terça-feira, 10 de maio de 2022

Os magos do oriente - Considerações sobre Mateus capítulo 2 - Parte 1


Quando o Pai enviou Seu Filho Unigênito Jesus, não fez isso para que Ele justificasse e reinasse apenas sobre os israelitas, mas o enviou para justificar e reinar sobre todas as nações da terra. Abrão, que era caldeu, e sua descendência, que mais tarde formaria a nação de Israel, foram escolhidos por Deus para divulgar isso ao mundo, até que Jesus finalmente viesse. 

Assim, com o passar dos séculos, muitos estrangeiros acreditaram no Reino de Deus e permaneceram aguardando sua vinda, tanto ao entrarem em contato com os profetas israelitas ou com os escritos que os profetas deixaram nas nações onde permaneceram cativos, quanto estando em visitação a Israel, onde passavam a conhecer e a assimilar os estatutos da Lei mosaica que os israelitas cumpriam, e que apontavam para a vinda de seu justificador no futuro. 

Desta forma, diversas pessoas de outras nações tornavam-se prosélitos da fé judaica e muitos outros estrangeiros acabavam se convertendo ao judaimo mesmo, alicerçando sua fé na esperança de herdarem o Reino de Deus no futuro.

Os Magos do oriente, portanto, eram estrangeiros que esperavam o Reino de Deus por conhecerem o pacto que Deus fez com Abrão e a promessa envolvida nessa aliança. Eles sabiam que o nascimento do Messias estava próximo por terem analisado as profecias que tiveram acesso fora de Israel, em suas próprias nações. 

Algumas das profecias que extraordinariamente apontam o momento em que o Messias nasceria em Israel foram feitas pelo profeta Daniel, no tempo em que os israelitas estiveram cativos na Babilônia (veja Daniel capítulos 7 e 8).

Vejamos abaixo o trecho do Evangelho de Mateus que mostra a chegada dos Magos a Israel:

"Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’ ". Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido. Enviou-os a Belém e disse: "Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo". Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no Oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino. Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra. E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram a sua terra por outro caminho." (Mateus 2:1-12)

De acordo com o texto acima, os magos vindos do oriente perceberam uma luz incomum se movimentando no céu, que eles interpretaram como sendo um sinal de que o Rei dos judeus, aquele que viria para salvar o mundo da escravidão do pecado, teria nascido. Por isso, eles decidiram seguir a luz e viajar para encontrar o Cristo e adorá-lo, pois eles desejavam o seu governo. 

As escrituras não revelam se Deus os avisou que aquela estrela diferenciada no céu era um sinal, ou eles mesmos discerniram que um sinal no céu lhes seria dado pelo conteúdo profético das escrituras.

Provavelmente, além de saberem quando o Messias iria nascer, através das profecias de Daniel, eles também conheciam as profecias de Balaão (no livro de Números) e Isaías, que falam sobre esse (provável) sinal do céu que apareceria em Israel:

"Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel. Ele esmagará as frontes de Moabe e o crânio de todos os descendentes de Sete." (Números 24:17)

"Contudo, não haverá mais escuridão para os que estavam aflitos. No passado ele humilhou a terra de Zebulom e de Naftali, mas no futuro honrará a Galiléia dos gentios, o caminho do mar, junto ao Jordão. O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz. (...) Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso. (Isaías 9:1-7)

O problema foi que quando aquela comissão procurou Herodes, este não conhecia a mensagem do Reino de Deus como aqueles visitantes, e por isso não gostou da ideia de ver Israel adquirindo autonomia e se libertando do domínio romano, pois foi essa a visão que ele teve do que poderia acontecer, caso as profecias se cumprissem. Em nenhum momento passou pela cabeça de Herodes que a missão de Jesus era justificar a humanidade de suas transgressões diante do Pai, salvando-a da morte eterna.

Tampouco, naquele momento, as lideranças religiosas de Israel desejavam ser libertas do império romano, pois, além de terem perdido o entendimento do sentido da Lei Mosaica e dos rituais que praticavam, eles se acostumaram a desfrutar de regalias e lucros para manterem o povo submisso ao governo de Roma. 

Portanto, o surgimento dos magos mostra uma situação bem inusitada, onde a grande maioria dos israelitas estava totalmente alheia ao nascimento do Messias que eles deveriam estar aguardando, enquanto pessoas de outras nações estavam vigilantes esperando a vinda daquele que pagaria o preço pelos pecados de toda a humanidade, e simplesmente chegaram em Israel para ADORAR o Rei dos judeus que eles JÁ SABIAM que tinha nascido.

De fato, veremos no estudo seguinte que, quando os magos chegaram até Herodes, Jesus já devia estar próximo dos dois anos de idade.

Se o Pai não tivesse mandado os anjos avisarem os pastores israelitas que estavam nos campos próximos à cidade de Belém para virem testemunhar em primeira mão o nascimento do Cristo, as únicas pessoas que teriam testemunhado que o Cristo tinha nascido, cumprindo as profecias, seriam indivíduos vindos de outras nações, que por conhecerem e confiarem nas palavras proféticas contidas nas escrituras seguiram uma estrela no céu até chegar a Jesus.

Notamos no trecho de Mateus que lemos parágrafos acima que Herodes comunicou a chegada dos visitantes, e toda a Jerusalém ficou sabendo desse ocorrido. No entanto, apesar da notícia ter causado grande perturbação ao povo, os israelitas, e especialmente os líderes religiosos, não se moveram para ir junto com os magos a Belém verificar se realmente o Messias estava lá. Eles simplesmente ignoraram o evento.

De qualquer forma, essas coisas aconteceram para que as escrituras se cumprissem, e o Senhor Jesus realmente ficasse no anonimato até o início de seu ministério terreno.

Sobre os presentes que os magos entregaram, há uma grande ligação profética entre eles e os artefatos que eram usados no Templo em Jerusalém, que o tempo todo evocavam a necessidade de um justificador para o povo de Israel e para todas as outras nações da Terra. 

De fato, muitos objetos usados no Templo eram de ouro (confira a partir de Êxodo 25), e também havia um altar onde o incenso era constantemente queimado (Êx 30:1), e a mirra era um dos componentes principais usados na confecção do óleo da unção usado no Templo pelos sacerdotes (Êx 30:22-29).

Para finalizar nosso estudo, vamos desfazer aqui alguns mitos em relação aos magos. Em primeiro lugar, os magos não eram necessariamente reis, apesar de entregarem a Jesus presentes caros e de não encontrarem dificuldade de se dirigir a Herodes. Eles eram homens de posses, sábios, estudiosos daquele tempo, que muito provavelmente eram nativos de nações do oriente que ficavam próximas a Israel naquela época, como Egito, Pérsia, etc.. 

Em nenhum momento encontramos qualquer palavra nas escrituras onde os magos sejam chamados de reis. Inclusive, na versão King James nós podemos ler o seguinte:

"Após o nascimento de Jesus em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, eis que alguns sábios vindos do Oriente chegaram a Jerusalém. E, indagavam: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Pois do Oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo."

Em segundo lugar, não conta nas escrituras que os magos eram um grupo de três indivíduos nem tampouco os nomes deles são citados. De fato, não se sabe quantos homens formavam a caravana de sábios que estiveram em Israel querendo conhecer o Cristo, no entanto, podemos acreditar que eram mais de três indivíduos de diferentes nacionalidades.

Missionária Oriana Costa.


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