceberam uma luz incomum se movimentando no céu, que eles interpretaram como sendo um sinal de que o Rei dos judeus, aquele que viria para salvar o mundo da escravidão do pecado, teria nascido. Por isso, eles decidiram seguir a luz e viajar para encontrar o Cristo e adorá-lo, pois eles desejavam o seu governo. 

As escrituras não revelam se Deus os avisou que aquela estrela diferenciada no céu era um sinal, ou eles mesmos discerniram que um sinal no céu lhes seria dado pelo conteúdo profético das escrituras.

Provavelmente, além de saberem quando o Messias iria nascer, através das profecias de Daniel, eles também conheciam as profecias de Balaão (no livro de Números) e Isaías, que falam sobre esse (provável) sinal do céu que apareceria em Israel:

"Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel. Ele esmagará as frontes de Moabe e o crânio de todos os descendentes de Sete." (Números 24:17)

"Contudo, não haverá mais escuridão para os que estavam aflitos. No passado ele humilhou a terra de Zebulom e de Naftali, mas no futuro honrará a Galiléia dos gentios, o caminho do mar, junto ao Jordão. O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz. (...) Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso. (Isaías 9:1-7)

O problema foi que quando aquela comissão procurou Herodes, este não conhecia a mensagem do Reino de Deus como aqueles visitantes, e por isso não gostou da ideia de ver Israel adquirindo autonomia e se libertando do domínio romano, pois foi essa a visão que ele teve do que poderia acontecer, caso as profecias se cumprissem. Em nenhum momento passou pela cabeça de Herodes que a missão de Jesus era justificar a humanidade de suas transgressões diante do Pai, salvando-a da morte eterna.

Tampouco, naquele momento, as lideranças religiosas de Israel desejavam ser libertas do império romano, pois, além de terem perdido o entendimento do sentido da Lei Mosaica e dos rituais que praticavam, eles se acostumaram a desfrutar de regalias e lucros para manterem o povo submisso ao governo de Roma. 

Portanto, o surgimento dos magos mostra uma situação bem inusitada, onde a grande maioria dos israelitas estava totalmente alheia ao nascimento do Messias que eles deveriam estar aguardando, enquanto pessoas de outras nações estavam vigilantes esperando a vinda daquele que pagaria o preço pelos pecados de toda a humanidade, e simplesmente chegaram em Israel para ADORAR o Rei dos judeus que eles JÁ SABIAM que tinha nascido.

De fato, veremos no estudo seguinte que, quando os magos chegaram até Herodes, Jesus já devia estar próximo dos dois anos de idade.

Se o Pai não tivesse mandado os anjos avisarem os pastores israelitas que estavam nos campos próximos à cidade de Belém para virem testemunhar em primeira mão o nascimento do Cristo, as únicas pessoas que teriam testemunhado que o Cristo tinha nascido, cumprindo as profecias, seriam indivíduos vindos de outras nações, que por conhecerem e confiarem nas palavras proféticas contidas nas escrituras seguiram uma estrela no céu até chegar a Jesus.

Notamos no trecho de Mateus que lemos parágrafos acima que Herodes comunicou a chegada dos visitantes, e toda a Jerusalém ficou sabendo desse ocorrido. No entanto, apesar da notícia ter causado grande perturbação ao povo, os israelitas, e especialmente os líderes religiosos, não se moveram para ir junto com os magos a Belém verificar se realmente o Messias estava lá. Eles simplesmente ignoraram o evento.

De qualquer forma, essas coisas aconteceram para que as escrituras se cumprissem, e o Senhor Jesus realmente ficasse no anonimato até o início de seu ministério terreno.

Sobre os presentes que os magos entregaram, há uma grande ligação profética entre eles e os artefatos que eram usados no Templo em Jerusalém, que o tempo todo evocavam a necessidade de um justificador para o povo de Israel e para todas as outras nações da Terra. 

De fato, muitos objetos usados no Templo eram de ouro (confira a partir de Êxodo 25), e também havia um altar onde o incenso era constantemente queimado (Êx 30:1), e a mirra era um dos componentes principais usados na confecção do óleo da unção usado no Templo pelos sacerdotes (Êx 30:22-29).

Para finalizar nosso estudo, vamos desfazer aqui alguns mitos em relação aos magos. Em primeiro lugar, os magos não eram necessariamente reis, apesar de entregarem a Jesus presentes caros e de não encontrarem dificuldade de se dirigir a Herodes. Eles eram homens de posses, sábios, estudiosos daquele tempo, que muito provavelmente eram nativos de nações do oriente que ficavam próximas a Israel naquela época, como Egito, Pérsia, etc.. 

Em nenhum momento encontramos qualquer palavra nas escrituras onde os magos sejam chamados de reis. Inclusive, na versão King James nós podemos ler o seguinte:

"Após o nascimento de Jesus em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, eis que alguns sábios vindos do Oriente chegaram a Jerusalém. E, indagavam: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Pois do Oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo."

Em segundo lugar, não conta nas escrituras que os magos eram um grupo de três indivíduos nem tampouco os nomes deles são citados. De fato, não se sabe quantos homens formavam a caravana de sábios que estiveram em Israel querendo conhecer o Cristo, no entanto, podemos acreditar que eram mais de três indivíduos de diferentes nacionalidades.

Missionária Oriana Costa.


quarta-feira, 4 de maio de 2022

Nascimento de Jesus - Considerações sobre Mateus capítulo 1 - Parte 2


Dando continuidade ao nosso estudo inicial do Evangelho de Mateus, vamos fazer aqui uma análise do momento em que Maria, filha de Eli (veja a genealogia materna de Jesus em Lc 3:23) engravida pela ação do Espírito de Deus e se torna mãe de Jesus. Em seguida, também veremos as profecias que se relacionam ao evento presentes no Antigo Testamento.

Vejamos o trecho abaixo:

"Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente. Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: "José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados". Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: "A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel" que significa "Deus conosco". Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa. Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus." (Mateus 1:18-25)

O Evangelho de Mateus começa explicando como Maria engravidou de Jesus, dizendo que foi pelo Espírito Santo, mas não explica como isso aconteceu. No entanto, encontramos informações mais detalhadas sobre o evento no Evangelho de Lucas, como veremos a seguir:

"Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, cidade da Galiléia, a uma virgem prometida em casamento a certo homem chamado José, descendente de Davi. O nome da virgem era Maria. O anjo, aproximando-se dela, disse: "Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!" Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim". Perguntou Maria ao anjo: "Como acontecerá isso, se sou virgem?" O anjo respondeu: "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, sua parenta, terá um filho na velhice; aquela que diziam ser estéril já está em seu sexto mês de gestação. Pois nada é impossível para Deus". Respondeu Maria: "Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra". Então o anjo a deixou. (Lucas 1:26-38)

Dá para notar a diferença na abordagem dos dois Evangelhos, pois observamos que Mateus mostra como as coisas aconteceram do ponto de vista de José, enquanto Lucas mostra os fatos do ponto de vista de Maria. Assim, ambos os Evangelhos apontam que tanto o pai adotivo de Jesus quanto sua mãe biológica receberam a visita de um anjo em separado, a fim de avisá-los e prepará-los devidamente para o que iria acontecer.

O Evangelho de Mateus também relata que ao ouvir de Maria o que tinha acontecido, José não conseguiu acreditar nela, e resolveu desistir do casamento, sem, no entanto, expor Maria à humilhação, por ser um homem justo. Com isso percebemos que José honrava os mandamentos da Lei, mas não agia como os fariseus, que se satisfaziam em mostrar superioridade e em humilhar os outros publicamente.

Se, contudo, José tivesse exposto Maria, ela seria vista como uma traidora, alguém que teve relações com outro homem mesmo estando prometida em casamento, e seria condenada à morte pela Lei, que diz:

"Se numa cidade um homem se encontrar com uma jovem prometida em casamento e se deitar com ela, levem os dois à porta daquela cidade e apedrejem-nos até à morte: a moça porque estava na cidade e não gritou por socorro, e o homem porque desonrou a mulher doutro homem. Eliminem o mal do meio de vocês." (Deuteronômio 22:23,24)

Portanto, ao aceitar a maternidade sem ainda estar casada, Maria sabia que era algo arriscado e que poderia lhe custar a vida. Mesmo assim, ela aceitou a proposta que Deus lhe fez e confiou que Ele a livraria. E isso não foi por acaso: o nome de Jesus tem um significado importante, e que fez Maria acreditar que Deus a livraria da morte.

O anjo que falou com Maria e depois com José explica-lhes que eles deveriam chamar o bebê de Emanuel (palavra hebraica que significa "Deus conosco") ou de Jesus. O nome Jesus em grego significa "Josué" que quer dizer "o Senhor salva" e no aramaico significa "Yeshua" que quer dizer "salvar" ou "salvação".

Outra informação importante que Mateus nos passa é que José e Maria viveram como um casal normal após o nascimento de Jesus. 

"Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa. Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. (Mateus 1:24,25)

Essa situação é bastante combatida por alguns, que afirmam ter Maria continuado virgem mesmo casada com José, os dois vivendo como amigos e criando apenas um filho, e que os irmãos e irmãs de Jesus citados nos outros trechos dos Evangelhos seriam primos e primas do Senhor.

No entanto, era inadimiscivel que José estivesse casado com Maria e não vivesse maritalmente com ela, devido aos costumes e valores da época, advindos da própria palavra de Deus. Sem falar que o relacionamento sexual que acontece dentro do casamento não poderia jamais ser algo pecaminoso, ao contrário, ele é uma benção dada por Deus ao casal, pois gera filhos e, depois disso, ele serve para manter nutrida uma profunda intimidade entre os dois ao longo dos anos, além de livrar ambos de tentações. Veja o que o Apóstolo Paulo fala sobre esse assunto em 1 Coríntios 7:1-6.

"Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá." (Salmos 127:3)

"O homem justo leva uma vida íntegra; como são felizes os seus filhos!" (Provérbios 20:7)

Também, naquele tempo não se fazia controle de natalidade e mulheres casadas não evitavam gravidez, sendo, por isso, uma situação bastante comum que as famílias fossem grandes, com muitos filhos. Na verdade, quanto mais filhos um casal tinha, mais bem vistos na sociedade ele era.

A vontade do Criador para um jovem casal de justos, abençoados por Ele, está expressa nas escrituras, que diz o seguinte:

"Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se!" (Gênesis 1:27,28)

"Como é feliz quem teme ao Senhor, quem anda em seus caminhos! Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero. Sua mulher será como videira frutífera em sua casa; seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua mesa. Assim será abençoado o homem que teme ao Senhor!" (Salmos 128:1-4)

Então, é verdade que Jesus teve meios irmãos e irmãs, e não houve nada mais correto da parte do Pai do que conceder filhos de sangue a José, homem temente a Deus, através de sua esposa, Maria. A confirmação disso está em Mateus 13:55,56 e Marcos 6:3.

Continuando nosso estudo, agora vamos analisar onde e como Jesus Cristo nasceu. No Evangelho de Mateus não encontramos informações sobre o local de nascimento de Cristo e como isso aconteceu, contudo, em Lucas vamos achar essas informações com detalhes:

"Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galiléia para a Judéia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho. Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. (...) De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor". Quando os anjos os deixaram e foram para o céu, os pastores disseram uns aos outros: "Vamos a Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos deu a conhecer". Então correram para lá e encontraram Maria e José, e o bebê deitado na manjedoura. Depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito daquele menino, e todos os que ouviram o que os pastores diziam ficaram admirados. Maria, porém, guardava todas essas coisas e sobre elas refletia em seu coração. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, como lhes fora dito." (Lucas 2:1-20)

Então, mais uma vez, assim como foram enviados anjos para avisar a Maria e a José sobre a gravidez sobrenatural, eles também são enviados, só que desta vez, aos pastores que estavam no campo próximo à cidade de Belém, a fim de anunciar-lhes a chegada do Messias a este mundo.

Outra curiosidade sobre o nascimento de Jesus, é que, de acordo com a narrativa de Lucas, José e Maria estavam viajando quando ela deu à luz. E no texto notamos que o casal tinha recursos, pois iam ficar numa hospedaria. 

Acontece que, como a hospedaria estava lotada, na emergência do parto de Maria eles tiveram que se ajeitar num outro ambiente ali perto, provavelmente uma estrebaria, que era o espaço anexo das hospedarias reservado para os viajantes deixarem seus cavalos ou outros animais que usavam na viagem. Dessa forma, José e Maria improvisaram numa das manjedouras que havia ali, o berço para colocar o pequeno Jesus. 

A manjedoura era um recipiente grande de madeira onde os animais se alimentavam.

Portanto, o fato do Senhor ter nascido num estábulo em Belém, e ter sido colocado numa manjedoura após nascer não indica que sua família era pobre, mas isso aconteceu provisoriamente, como um sinal de Deus especialmente para os israelitas. 

De fato, o Rei Jesus Cristo, apesar de sua divindade e, como homem, ser de linhagem real, veio ao mundo exclusivamente para pagar o preço da nossa redenção, e esse preço alto ele pagou por toda a sua vida, desde a hora que nasceu, quando ainda ele mesmo não tinha noção de quem era.

Então, o Pai deu ao mundo através de Seu Filho muitos sinais de que ele cumpriria a promessa de salvação da humanidade, e um deles foi fazer com que o nascimento de Jesus acontecesse num local muito simples, com animais por perto e sem muita limpeza ou conforto, onde nem mesmo uma pessoa muito pobre naquele tempo gostaria de estar ali para dar à luz um filho. E foi essa situação que o Pai fez questão que os pastores de Belém testemunhassem naquele momento.

Por isso, desde o nascimento, Jesus Cristo não poderia ostentar ou aparentar majestade, e em sua vida não poderia possuir nada material que atraísse a atenção dos outros. 

"Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que o desejássemos." (Isaías 53:2)

As únicas coisas que atrairam mesmo as pessoas a Jesus foram o seu extraordinário ensino sobre o Reino de Deus, e os milagres e prodígios que realizou em seu ministério terreno, e estes últimos para confirmar a existência desse Reino e também o desejo que o Pai tem de ver o homem que Ele criou participando desse lugar novamente, e usufruindo de todas as maravilhas que há nele, como acontecia antes do pecado de Adão. 

Para concluirmos nosso estudo, vejamos as profecias que se relacionam ao nascimento de Jesus e são direta ou indiretamente citadas em Mateus e Lucas. Abaixo, sobre a virgem que conceberia:

"Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel." (Isaías 7:14)

Sobre o descendente de Davi que viria a fim de governar para sempre:

"Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso." (Isaías 9:6,7)

"Quanto a você, sua dinastia e seu reino permanecerão para sempre diante de mim; o seu trono será estabelecido para sempre." (2 Samuel 7:16)

O Messias nasceria em Belém:

"Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos." (Miquéias 5:2)

Missionária Oriana Costa.