Neste texto vamos fazer a análise do momento em que Jesus Cristo vai para o deserto da Judéia, e ali passa por uma fase de provação antes de iniciar seu trabalho de anunciação do Reino de Deus, para, finalmente, se oferecer como sacrifício em nosso favor diante do Pai.
Esse momento foi curto, durou quarenta dias, porém, foi intenso, no qual Jesus foi provado até o limite da sua vida, ficando sem comer durante todo esse período. Chegando ao fim do jejum, já com o corpo bem enfraquecido, Ele precisou estar seguro com relação à vontade do Pai e ao conteúdo das escrituras, para não sair do plano no qual manter a sua integridade era fundamental.
Abaixo vamos ler o trecho do Evangelho de Mateus que relata essa fase especial da vida e ministério do Senhor Jesus:
"Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: "Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães". Jesus respondeu: "Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’". Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: "Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’". Jesus lhe respondeu: "Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’". Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar". Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram." (Mateus 4:1-11)
Um pouco antes de ir para o deserto e iniciar esse período de provação, o Senhor havia passado pelo batismo no Rio Jordão, como vimos no estudo anterior - O batismo de Jesus. E assim como o batismo de Jesus está ligado aos acontecimentos passados publicados no Antigo Testamento, o tempo em que Ele foi provado no deserto também está.
Estes dias que Jesus passou no deserto foi um sinal importante para os israelitas. Essa fase do ministério de Cristo se relacionou ao tempo em que o povo de Israel passou quarenta anos no deserto do Sinai, até que finalmente pudessem entrar em Canaã, a terra prometida.
A seguir, vejamos um trecho no livro de Salmos que nos revela o porquê do povo ter sido mantido no deserto por quatro décadas:
"Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como em Meribá, como aquele dia em Massá, no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de terem visto o que eu fiz. Durante quarenta anos fiquei irado contra aquela geração e disse: "Eles são um povo de coração ingrato; não reconheceram os meus caminhos". Por isso jurei na minha ira: "Jamais entrarão no meu descanso"". (Salmos 95:7-11)
Depois que o povo foi liberto da escravidão no Egito, infelizmente não se manteve focado em Deus. Os israelitas endureceram o coração, se tornaram ingratos e não reconheceram os preceitos da reta justiça de Deus (não reconheceram seus caminhos), segundo o que lemos no trecho bíblico contido no parágrafo anterior.
Então, o Senhor manteve o povo no deserto sem poder entrar em Canaã, até que aquela geração que havia sido liberta tivesse morrido. Somente a geração seguinte foi autorizada a conquistar a terra prometida a Moisés e possuí-la. Assim, Deus falou o seguinte ao sucessor de Moisés:
"Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: "Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, você e todo este povo, preparem-se para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu estou para dar aos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a terra dos hititas, até o mar Grande, no oeste. Ninguém conseguirá resistir a você, todos os dias da sua vida. (...) Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar". (Josué 1:1-9)
A relação entre o que aconteceu aos israelitas no deserto e a provação de Jesus num lugar semelhante é que, ao contrário do que sucedeu ao povo de Israel naqueles quarenta anos, estando eles num território inóspito (Dt 8:15,16), contudo, sem que Deus não lhes deixasse faltar nada (Nm 9:21) - ainda que muitas vezes desprezassem seus decretos e não obedecessem a Ele como deveriam -, Jesus foi para o deserto da Judéia passar quarenta dias, porém, sendo tentado por Satanás e sem comer nada, sem estar numa casa ou numa tenda, e cercado de animais selvagens.
Nos Evangelhos de Marcos e Lucas encontramos os trechos que complementam as informações contidas em Mateus:
"Logo após, o Espírito o impeliu para o deserto. Ali esteve quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Estava com os animais selvagens, e os anjos o serviam." (Marcos 1:12,13)
"Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve fome." (Lucas 4:1,2)
Jesus suportou passar quarenta dias sendo tentado pelo Diabo, sem comer, sem conforto, e cercado de perigos, por estar cheio do Espírito Santo, e estar convicto da vontade do Pai. Ele tinha uma missão especial a cumprir, e isso ia requerer dele uma postura incorruptível e plenamente justa, que o povo de Israel infelizmente não apresentou logo após ser liberto da escravidão no Egito. Por isso, Ele precisou ser provado dessa forma antes de começar a anunciar o Seu Reino.
Lembrando que tudo o que houve com Jesus, desde o momento em que Maria engravidou do Espírito Santo até a ressurreição, foi devidamente predito nas escrituras. Tudo o que aconteceu com Cristo estava intimamente relacionado ao início da criação, ao Dilúvio, aos mandamentos da Lei Mosaica e às palavras dos profetas, no entanto, se sucedendo de forma abreviada.
Assim sendo, enquanto os israelitas passaram quarenta anos no deserto do Sinai sendo provados (Dt 8:2,3), Jesus passou quarenta dias. Cada dia de Cristo ali equivale a um ano dos israelitas no tempo de Moisés.
Retomando a análise da fase em que Cristo esteve no deserto jejuando, ao final de quarenta dias sem comer, Ele teve fome. Para quem nunca jejuou ou não tem conhecimento sobre jejum, pode parecer estranho que o Senhor só tenha sentido fome após todo esse tempo sem comer.
Mas, o que ocorre normalmente é que, no início do jejum o indivíduo sente fome, contudo, à medida que o tempo passa, essa fome reduz e aquieta, de modo que a pessoa não sente mais o incômodo.
Porém, depois de algum tempo sem comer, só tomando água, isso varia de pessoa para pessoa - quarenta dias é o tempo máximo que um adulto pode suportar vivo sem se alimentar -, a fome volta de uma maneira muito forte, sinalizando que se a pessoa não repor as energias naquele momento, o corpo não vai mais aguentar vivo.
Então, foi sentindo a fome de uma inanição, com o corpo totalmente fraco, que Jesus suportou a pior tentação que Satanás lhe fez durante aqueles quarenta dias, lembrando que as escrituras esclarecem que Jesus foi tentado por Satanás durante todo o tempo do jejum (Mc 1:13 e Lc 4:2).
Mesmo enfraquecido e com uma fome insuportável para um ser humano comum, Ele foi capaz de resistir às tentações, mantendo sua integridade diante do Pai, sem se desviar do propósito para o qual sua vida estava designada desde o início da criação.
Observando os relatos dos Evangelhos, vemos que Satanás não tentou Jesus de qualquer forma, na sua última investida. Ele o fez com base em três pontos chaves da fé em Deus que estão contidos na Lei Mosaica, aquela mesma que foi entregue aos israelitas no deserto do Sinai e eles, movidos por seus desejos carnais, a desobedeceram.
O Diabo estava na expectativa de que o Filho de Deus também a transgredisse em algum momento, movido pelo desespero, visto que seu corpo estava desconfortável e fraco, beirando a morte.
Vejamos abaixo, quais foram os três mandamentos da Lei que o Maligno tentou fazer o Cristo infringir:
1-Ele tentou fazer Cristo desprezar a palavra de Deus.
Satanás aproveita o estado de fraqueza física do Senhor, e sugere a ele transformar pedras em pães (Mt 4:3 e Lc 4:3), para que, agindo por medo de morrer e pelo desespero da fome, colocasse a palavra de Deus em segundo plano. Porém, Cristo rebate citando um trecho do livro de Deuteronômio.
Vejamos onde está inserida a resposta que o Senhor deu ao Diabo:
"Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhe que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor." (Deuteronômio 8:2,3)
Se Jesus tivesse cedido àquela tentação, não teria dado o sinal de integridade que o Pai esperava receber dele, que deveria contrariar o comportamento reprovável dos israelitas no passado.
2-Ele tentou fazer Cristo ficar confuso e duvidar do Pai.
Usando um trecho bem conhecido do livro de Salmos, e que é profético, o Diabo tenta persuadir o Cristo a duvidar que o Pai o livraria da morte, colocando-o no ponto mais alto do templo e sugerindo que ele testasse se realmente o Pai iria livrá-lo, se atirando de lá (Mt 4:5,6 e Lc 4:9-11):
"Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra." (Salmos 91:11,12)
E Jesus, mais uma vez, resiste à tentação com um trecho da Lei:
"Não ponham à prova o Senhor, o seu Deus, como fizeram em Massá. Obedeçam cuidadosamente aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, e aos preceitos e decretos que ele lhes ordenou." (Deuteronômio 6:16,17)
Massá foi o lugar do deserto do Sinai onde os israelitas, após terem sido libertos da escravidão no Egito, se desesperaram por causa da sede que sentiam, e começaram a agir por incredulidade, colocando à prova se Deus realmente estava agindo em favor deles ou não:
"O povo estava sedento e reclamou a Moisés: "Por que você nos tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?" Então Moisés clamou ao Senhor: "Que farei com este povo? Estão a ponto de apedrejar-me!" Respondeu-lhe o Senhor: "Passe à frente do povo. Leve com você algumas das autoridades de Israel, tenha na mão a vara com a qual você feriu o Nilo e vá adiante. Eu estarei à sua espera no alto da rocha que está em Horebe. Bata na rocha, e dela sairá água para o povo beber". Assim fez Moisés, à vista das autoridades de Israel. E chamou aquele lugar Massá e Meribá, porque ali os israelitas reclamaram e puseram o Senhor à prova, dizendo: "O Senhor está entre nós, ou não?" (Êxodo 17:3-7)
3-Ele tentou fazer Jesus desistir de ser sacrificado para justificar toda a humanidade.
Na última tentação, buscando fazer o homem Jesus desejar reinar sobre toda a terra sem ser sacrificado, o Maligno mostra-lhe todos os reinos do mundo, pois naquele momento eles estavam sob seu domínio. No entanto, a condição para que Jesus reinasse ali era reconher somente a autoridade do Diabo sobre sua vida, e não a do Pai, prostando-se para adorá-lo (Mt 4:8-10 e Lc 4:5-8.
Quando adoramos alguém (reclinando o corpo de joelhos com a face voltada para o chão) estamos reconhecendo que aquela pessoa tem autoridade máxima sobre nossas vidas, e confirmando que estamos inteiramente submissos a ela.
Se Jesus tivesse se deixado levar pela oferta, a humanidade não teria uma justificação disponível para seus pecados, e ele seria destruído pelo Pai junto com Satanás, pois, assim como foi a resposta de Cristo ao Diabo, a Lei declara:
"Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto, e jurem somente pelo seu nome. Não sigam outros deuses, os deuses dos povos ao redor; pois o Senhor, o seu Deus, que está no meio de vocês, é Deus zeloso; a ira do Senhor, o seu Deus, se acenderá contra vocês, e ele os banirá da face da terra." (Deuteronômio 6:13-15)
Terminada a prova, Satanás deixou Jesus por algum tempo e os anjos vieram cuidar do Senhor, pois Ele estava muito fraco e isolado, longe das cidades e sem acesso à ajuda humana. Logo após sua reabilitação, Ele se dirigiu à Galiléia e ficou um pouco de tempo em Nazaré, onde iniciou seu trabalho de anunciação do Reino, depois foi morar em Carfanaum.
Missionária Oriana Costa.
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