sábado, 5 de novembro de 2022

Sigam-me - Considerações sobre Mateus capítulo 4 - Parte 3


Dando continuidade ao nosso estudo do Evangelho de Mateus, vamos analisar o período em que o Senhor Jesus começa a formar sua equipe, fazendo seus primeiros discípulos e, em seguida, escolhendo dentre eles aqueles que dariam continuidade ao trabalho de divulgação da mensagem do Reino e do cuidado daqueles que fossem se juntando à família de Deus.

Nessa fase Jesus viaja bastante, visita muitas cidades e povoados, entra nas sinagoas para ensinar, como também ensina às multidões em acampamentos, e, nesse processo, realiza muitos milagres por onde vai passando. Nos estudos seguintes veremos esses acontecimentos com mais detalhes.

Voltando para nossa análise, vamos entender como Jesus formou sua equipe de doze apóstolos. Mas, antes de prosseguir, é bom entendermos que a palavra "apóstolo" significa aquele que se dedica à defesa e propagação de uma doutrina ou de um ideal. E a palavra "discípulo" significa aprendiz, aluno receptivo a ensinamentos.

As palavras "apóstolo" e "discípulo" não são usadas unicamente no âmbito religioso, mas em quaisquer assuntos seculares em que alguém se dispõe a propagar determinados conceitos ou conhecimentos ainda desconhecidos ou não dominados pela maioria das pessoas, no caso do nome "apóstolo", e quando pessoas resolvem seguir determinado propagador de conceitos, doutrinas, filosofias ou conhecimentos, no caso do nome "discípulos".

Os apóstolos de Jesus Cristo, que também eram discípulos dele, foram preparados pelo Senhor para continuar a propagar oficialmente a mensagem do Reino de Deus como autoridades designadas pelo próprio Deus, depois de sua ascenção aos céus, e os demais discípulos, por conseguinte, seguiam aprendendo os preceitos do Reino e como praticá-los.

Então, voltando para a análise do Evangelho de Mateus, ao deixar Nazaré, a cidade onde morou desde a infância, para fixar residência em Carfanaum com sua mãe e seus irmãos (Mt 4:13-16), Jesus continua o trabalho de anunciação do Seu Reino, e segue atraindo muitos seguidores. 

Lembrando aqui que a cidade natal de Jesus não foi Nazaré, que ficava na província da Galiléia e sim Belém, situada na província da Judéia, e essa informação ficou esquecida durante o período do ministério de Jesus Cristo. Como Ele foi criado e morou até a fase adulta em Nazaré, era conhecido como Jesus de Nazaré e isso escondia dos judeus/fariseus que Ele era o Cristo, e que seu nascimento ocorreu conforme o que já estava predito nas escrituras em Miquéias 5:2.

Prosseguindo com nosso estudo, vejamos a seguir o que aconteceu no período em que Jesus sai de Nazaré para morar em Carfanaum:

"Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo". Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram. Indo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Eles estavam num barco com seu pai, Zebedeu, preparando as suas redes. Jesus os chamou, e eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, o seguiram. E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava. E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão."(Mateus 4:17-25)

Os outros três evangelhos fornecem informações complementares ao de Mateus, de como Cristo foi escolhendo dentre seus primeiros discípulos, aqueles que aprenderiam mais sobre o Reino de Deus a fim de anunciá-lo - veja em Marcos 1:14 até Marcos 3:19, Lucas 4:14 até Lucas 6:11 e João 1:35 até o capítulo 3.

Como os trechos para análise são muito longos, não serão todos transcritos aqui no nosso texto, mas vamos seguir comentando os acontecimentos por meio de uma comparação detalhada entre eles. 

O Evangelho de Marcos confirma o conteúdo do Evangelho de Mateus, onde Cristo, após deixar o deserto da Judéia, se dirigiu à região costeira da Galiléia a fim de chamar os dois irmãos filhos do pescador Jonas, André e Simão, e em seguida chamar mais outros dois irmãos, filhos do pescador Zebedeu, Tiago e João. 

Também nesse Evangelho vemos que Jesus chamou em Carfanaum a Levi (Mateus), filho de Alfeu, que era um publicano ou cobrador de impostos. No momento em que foi chamado por Cristo, Levi estava sentado na coletoria, o local onde os impostos dos israelitas eram recolhidos (veja também em Mt 9:9, Lc 5:27-29). 

Por fim, no capítulo 3 de Marcos, vemos que o Senhor Jesus sobe em um determinado monte para orar (o nome do monte não é falado no texto - veja também no capítulo 10 de Mateus e em Lucas 6:12-16) e ali nomeia oficialmente os seus doze apóstolos, dentre a multidão de discípulos que já o seguia voluntariamente, vindas de vários locais de Israel e de cidades circunvizinhas. 

Agora vejamos algumas curiosidades sobre como os discípulos que mais tarde formariam a equipe de 12 apóstolos foram chamados. De acordo com o relato dos Evangelhos, os nomes deles são Simão (Pedro, filho de Jonas) e seu irmão André, Tiago (filho de Zebedeu) e seu irmão João, Filipe, Bartolomeu (Natanael), Tomé (Dídimo), Mateus (Levi), Tiago (filho de Alfeu) e seu irmão Judas, Simão (Zelote) e Judas Iscariotes.

Ao lermos o Evangelho de João, encontraremos ainda outras informações adicionais, que detalham um pouco mais como foi que os primeiros discípulos conheceram o Senhor Jesus, e como passaram a seguir seus ensinamentos (sem ainda terem sido chamados pessoalmente por Ele):

"No dia seguinte João estava ali novamente com dois dos seus discípulos. Quando viu Jesus passando, disse: "Vejam! É o Cordeiro de Deus!" Ouvindo-o dizer isso, os dois discípulos seguiram a Jesus. Voltando-se e vendo Jesus que os dois o seguiam, perguntou-lhes: "O que vocês querem?" Eles disseram: "Rabi", (que significa Mestre), "onde estás hospedado?" Respondeu ele: "Venham e verão". Então foram, por volta das quatro horas da tarde, viram onde ele estava hospedado e passaram com ele aquele dia. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido o que João dissera e que haviam seguido a Jesus. O primeiro que ele encontrou foi Simão, seu irmão, e lhe disse: "Achamos o Messias" (isto é, o Cristo). E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: "Você é Simão, filho de João. Será chamado Cefas" (que significa Pedro). No dia seguinte Jesus decidiu partir para a Galiléia. Quando encontrou Filipe, disse-lhe: "Siga-me". Filipe, como André e Pedro, era da cidade de Betsaida. Filipe encontrou Natanael e lhe disse: "Achamos aquele sobre quem Moisés escreveu na Lei, e a respeito de quem os profetas também escreveram: Jesus de Nazaré, filho de José". Perguntou Natanael: "Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?" Disse Filipe: "Venha e veja". Ao ver Natanael se aproximando, disse Jesus: "Aí está um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade"." (João 1:35-47)

Após uma leitura minuciosa dos quatro evangelhos vamos descobrir que Cristo não saiu chamando os seus discípulos mais  chegados sem conhecê-los previamente. Pelo menos dois deles, como é o caso dos filhos do pescador Jonas, André e Simão (Pedro), por exemplo, já conheciam Jesus pessoalmente antes dele passar os quarenta dias no deserto da Judéia, como sugere o Evangelho de João. 

Ao ler os evangelhos de Mateus e Marcos temos a impressão de que Jesus não tinha contato com seus primeiros discípulos antes de chamá-los, visto que o relato desse acontecimento se encontra bem resumido nesses dois primeiros evangelhos, com poucos detalhes. 

No entanto, conferindo o evangelho de Lucas, encontraremos um trecho interessante, mostrando como foi que André, Pedro, Tiago e João foram convencidos a deixar seus trabalhos de pescadores para atender o chamado de Jesus e seguí-lo. Vejamos o relato a seguir:

"Certo dia Jesus estava perto do lago de Genesaré, e uma multidão o comprimia de todos os lados para ouvir a palavra de Deus. Viu à beira do lago dois barcos, deixados ali pelos pescadores, que estavam lavando as suas redes. Entrou num dos barcos, o que pertencia a Simão, e pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia. Então sentou-se, e do barco ensinava o povo. Tendo acabado de falar, disse a Simão: "Vá para onde as águas são mais fundas", e a todos: "Lancem as redes para a pesca". Simão respondeu: "Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes". Quando o fizeram, pegaram tal quantidade de peixe que as redes começaram a rasgar-se. Então fizeram sinais a seus companheiros no outro barco, para que viessem ajudá-lo; e eles vieram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase começarem a afundar. Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus e disse: "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!" Pois ele e todos os seus companheiros estavam perplexos com a pesca que haviam feito, como também Tiago e João, os filhos de Zebedeu, sócios de Simão. Então Jesus disse a Simão: "Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens". Eles então arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram." (Lucas 5:1-11)

O trecho acima mostra que os referidos discípulos já conheciam e seguiam Jesus antes desse acontecimento, sem, no entanto, serem muito próximos dele. 

Curiosamente, os Evangelhos de Mateus e Marcos passam a ideia de que logo após ser batizado por João Batista em Betânia, o Senhor foi para o deserto sem seguidores, e que, ao sair de lá, Ele soube que João estava preso e seguiu para Nazaré, cidade onde morava com sua família, e prosseguiu ainda sem seguidores. 

Porém, notamos que os evangelhos não deixam claro quanto tempo demorou entre o batismo de Jesus e sua ida ao deserto, e quanto tempo levou para que o Senhor ficasse sabendo que João tinha sido preso após ter saído do deserto da Judéia. Nesses intervalos, que podem ter durado uma semana ou mais, Jesus prosseguiu anunciando o Seu Reino e atraindo muitos seguidores onde passava.

Então, a narrativa contida entre os versículos 35 e 39 do primeiro capítulo do Evangelho de João aponta para um possível acontecimento anterior ao momento do deserto, e, por conseguinte, mostra que André e Simão provavelmente tiveram um encontro prévio com Jesus antes de serem convidados pessoalmente pelo Senhor a seguí-lo de perto, à beira do lago de Genesaré.

Quando o Senhor foi chamando pessoalmente aqueles que iriam fazer parte de sua equipe oficial de discípulos, tais individuos, juntos a um grande grupo de pessoas, provavelmente já acompanhavam assiduamente o seu trabalho.

Para fechar nosso estudo, vejamos os trechos biblicos onde somos informados que Jesus Cristo, após ser batizado por João Batista, atraiu um grande número de seguidores e não saiu batizando-os diretamente, assim como João fazia. No entanto, o Senhor autorizou seus discípulos a batizarem, conforme vemos abaixo:  

"Depois disso Jesus foi com os seus discípulos para a terra da Judéia, onde passou algum tempo com eles e batizava. João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e o povo vinha para ser batizado. (Isto se deu antes de João ser preso.) Surgiu uma discussão entre alguns discípulos de João e um certo judeu, a respeito da purificação cerimonial. Eles se dirigiram a João e lhe disseram: "Mestre, aquele homem que estava contigo no outro lado do Jordão, do qual testemunhaste, está batizando, e todos estão se dirigindo a ele"."(João 3:22-26)

"Os fariseus ouviram falar que Jesus estava fazendo e batizando mais discípulos do que João, embora não fosse Jesus quem batizasse, mas os seus discípulos. Quando o Senhor ficou sabendo disso, saiu da Judéia e voltou uma vez mais à Galiléia." (João 4:1-3)

Com todas essas informações, concluímos que Jesus Cristo realmente já estava atraindo muitos seguidores ou discípulos logo após ser batizado por João Batista, provavelmente antes mesmo de passar os quarenta dias no deserto ou de iniciar a realização de milagres, por causa do Seu ensino.

Missionária Oriana Costa 

Postagem publicada em 30/12/2022


  





terça-feira, 13 de setembro de 2022

Jesus inicia seu ministério - Considerações sobre Mateus capítulo 4 - parte 2


Neste estudo vamos entender o que acontece com Cristo logo após o período de provação no deserto da Judéia (leia o estudo anterior Jejuando no deserto), onde Ele dá início ao seu ministério terreno.

Algum tempo depois do término de seu jejum, enquanto seguia anunciando o Seu Reino, o Senhor fica sabendo que João Batista tinha sido preso. Essa situação sinalizou para Cristo que o momento não era propício para Ele continuar na região da Judéia, pois, além de ser seu parente, a mensagem que seria anunciada por Jesus era similar a de João, e por causa disso Ele poderia ser igualmente detido por Herodes. 

Então, como ainda não havia chegado o tempo de ser preso e sacrificado, Cristo decidiu viajar de volta para Nazaré, na Galiléia, onde sua família estava, para lá continuar divulgando o Seu Reino, ensinando nas sinagogas e fazendo muitos milagres. 

Porém, antes de ir para Nazaré, o Senhor Jesus passou adiante e hospedou-se em Betsaida, uma cidade situada no litoral da Galiléia, onde Ele foi encontrar alguns homens que escolheria para serem seus discípulos mais chegados, que foram André e seu irmão, Simão Pedro, Filipe, Natanael, e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e seu irmão João, como veremos nas informações a seguir:

"Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram. Indo um pouco mais adiante, viu num barco Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, preparando as suas redes. Logo os chamou, e eles o seguiram, deixando Zebedeu, seu pai, com os empregados no barco." (Marcos 1:16-20)

Uma narrativa similar a esta de Marcos também pode ser encontrada no Evangelho de Mateus (Mt 4:18-22), confirmando os acontecimentos. Porém, o Evangelho de João nos fornece mais algumas informações complementares bem interessantes sobre esses momentos, dando detalhes de como e onde foi o encontro de Jesus com esses homens (Jo 1:35-51).

Vale salientar que no Evangelho de João não está claro que Jesus encontrou os discípulos depois de sair do deserto da Judéia. Nós podemos chegar a essa conclusão após fazermos uma boa comparação com as descrições similares contidas nos outros três evangelhos.

No entanto, há uma hipótese (o texto não deixa claro) de que os dois primeiros discípulos que Jesus encontrou, André e Simão, provavelmente já seguiam o Senhor à distância, antes dele ir para o deserto da Judéia. De acordo com o relato do Evangelho de João, esses dois irmãos eram discípulos de João Batista e, logo após o batismo de Jesus, viram João sinalizar que Ele era o cordeiro de Deus e começaram a seguí-lo (Jo 1:35-37). 

Continuando nosso estudo, após passar algum tempo em Nazaré, em seguida o Senhor Jesus vai para Carfanaum, dando continuidade ao Seu trabalho, como veremos no trecho abaixo:

"Quando Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galiléia. Saindo de Nazaré, foi viver em Cafarnaum, que ficava junto ao mar, na região de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías: "Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios; o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz". Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo." (Mateus 4:12-17)

Nos Evangelhos de Marcos, Lucas e João também encontramos muitas informações complementares sobre o período inicial do trabalho de Cristo.

No Evangelho de Marcos, encontramos o seguinte:

"Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. "O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!"" (Marcos 1:14,15)

Já no Evangelho de Lucas, encontramos um relato mais detalhado, como lemos abaixo:

"Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado. E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: "O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restaurar a vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos. E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José? E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum. E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se. E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados. E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade." (Lucas 4:14-32)

Lucas nos mostra informações importantes sobre como se deu o início do ministério de Jesus Cristo. Somadas às narrativas dos outros Evangelhos, sabemos que o Senhor deixou o deserto da Judéia e foi para a Galiléia, dando início oficialmente ao seu ministério em uma sinagoga de Nazaré, já acompanhado de muitos seguidores, como veremos em estudos posteriores. 

E ali, apesar da sabedoria que demonstrou ter diante de todos e dos milagres que realizou por lá, as pessoas se enfureceram com ele ao serem confrontadas com a verdade dos fatos.

Vejamos abaixo onde está inserido o trecho do livro do profeta Isaías lido por Jesus Cristo na sinagoga de Nazaré:

"O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória." (Isaías 61:1-3)

Após mencionar Isaías, Jesus lembrou a verdadeira situação dos israelitas diante de Deus, mostrando sua necessidade de arrependimento perante a desobediência e incredulidade que viviam. 

Por isso, seguiu falando da viúva da cidade de Sarepta, que ficava em Sidom, regiões do Império Fenício (veja a história em 1Reis 16:29-34, 1Reis 17) e de Naamã, comandante do exército Sírio (veja a história em 2Reis 5:1-19), que, apesar de serem de outras nações (gentios), foram abençoados no lugar dos israelitas por considerarem mais a Deus.

Então, ao iniciar a pregação da mensagem do Reino na cidade em que fora criado desde a mais tenra infância, onde residia até aquele momento, e num lugar onde todos conheciam sua família e sua boa reputação, Jesus foi rapidamente rejeitado e expulso simplesmente por falar a verdade. 

As pessoas não entenderam o que viram e ouviram de Jesus, pois estavam longe de Deus, com os corações endurecidos. Ele só não foi assassinado por ter sido livrado pelo Pai do ódio da multidão, passando pelo meio das pessoas sem ser visto. Essa foi a forma como o ministério terreno de Jesus Cristo começou.

Por causa da indignação dos judeus nazarenos, Jesus saiu daquela cidade e foi continuar seu trabalho em Carfanaum, se mudando com sua família e seus discípulos para lá. A ida de Jesus para essa cidade foi predita pelo profeta Isaias, como observamos na passagem do Evangelho de Mateus citada no início deste texto. Vejamos o trecho de Isaías completo:

"Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galiléia das nações. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz." (Isaías 9:1,2)

Sobre os prodígios que Jesus fez enquanto ainda morava em Nazaré, no Evangelho de João encontramos um trecho que mostra o primeiro milagre feito por Jesus ao iniciar seu ministério, que ocorreu em um vilarejo daquela localidade: 

"No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". Respondeu Jesus: "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou". Sua mãe disse aos serviçais: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabia entre oitenta a cento e vinte litros. Disse Jesus aos serviçais: "Encham os potes com água". E os encheram até à borda. Então lhes disse: "Agora, levem um pouco do vinho ao encarregado da festa". Eles assim o fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo e disse: "Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora". Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele." (João 2:1-11)

Caná era um pequeno vilarejo situado na cidade de Nazaré. As escrituras não deixam claro se Jesus fez esse milagre antes de ir à sinagoga naquela mesma cidade, onde leu o famoso trecho de Isaías (Is 61:1-3). 

Sobre o evento ocorrido no casamento em Caná, podemos fazer uma contextualização, para entendermos melhor o que ocorreu ali. 

Antes de mais nada, essa narrativa quebra um grande tabu sobre a ingestão de vinho (bebida alcoólica) dentre os cristãos, pois, de acordo com a história, Jesus realmente transformou água em vinho, que era a principal bebida servida nos casamentos judaicos daquela época. Se Cristo fosse contra a ingestão dessa bebida, e se realmente fosse pecado beber vinho, Ele jamais teria feito aquele prodígio.

O segundo ponto, é que Maria ainda não cria em Jesus como Messias naquela ocasião, segundo o relato dos Evangelhos. Ela só veio crer em Jesus dessa forma quando já estava próximo o momento do sacrifício dele na cruz. Nas bodas de Caná, ela comentou com Jesus que o vinho tinha acabado por ele ser o chefe da família (José já havia falecido), e acreditou que ele ajudaria a resolver o problema junto com os outros homens que estavam ali. O que ela não esperava é que Jesus resolveria o problema fazendo um milagre.

Sobre a resposta que Jesus deu a sua mãe "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou" (versão NVI), a colocação das palavras pode soar como uma falta de respeito ou uma grosseria da parte de Jesus, mas não foi isso o que aconteceu ali. De fato, Jesus chamou a atenção para algo espiritual, pois há um significado profético entre a cerimônia de um casamento judaico e o sacrifício de Jesus, e que Maria certamente não entendia.

No casamento judaico, o vinho entrava em duas ocasiões. No primeiro momento, entrava no início do contrato de casamento, onde o noivo e a noiva bebiam o vinho no mesmo cálice, selando o pacto do noivado. Após um ou dois anos de preparação, os noivos novamente se encontravam para confirmar definitivamente o acordo no casamento, e voltavam a beber o vinho no mesmo cálice no primeiro dia da cerimônia, e esse cálice logo em seguida era quebrado. 

Maria comentou com Jesus que o vinho tinha acabado, esperando que Ele ajudasse a resolver o problema junto com os outros homens que estavam na festa. Mas, Jesus não estava vendo aquela situação da mesma forma que sua mãe. Diante disso, a resposta de Jesus foi mais ou menos a seguinte, trocando em miúdos: você quer ofertar vinho para essa festa, mas o meu sangue é o vinho que todos realmente precisam para entrarem em aliança com o Pai, contudo, ainda não chegou a hora do meu sacrifício.

Na verdade, Jesus estabeleceu uma aliança entre Ele e a Sua Noiva, que é o Seu Povo ou a Sua Igreja, quando bebeu vinho no mesmo cálice com os Apóstolos no momento da celebração da última Páscoa, onde ficou estabelecido o mandamento da Santa Ceia. Por isso, a celebração da Santa Ceia é tão importante, pois traz à memória que Jesus vai retornar para consumar sua aliança de Vida Eterna com Seu Povo para sempre.

Para o povo de Israel, o milagre da transformação de água em vinho nas bodas de Caná foi um sinal claro de que o Seu Justificador havia chegado, mas, que eles não foram capazes de entender. Curiosamente, a água e o vinho eram dois dos demais elementos que faziam parte dos rituais ordenados por Deus a Moisés para a purificação dos sacerdotes e do povo (Êx 29:38-46, Êx 30:17-21)

Missionária Oriana Costa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Jejuando no deserto - Considerações sobre Mateus capítulo 4 - parte 1


Neste texto vamos fazer a análise do momento em que Jesus Cristo vai para o deserto da Judéia, e ali passa por uma fase de provação antes de iniciar seu trabalho de anunciação do Reino de Deus, para, finalmente, se oferecer como sacrifício em nosso favor diante do Pai.

Esse momento foi curto, durou quarenta dias, porém, foi intenso, no qual Jesus foi provado até o limite da sua vida, ficando sem comer durante todo esse período. Chegando ao fim do jejum, já com o corpo bem enfraquecido, Ele precisou estar seguro com relação à vontade do Pai e ao conteúdo das escrituras, para não sair do plano no qual manter a sua integridade era fundamental.

Abaixo vamos ler o trecho do Evangelho de Mateus que relata essa fase especial da vida e ministério do Senhor Jesus:

"Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: "Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães". Jesus respondeu: "Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’". Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: "Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’". Jesus lhe respondeu: "Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’". Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar". Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram." (Mateus 4:1-11)

Um pouco antes de ir para o deserto e iniciar esse período de provação, o Senhor havia passado pelo batismo no Rio Jordão, como vimos no estudo anterior - O batismo de Jesus. E assim como o batismo de Jesus está ligado aos acontecimentos passados publicados no Antigo Testamento, o tempo em que Ele foi provado no deserto também está.

Estes dias que Jesus passou no deserto foi um sinal importante para os israelitas. Essa fase do ministério de Cristo se relacionou ao tempo  em que o povo de Israel passou quarenta anos no deserto do Sinai, até que finalmente pudessem entrar em Canaã, a terra prometida. 

A seguir, vejamos um trecho no livro de Salmos que nos revela o porquê do povo ter sido mantido no deserto por quatro décadas:

"Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como em Meribá, como aquele dia em Massá, no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de terem visto o que eu fiz. Durante quarenta anos fiquei irado contra aquela geração e disse: "Eles são um povo de coração ingrato; não reconheceram os meus caminhos". Por isso jurei na minha ira: "Jamais entrarão no meu descanso"". (Salmos 95:7-11)

Depois que o povo foi liberto da escravidão no Egito, infelizmente não se manteve focado em Deus. Os israelitas endureceram o coração, se tornaram ingratos e não reconheceram os preceitos da reta justiça de Deus (não reconheceram seus caminhos), segundo o que lemos no trecho bíblico contido no parágrafo anterior. 

Então, o Senhor manteve o povo no deserto sem poder entrar em Canaã, até que aquela geração que havia sido liberta tivesse morrido. Somente a geração seguinte foi autorizada a conquistar a terra prometida a Moisés e possuí-la. Assim, Deus falou o seguinte ao sucessor de Moisés:

"Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: "Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, você e todo este povo, preparem-se para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu estou para dar aos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a terra dos hititas, até o mar Grande, no oeste. Ninguém conseguirá resistir a você, todos os dias da sua vida. (...) Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar". (Josué 1:1-9)

A relação entre o que aconteceu aos israelitas no deserto e a provação de Jesus num lugar semelhante é que, ao contrário do que sucedeu ao povo de Israel naqueles quarenta anos, estando eles num território inóspito (Dt 8:15,16), contudo, sem que Deus não lhes deixasse faltar nada (Nm 9:21) - ainda que muitas vezes desprezassem seus decretos e não obedecessem a Ele como deveriam -, Jesus foi para o deserto da Judéia passar quarenta dias, porém, sendo tentado por Satanás e sem comer nada, sem estar numa casa ou numa tenda, e cercado de animais selvagens. 

Nos Evangelhos de Marcos e Lucas encontramos os trechos que complementam as informações contidas em Mateus:

"Logo após, o Espírito o impeliu para o deserto. Ali esteve quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Estava com os animais selvagens, e os anjos o serviam." (Marcos 1:12,13)

"Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve fome." (Lucas 4:1,2)

Jesus suportou passar quarenta dias sendo tentado pelo Diabo, sem comer, sem conforto, e cercado de perigos, por estar cheio do Espírito Santo, e estar convicto da vontade do Pai. Ele tinha uma missão especial a cumprir, e isso ia requerer dele uma postura incorruptível e plenamente justa, que o povo de Israel infelizmente não apresentou logo após ser liberto da escravidão no Egito. Por isso, Ele precisou ser provado dessa forma antes de começar a anunciar o Seu Reino.

Lembrando que tudo o que houve com Jesus, desde o momento em que Maria engravidou do Espírito Santo até a ressurreição, foi devidamente predito nas escrituras. Tudo o que aconteceu com Cristo estava intimamente relacionado ao início da criação, ao Dilúvio, aos mandamentos da Lei Mosaica e às palavras dos profetas, no entanto, se sucedendo de forma abreviada. 

Assim sendo, enquanto os israelitas passaram quarenta anos no deserto do Sinai sendo provados (Dt 8:2,3), Jesus passou quarenta dias. Cada dia de Cristo ali equivale a um ano dos israelitas no tempo de Moisés.

Retomando a análise da fase em que Cristo esteve no deserto jejuando, ao final de quarenta dias sem comer, Ele teve fome. Para quem nunca jejuou ou não tem conhecimento sobre jejum, pode parecer estranho que o Senhor só tenha sentido fome após todo esse tempo sem comer. 

Mas, o que ocorre normalmente é que, no início do jejum o indivíduo sente fome, contudo, à medida que o tempo passa, essa fome reduz e aquieta, de modo que a pessoa não sente mais o incômodo.

Porém, depois de algum tempo sem comer, só tomando água, isso varia de pessoa para pessoa - quarenta dias é o tempo máximo que um adulto pode suportar vivo sem se alimentar -, a fome volta de uma maneira muito forte, sinalizando que se a pessoa não repor as energias naquele momento, o corpo não vai mais aguentar vivo.

Então, foi sentindo a fome de uma inanição, com o corpo totalmente fraco, que Jesus suportou a pior tentação que Satanás lhe fez durante aqueles quarenta dias, lembrando que as escrituras esclarecem que Jesus foi tentado por Satanás durante todo o tempo do jejum (Mc 1:13 e Lc 4:2). 

Mesmo enfraquecido e com uma fome insuportável para um ser humano comum, Ele foi capaz de resistir às tentações, mantendo sua integridade diante do Pai, sem se desviar do propósito para o qual sua vida estava designada desde o início da criação.

Observando os relatos dos Evangelhos, vemos que Satanás não tentou Jesus de qualquer forma, na sua última investida. Ele o fez com base em três pontos chaves da fé em Deus que estão contidos na Lei Mosaica, aquela mesma que foi entregue aos israelitas no deserto do Sinai e eles, movidos por seus desejos carnais, a desobedeceram. 

O Diabo estava na expectativa de que o Filho de Deus também a transgredisse em algum momento, movido pelo desespero, visto que seu corpo estava desconfortável e fraco, beirando a morte.

Vejamos abaixo, quais foram os três  mandamentos da Lei que o Maligno tentou fazer o Cristo infringir:

1-Ele tentou fazer Cristo desprezar a palavra de Deus.

Satanás aproveita o estado de fraqueza física do Senhor, e sugere a ele transformar pedras em pães (Mt 4:3 e Lc 4:3), para que, agindo por medo de morrer e pelo desespero da fome, colocasse a palavra de Deus em segundo plano. Porém, Cristo rebate citando um trecho do livro de Deuteronômio. 

Vejamos onde está inserida a resposta que o Senhor deu ao Diabo:

"Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhe que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor." (Deuteronômio 8:2,3)

Se Jesus tivesse cedido àquela tentação, não teria dado o sinal de integridade que o Pai esperava receber dele, que deveria contrariar o comportamento reprovável dos israelitas no passado.

2-Ele tentou fazer Cristo ficar confuso e duvidar do Pai.

Usando um trecho bem conhecido do livro de Salmos, e que é profético, o Diabo tenta persuadir o Cristo a duvidar que o Pai o livraria da morte, colocando-o no ponto mais alto do templo e sugerindo que ele testasse se realmente o Pai iria livrá-lo, se atirando de lá (Mt 4:5,6 e Lc 4:9-11):

"Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra." (Salmos 91:11,12)

E Jesus, mais uma vez, resiste à tentação com um trecho da Lei:

"Não ponham à prova o Senhor, o seu Deus, como fizeram em Massá. Obedeçam cuidadosamente aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, e aos preceitos e decretos que ele lhes ordenou." (Deuteronômio 6:16,17)

Massá foi o lugar do deserto do Sinai onde os israelitas, após terem sido libertos da escravidão no Egito, se desesperaram por causa da sede que sentiam, e começaram a agir por incredulidade, colocando à prova se Deus realmente estava agindo em favor deles ou não:

"O povo estava sedento e reclamou a Moisés: "Por que você nos tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?" Então Moisés clamou ao Senhor: "Que farei com este povo? Estão a ponto de apedrejar-me!" Respondeu-lhe o Senhor: "Passe à frente do povo. Leve com você algumas das autoridades de Israel, tenha na mão a vara com a qual você feriu o Nilo e vá adiante. Eu estarei à sua espera no alto da rocha que está em Horebe. Bata na rocha, e dela sairá água para o povo beber". Assim fez Moisés, à vista das autoridades de Israel. E chamou aquele lugar Massá e Meribá, porque ali os israelitas reclamaram e puseram o Senhor à prova, dizendo: "O Senhor está entre nós, ou não?" (Êxodo 17:3-7)

3-Ele tentou fazer Jesus desistir de ser sacrificado para justificar toda a humanidade.

Na última tentação, buscando fazer o homem Jesus desejar reinar sobre toda a terra sem ser sacrificado, o Maligno mostra-lhe todos os reinos do mundo, pois naquele momento eles estavam sob seu domínio. No entanto, a condição para que Jesus reinasse ali era reconher somente a autoridade do Diabo sobre sua vida, e não a do Pai, prostando-se para adorá-lo (Mt 4:8-10 e Lc 4:5-8.

Quando adoramos alguém (reclinando o corpo de joelhos com a face voltada para o chão) estamos reconhecendo que aquela pessoa tem autoridade máxima sobre nossas vidas, e confirmando que estamos inteiramente submissos a ela.

Se Jesus tivesse se deixado levar pela oferta, a humanidade não teria uma justificação disponível para seus pecados, e ele seria destruído pelo Pai junto com Satanás, pois, assim como foi a resposta de Cristo ao Diabo, a Lei declara:

"Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto, e jurem somente pelo seu nome. Não sigam outros deuses, os deuses dos povos ao redor; pois o Senhor, o seu Deus, que está no meio de vocês, é Deus zeloso; a ira do Senhor, o seu Deus, se acenderá contra vocês, e ele os banirá da face da terra." (Deuteronômio 6:13-15)

Terminada a prova, Satanás deixou Jesus por algum tempo e os anjos vieram cuidar do Senhor, pois Ele estava muito fraco e isolado, longe das cidades e sem acesso à ajuda humana. Logo após sua reabilitação, Ele se dirigiu à Galiléia e ficou um pouco de tempo em Nazaré, onde iniciou seu trabalho de anunciação do Reino, depois foi morar em Carfanaum.

Missionária Oriana Costa.

terça-feira, 26 de julho de 2022

O batismo de Jesus - Considerações sobre Mateus capítulo 3 - parte 2


Em seu ministério, João Batista anunciava o Reino de Deus, e ele o fazia pregando o arrependimento de pecados para a salvação, e concomitantemente ia preparando o povo para a chegada do Messias. À medida que as pessoas iam crendo na mensagem anunciada, João cumpria um certo ritual, onde batizava as pessoas por imersão.

O batismo por imersão acontece quando os crentes mergulham totalmente seus corpos num local com bastante água (tanque, lago, lagoa, rio, etc) e depois saem rapidamente dela. Então, chegou o momento em que o Senhor Jesus também veio até João para ser batizado, como veremos no trecho a seguir:

"A ele vinha gente de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região ao redor do Jordão. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. (...) "Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. (...) Então Jesus veio da Galiléia ao Jordão para ser batizado por João. João, porém, tentou impedi-lo, dizendo: "Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?" Respondeu Jesus: "Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça". E João concordou. Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: "Este é o meu Filho amado, em quem me agrado"". (Mateus 3:5-17)

Nos Evangelhos de Marcos, Lucas e João encontramos trechos que confirmam e também trazem informações complementares ao trecho bíblico acima.

Em Marcos 1:9-11 e Lucas 3:21-23, lemos a confirmação de que no momento em que Jesus saiu da água os céus se abriram, e Cristo viu o Espírito de Deus vindo até ele em forma de uma pomba. Provavelmente, as pessoas que ali estavam também puderam presenciar esse acontecimento sobrenatural. 

Ambos também relatam que uma voz soou do céu dizendo "Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado", como se o Pai falasse apenas com Jesus. No Evangelho de Mateus, contudo, observamos que essa frase é dita como se o Pai estivesse apresentando Jesus aos que estavam ali, dando a entender que o Pai falou audivelmente a todos. Por isso, é provável que quando os céus se abriram, o Espírito de Deus veio até Jesus em forma de pomba, e o Pai falou, todos os que se encontravam ali testemunharam esses acontecimentos.

Em João 3:22-26 e 4:1,2 observamos o relato de que não apenas João estava batizando, mas os discípulos de Jesus também o faziam, e que João não batizou apenas no Rio Jordão, mas também em Enom, perto de Salim. Nesse Evangelho também percebemos que os discípulos de Jesus começaram a aumentar em quantidade, enquanto os de João começaram a diminuir, e o próprio profeta, quando indagado a respeito, explica o porquê disso estar acontecendo. Vejamos os trechos abaixo:

"Depois disso Jesus foi com os seus discípulos para a terra da Judéia, onde passou algum tempo com eles e batizava. João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e o povo vinha para ser batizado. (Isto se deu antes de João ser preso.) Surgiu uma discussão entre alguns discípulos de João e um certo judeu, a respeito da purificação cerimonial. Eles se dirigiram a João e lhe disseram: "Mestre, aquele homem que estava contigo no outro lado do Jordão, do qual testemunhaste, está batizando, e todos estão se dirigindo a ele". A isso João respondeu: "Uma pessoa só pode receber o que lhe é dado do céu. Vocês mesmos são testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo, mas sou aquele que foi enviado adiante dele. A noiva pertence ao noivo. O amigo que presta serviço ao noivo e que o atende e o ouve, enche-se de alegria quando ouve a voz do noivo. Esta é a minha alegria, que agora se completa. É necessário que ele cresça e que eu diminua". (João 3:22-30)

"Os fariseus ouviram falar que Jesus estava fazendo e batizando mais discípulos do que João, embora não fosse Jesus quem batizasse, mas os seus discípulos. Quando o Senhor ficou sabendo disso, saiu da Judéia e voltou uma vez mais à Galiléia." (João 4:1-3)

Então, João Batista deixou claro para todos quem era ele mesmo e quem era Jesus, apesar de nem todos entenderem o que ele dizia e o que realmente estava acontecendo ali. 

Como vimos no estudo anterior, todas as profecias relacionadas à vinda de João Batista, e qual seria o seu serviço, bem como à vinda de Jesus, se cumpriram à risca. Porém, a maioria das pessoas, especialmente os mestres da Lei e fariseus, foram incapazes de verificar que o conteúdo das escrituras estava se cumprindo diante deles. 

Prosseguindo com o nosso estudo, há dois significados que precisamos entender com relação ao batismo. O primeiro se refere ao porquê do próprio Jesus ter se batizado.

Para entendermos isso, é preciso termos em mente que, antes de qualquer coisa, o batismo por imersão é um sinal divino e profético para todos nós. João batizou, e os discípulos de Jesus também o fizeram sob às ordens dele, porque esse ritual tem a ver com o cumprimento de uma promessa do Pai feita a Noé, e, consequentemente, feita também a toda a humanidade. Através dessa promessa o Pai indiretamente discrimina a forma como a maldade seria julgada após o Dilúvio:

"Depois Noé construiu um altar dedicado ao Senhor e, tomando alguns animais e aves puros, ofereceu-os como holocausto, queimando-os sobre o altar. O Senhor sentiu o aroma agradável e disse a si mesmo: "Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais destruirei todos os seres vivos como fiz desta vez. "Enquanto durar a terra, plantio e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais cessarão".(Gênesis 8:20-22)

"Estabeleço uma aliança com vocês: Nunca mais será ceifada nenhuma forma de vida pelas águas de um dilúvio; nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra"."(Gênesis 9:11)

Antes de continuarmos nosso estudo, é importante termos em mente que, ao sair da arca com sua família, Noé realizou um ritual de purificação, sacrificando animais sobre um altar dedicado ao Senhor. Noé, apesar de se esforçar para andar na justiça de Deus (por isso ele foi considerado justo por Deus, e escapou do juízo com sua família), sabia que havia maldade em seu corpo e também nos corpos de seus familiares, que ainda não havia sido justificada. 

Esse holocausto era feito especialmente como um sinal desse reconhecimento (e também como forma de demonstrar arrependimento sincero diante de alguns tipos de pecado), além de ser feito também como ações de graças diante de alguma conquista material (veja Gênesis 4:4, Genesis 12:7,8). Por isso, após a realização desse ritual feito por Noé, que para Deus foi agradável, o Criador decidiu que o juízo sobre a maldade não aconteceria mais com um dilúvio.

Dando prosseguimento ao nosso raciocínio e voltando agora para o batismo, através dele Deus estava avisando a todos na época de Jesus que uma nova aliança entre o Criador e a humanidade estava para ser estabelecida, e somente através dela é que se poderia receber livramento (a justificação) de um severo e definitivo juízo que viria no futuro sobre as transgressões de todos os seres humanos. 

Porém, nesse julgamento final, Deus não mais destruiria a vida no planeta com uma grande inundação, como fez anteriormente, mas faria se cumprir sua justiça unicamente através de um holocausto especial, num ato equivalente aquele feito por Noé ao sair da arca com sua família. Esse holocausto se cumpriria na morte e ressurreição de Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, que aceitou ser julgado e condenado em nosso lugar.

Por isso, o batismo em si é um aviso pelo qual sabemos que aquele juízo sofrido pelo mundo no Dilúvio, onde todo o planeta ficou submerso em água por um tempo e depois ressurgiu modificado para ser novamente repovoado por Noé e sua família, foi substituído por um outro tipo de juízo, que começou com a morte de Jesus na cruz (João 3:16-19), e terminará com a iniquidade e todos quantos não se desvincularam dela sendo devorados eternamente por um fogo que nunca se apaga, assim como o holocausto feito por Noé foi finalizado com os corpos dos animais mortos sendo completamente queimados no fogo do altar. 

No episódio do Dilúvio a justiça de Deus foi cumprida freando a maldade que tomou conta do mundo, sem destruí-la definitivamente, a fim de dar aos seres humanos uma chance de salvação no futuro. 

A vinda de Jesus, portanto, é para que se cumpra essa salvação, no entanto, através dele agora a justiça não vem para somente frear, mas sim decreta a destruição definitiva da maldade, e isso sabemos devido à promessa de seu retorno, onde a situação de pureza do homem será completamente restaurada, e a maldade destruída de uma vez por todas num local chamado de "Lago de fogo que arde com enxofre", citado em vários trechos do livro de Apocalipse (Veja Ap 19:20, 20:10, 20:14, 21:8)

Ao ser batizado nas águas, Jesus declarou publicamente que o juízo ou castigo sobre os pecados de toda a humanidade recairia terminantemente sobre Ele mesmo, para que todos alcancem a justificação de suas transgressões contra a reta justiça de Deus através do sacrifício dele, e escapem da condenação eterna já decretada sobre a maldade. Então, por isso Jesus se batizou por imersão no Rio Jordão.

O segundo significado do batismo nas águas tem a ver com a ordem dada por Jesus Cristo, para que aquele trabalho feito por João Batista se continue, e todos os que crerem na mensagem de salvação até seu retorno afirmem sua fé publicamente. 

Aqui, portanto, o batismo nas águas, além de apontar para a consumação do juízo sobre a maldade, assim como já vimos em parágrafos anteriores, passa também a ser um mandamento ligado à Nova aliança estabelecida entre Deus e os homens, que serve como confirmação pública de que o indivíduo realmente está arrependido de seus pecados e aceitou o sacrifício de Cristo por sua vida. 

Após o batismo, o sujeito deve estar ciente de que empenhou sua palavra diante de Deus e dos homens, de forma que dali em diante terá que se esforçar para aprender a justiça de Deus, para que viva de acordo com a realidade de pureza do Reino de Deus, e não mais de acordo com a realidade de injustiça do mundo.

"Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos"". (Mateus 28:18-20)

Lembrando que o ritual do batismo em si, não impede a pessoa de pecar e nem tem poder para salvar da condenação à morte eterna! Ele é um sinal divino e profético, e também uma confirmação pública, que devem ser dados após a entrada do indivíduo no Reino de Deus pela fé verdadeira em Jesus Cristo, mediante o ARREPENDIMENTO SINCERO de seus pecados. 

Para finalizar nosso estudo, vamos falar de um sinal curioso que foi dado por Deus após o Senhor Jesus sair da água, quando foi batizado no rio Jordão, onde, no momento em que ele estava orando, o Espírito de Deus aparece em forma de uma pomba, voando e pousando sobre ele. 

"Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba". (Lucas 3:21,22)

Talvez, algumas pessoas, ao lerem esse trecho, podem ter se perguntado porque o Espírito de Deus se apresentou dessa forma, contudo, sem obterem respostas. No entanto, a resposta para isso está em Genesis, quando Noé solta uma pomba para averiguar se já era o momento de sair da arca e repovoar a terra.

Quando o planeta realmente tinha ficado livre das águas, a pomba não retornou mais a ele, dando a entender que já era o momento de deixar a nau e prosseguir com o recomeço do mundo. Por isso, ali Deus ordenou a Noé que esvaziasse totalmente a arca para iniciar o repovoamento do planeta, dando à humanidade uma chance única de ser justificada no futuro. 

"Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba, mas desta vez ela não voltou. No primeiro dia do primeiro mês do ano seiscentos e um da vida de Noé, secaram-se as águas na terra. Noé então removeu o teto da arca e viu que a superfície da terra estava seca. No vigésimo sétimo dia do segundo mês, a terra estava completamente seca. Então Deus disse a Noé: "Saia da arca, você e sua mulher, seus filhos e as mulheres deles". (Gênesis 8:12-16)

Portanto, o Espírito de Deus pousando em Jesus em forma de uma pomba significa que agora, assim como foi possível um recomeço de vida na Terra após o juízo do Dilúvio, é possível sermos novas criaturas espiritualmente, e vivermos em novidade de vida no mundo através da fé em Jesus Cristo.

"Jesus declarou: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". Perguntou Nicodemos: "Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!" Respondeu Jesus: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito". (João 3:3-5)

"Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!" (2Coríntios 5:17)


Missionária Oriana Costa.

terça-feira, 14 de junho de 2022

João Batista, a voz que clama - Considerações sobre Mateus capítulo 3 - Parte 1


Aqui vamos analisar o trecho do terceiro capítulo do Evangelho de Mateus onde João Batista é citado. 

Antes de seguirmos com nosso estudo, vamos falar um pouco da preparação para a chegada do bebê João Batista e lembrar como foi seu nascimento. Ele era primo em segundo grau de Jesus pelo lado materno, pois Isabel (ou Elisabete segundo a versão King James), sua mãe, era prima em primeiro grau de Maria, mãe de Jesus, segundo os relatos das versões King James e Almeida corrigida fiel. 

Assim como Jesus foi gerado no ventre de Maria de forma sobrenatural, a concepção de João Batista também aconteceu pelo poder de Deus, pois sua mãe era estéril e já tinha idade avançada. E assim como Maria recebeu a visita de um anjo que veio avisá-la do que estava para acontecer, Zacarias, que era o pai de João, também recebeu a visita do mesmo anjo, que lhe falou sobre a gravidez de Isabel. Vejamos o relato abaixo, que é encontrado somente no Evangelho de Lucas:

"No tempo de Herodes, rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias, que pertencia ao grupo sacerdotal de Abias; Isabel, sua mulher, também era descendente de Arão. Ambos eram justos aos olhos de Deus, obedecendo de modo irrepreensível a todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas eles não tinham filhos, porque Isabel era estéril; e ambos eram de idade avançada. Certa vez, estando de serviço o seu grupo, Zacarias estava servindo como sacerdote diante de Deus. (...) Então um anjo do Senhor apareceu a Zacarias, à direita do altar do incenso. Quando Zacarias o viu, perturbou-se e foi dominado pelo medo. Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Zacarias; sua oração foi ouvida. Isabel, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe dará o nome de João. Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão por causa do nascimento dele, pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor". Zacarias perguntou ao anjo: "Como posso ter certeza disso? Sou velho, e minha mulher é de idade avançada". O anjo respondeu: "Sou Gabriel, o que está sempre na presença de Deus. Fui enviado para lhe transmitir estas boas novas. Agora você ficará mudo. Não poderá falar até o dia em que isso acontecer, porque não acreditou em minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno". (...) Depois disso, Isabel, sua mulher, engravidou e durante cinco meses não saiu de casa. E ela dizia: "Isto é obra que o Senhor fez! Agora ele olhou para mim com favor, para desfazer a minha humilhação perante o povo."(Lucas 1:5-25)

Quando Isabel estava no sexto mês de gestação, Maria, que era virgem e estava em Nazaré, engravidou pelo poder de Deus (Lc 1:26-38). E ela só soube da gravidez de sua prima por ter sido avisada pelo anjo Gabriel, que também lhe apareceu, assim como apareceu ao sacerdote Zacarias. Assim, Maria decidiu ir averiguar a situação, e viajou para a Judéia a fim de visitar sua prima, como veremos no trecho abaixo:

"Naqueles dias, Maria preparou-se e foi depressa para a uma cidade da região montanhosa da Judéia, onde entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: "Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz! Mas por que sou tão agraciada, a ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!" (Lucas 1:39-45)

João Batista, portanto, nasceu primeiro que Jesus. No dia da sua apresentação no templo e circuncisão, que segundo os costumes judaicos acontece ao oitavo dia de nascido dos meninos (veja em Gn 17:10-13), Zacarias, seu pai, voltou a falar sobrenaturalmente. Vejamos o trecho abaixo, segundo o relato de Lucas:

"Ao se completar o tempo de Isabel dar à luz, ela teve um filho. Seus vizinhos e parentes ouviram falar da grande misericórdia que o Senhor lhe havia demonstrado e se alegraram com ela. No oitavo dia foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias; mas sua mãe tomou a palavra e disse: "Não! Ele será chamado João". Disseram-lhe: "Você não tem nenhum parente com esse nome". Então fizeram sinais ao pai do menino, para saber como queria que a criança se chamasse. Ele pediu uma tabuinha e, para admiração de todos, escreveu: "O nome dele é João". Imediatamente sua boca se abriu, sua língua se soltou e ele começou a falar, louvando a Deus. Todos os vizinhos ficaram cheios de temor, e por toda a região montanhosa da Judéia se falava sobre essas coisas. Todos os que ouviam falar disso se perguntavam: "O que vai ser este menino?" Pois a mão do Senhor estava com ele. Seu pai, Zacarias, foi cheio do Espírito Santo e profetizou: (...) E você, menino, será chamado profeta do Altíssimo, pois irá adiante do Senhor, para lhe preparar o caminho, para dar ao seu povo o conhecimento da salvação, mediante o perdão dos seus pecados, por causa das ternas misericórdias de nosso Deus, pelas quais do alto nos visitará o sol nascente para brilhar sobre aqueles que estão vivendo nas trevas e na sombra da morte, e guiar nossos pés no caminho da paz". E o menino crescia e se fortalecia no espírito; e viveu no deserto, até aparecer publicamente a Israel. (Lucas 1:57-80)

Uma curiosidade: muito provavelmente, Maria esteve presente no nascimento de João Batista, e também testemunhou o que aconteceu no dia de sua apresentação no templo, pois a duração da visita que fez a sua prima foi cerca de três meses, que era o tempo que restava até que Isabel desse à luz o futuro profeta João Batista (veja em Lc 1:56). 

Agora, vamos analisar aquilo que o Evangelho de Mateus mostra sobre o ministério de João Batista, comparando também com as informações complementares contidas nos outros três evangelhos. Vejamos o trecho abaixo:

"Naqueles dias surgiu João Batista, pregando no deserto da Judéia. Ele dizia: "Arrependam-se, porque o Reino dos céus está próximo". Este é aquele que foi anunciado pelo profeta Isaías: "Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele’". As roupas de João eram feitas de pêlos de camelo, e ele usava um cinto de couro na cintura. O seu alimento era gafanhotos e mel silvestre. A ele vinha gente de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região ao redor do Jordão. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. Quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde ele estava batizando, disse-lhes: "Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima? Dêem fruto que mostre o arrependimento! Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. "Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga." (Mateus 3:1-12)

Sobre o trecho do profeta Isaías que fala do momento em que João Batista anunciaria a chegada do Messias, vejamos abaixo:

"Consolem, consolem o meu povo, diz o Deus de vocês. Encoragem a Jerusalém e anunciem que ela já cumpriu o trabalho que lhe foi imposto, pagou por sua iniqüidade, e recebeu da mão do Senhor em dobro por todos os seus pecados. Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus. Todos os vales serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se tornarão planos; as escarpas, serão niveladas. A glória do Senhor será revelada, e, juntos, todos a verão. Pois é o Senhor quem fala"." (Isaías 40:1-5)

Ainda nesse mesmo capítulo do livro do profeta Isaías, também podemos ler:

"Você, que traz boas novas a Sião, suba num alto monte. Você, que traz boas novas a Jerusalém, erga a sua voz com fortes gritos, erga-a, não tenha medo; diga às cidades de Judá: "Aqui está o seu Deus!" O Soberano Senhor vem com poder! Com seu braço forte ele governa. A sua recompensa com ele está, e seu galardão o acompanha. Como pastor ele cuida de seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas crias." (Isaías 40:9-11)

Assim como os trechos acima, existem outros no Antigo Testamento que falam da vinda de João Batista a fim de preparar Israel para receber o Cristo, como podemos ler em Salmos 85:12,13. Alguns parágrafos abaixo também veremos outra referência, no livro do profeta Malaquias, que também avisa sobre o mensageiro João.

João iniciou seu trabalho na cidade de Betânia, na região da Judéia, proclamando a chegada do Reino dos céus (ou Reino de Deus) para os israelitas, e isso tinha a ver com a proximidade da iniciação do ministério de Jesus em Israel. Até aquele momento, o Cristo vivia ocultado de todos, mas a partir da hora em que o profeta João passou a anunciá-lo, o nosso Salvador começou a ficar conhecido.

No Evangelho de Marcos, há um trecho similar ao que lemos em Mateus, com uma informação adicional:

"Conforme está escrito no profeta Isaías: "Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele preparará o teu caminho"— "voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele’ ". Assim surgiu João, batizando no deserto e pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. A ele vinha toda a região da Judéia e todo o povo de Jerusalém. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão." (Marcos 1: 2-5)

No trecho acima, na verdade, não existe apenas a citação do profeta Isaías, que também aparece no Evangelho de Mateus, mas antes dela há uma citação do profeta Malaquias, que tanto se refere à vinda de João Batista quanto à chegada do Messias:

"Vejam, eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, aquele que vocês desejam, virá", diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 3:1)

Lendo o Evangelho de Lucas, encontramos ainda outras informações sobre quem eram os governadores romanos de cada região de Israel, e quem eram os sumos sacerdotes no trabalho templário quando o profeta João Batista apareceu anunciando a vinda do Messias:

"No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia; Herodes, tetrarca da Galiléia; seu irmão Filipe, tetrarca da Ituréia e Traconites; e Lisânias, tetrarca de Abilene; Anás e Caifás exerciam o sumo sacerdócio. Foi nesse ano que veio a palavra do Senhor a João, filho de Zacarias, no deserto. Ele percorreu toda a região próxima ao Jordão, pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. Como está escrito no livro das palavras de Isaías, o profeta: "Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele. Todo vale será aterrado e todas as montanhas e colinas, niveladas. As estradas tortuosas serão endireitadas e os caminhos acidentados, aplanados. E toda a humanidade verá a salvação de Deus’"." (Lucas 3:1-6)

No trecho do Evangelho de Mateus que lemos alguns parágrafos acima, observamos que muitos israelitas estavam recebendo a mensagem de João, pois criam nas profecias que avisavam sobre a vinda do Messias. No meio dessas pessoas que vinham procurar o profeta, também estavam os fariseus e saduceus. 

Ao vê-los, João ficou indignado, chamando-os de "raça de viboras", porque eles agiam traiçoeiramente. Ao se declararem servos do Senhor, contudo, rejeitando e distorcendo muitas de suas ordenanças e ensinando o povo a fazer o mesmo, mais tarde eles iriam incitar as pessoas a odiar, perseguir e desejar a morte de Jesus. Contudo, não foram somente os fariseus e saduceus que procuraram o profeta, mas também os sacerdotes e levitas o fizeram, segundo observamos no Evangelho de João, como veremos a seguir.

"Esse foi o testemunho de João, quando os judeus de Jerusalém enviaram sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem ele era. Ele confessou e não negou; declarou abertamente: "Não sou o Cristo". Perguntaram-lhe: "E então, quem é você? É Elias?" Ele disse: "Não sou". "É o Profeta?" Ele respondeu: "Não". Finalmente perguntaram: "Quem é você? Dê-nos uma resposta, para que a levemos àqueles que nos enviaram. Que diz você acerca de si próprio?" João respondeu com as palavras do profeta Isaías: "Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Façam um caminho reto para o Senhor’ ". Alguns fariseus que tinham sido enviados interrogaram-no: "Então, por que você batiza, se não é o Cristo, nem Elias, nem o Profeta?" Respondeu João: "Eu batizo com água, mas entre vocês está alguém que vocês não conhecem. Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias não sou digno de desamarrar". Tudo isso aconteceu em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando." (João 1:19-28)

De fato, João era um profeta, conforme o próprio Cristo confirmou (Mateus 11:8,9), mas não "o profeta" ao qual os fariseus se referiam. Equivocadamente, as lideranças religiosas de Israel acreditavam que alguém semelhante ao próprio Moisés viria para anunciar a chegada do Messias, por causa de um determinado episódio que podemos ler no livro de Deuteronômio:

"O Senhor, o seu Deus, levantará do meio de seus próprios irmãos um profeta como eu; ouçam-no. Pois foi isso que pediram ao Senhor, ao seu Deus, em Horebe, no dia em que se reuniram, quando disseram: "Não queremos ouvir a voz do Senhor, do nosso Deus, nem ver o seu grande fogo, se não morreremos!" O Senhor me disse: "Eles têm razão! Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas." (Deuteronômio 18:15-19)

O problema dos fariseus com o trecho acima é que eles pensaram que "o profeta" ao qual Moisés se referiu era o mesmo mensageiro que viria antes do Messias para anunciar a Sua chegada. No entanto, esse profeta descrito em Deuteronômio está se referindo ao próprio Cristo.

Por causa desse equívoco, muitos acreditavam que Jesus Cristo era esse tal profeta que os fariseus imaginavam, ou mesmo mais outro enviado como um dos antigos profetas, como podemos ver em alguns trechos dos evangelhos (Mateus 21:10,11; Marcos 6:15), e não acreditavam que Jesus era o Messias que eles deveriam estar aguardando. 

No livro de Atos, um dos discípulos que ajudavam os Apóstolos no trabalho de distribuição de mantimentos para as viúvas e órfãos, chamado Estêvão, antes de ser assassinado por apedrejamento pelos fariseus, falou-lhes quem era o profeta sobre o qual Moisés se referiu:

"Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis." (Atos 7:37, ACF)

Agora vamos analisar algumas falas do profeta João Batista, como, por exemplo, "Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga", ao falar de Jesus. Tais palavras não são necessariamente a citação de alguma profecia específica do Antigo Testamento, no entanto, é uma compilação de alguns trechos de várias partes proféticas das escrituras que se relacionam a Cristo. 

Duas palavras dadas aos israelitas, uma dada pelo profeta Malaquias e outra pelo profeta Oséias, se enquadram na mensagem da "pá e do fogo que nunca se apaga":

"Pois certamente vem o dia, ardente como uma fornalha. Todos os arrogantes e todos os malfeitores serão como palha, e aquele dia, que está chegando, ateará fogo neles", diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 4:1)

"Por isso levarei o meu trigo quando ele ficar maduro, e o meu vinho quando ficar pronto. Arrancarei dela minha lã e meu linho, que serviam para cobrir a sua nudez." (Oséias 2:9)

Quanto as palavras "o machado está posto à raiz das árvores...", muito provavelmente está fazendo alusão a um trecho do livro do profeta Isaías, que diz:

"Vejam! O Soberano, o Senhor dos Exércitos, cortará os galhos com grande força. As árvores altivas serão derrubadas, as altas serão lançadas por terra. Com um machado ele ceifará a floresta; o Líbano cairá diante do Poderoso." (Isaías 10:33,34)

Com relação à vestimenta do profeta e seus hábitos alimentares, descritos em Mateus 3:4 e Marcos 1:6, são informações importantes para entendermos onde João Batista morava ou mesmo passava a maior parte do seu tempo. As roupas e alimentos consumidos pelo profeta eram característicos de alguém que vivia no campo, afastado da parte mais urbana das cidades da Judéia. Os pastores de ovelhas daquela época, por exemplo, tinham hábitos similares aos de João.

Algumas pessoas costumam interpretar que a palavra "gafanhotos" relacionada a um dos alimentos que João Batista comia regularmente, está se referindo a um alimento vegetal e não a um inseto, como a própria palavra sugere, e que o profeta era vegetariano. Porém, essas informações não são verdadeiras. Vejamos esse mesmo trecho de Mateus 3:4 na versão King James:

"E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos, e o seu alimento era locustas e mel silvestre." 

O significado da palavra "locusta", de acordo com o Dicio (Dicionário On Line de Português) é "grande gafanhoto do gênero Locusta, com uma única espécie, largamente conhecido por destruir plantas e plantações; gafanhoto-do-deserto".

A palavra usada no original grego nesse trecho da escritura é ἀκρίς - cuja pronúncia é "akris", e signigica literalmente "gafanhoto", um inseto que é comum em países orientais e, quando infesta esses locais, é capaz de destruir plantações e árvores.

Então, as escrituras bíblicas nas suas mais variadas versões estão sendo claras em nossa língua, quando falam que o profeta João Batista comia realmente um inseto comum da sua região, chamado gafanhoto.

Para finalizar nosso estudo, agora vamos fazer uma análise sobre qual era a missão de João Batista, que estava diretamente ligada à mensagem que ele ia divulgando. Quando o anjo Gabriel apareceu a Zacarias para anunciar a gravidez de sua esposa Isabel, ele avisou para quê aquele bebê havia sido chamado por Deus:

"Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento. Fará retornar muitos dentre o povo de Israel ao Senhor, o seu Deus. E irá adiante do Senhor, no espírito e no poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais a seus filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, para deixar um povo preparado para o Senhor."(Lucas 1:15-17)

Ao falar com Zacarias naquele momento, o anjo cita um trecho do livro do profeta Malaquias, que diz:

"Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes do grande e terrível dia do Senhor. Ele fará com que os corações dos pais se voltem para seus filhos, e os corações dos filhos para seus pais; do contrário eu virei e castigarei a terra com maldição." (Malaquias 4:5,6)

Portanto, a missão de João Batista era preparar os israelitas e também os prosélitos da fé judaica que estavam em Israel, para receber a justificação de seus pecados a fim de poderem entrar no Reino dos céus. Ele cumpria esse chamado avisando e conscientizando as pessoas de que todos estavam transgredindo a reta justiça de Deus, e que, por isso, precisavam se arrepender sinceramente, e buscar se adequar a ela de todo o coração. Abaixo segue um trecho do Evangelho de Lucas onde vemos um pouco do que o profeta dizia ao povo:

"João dizia às multidões que saíam para serem batizadas por ele: "Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima? Dêem frutos que mostrem o arrependimento. E não comecem a dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo". "O que devemos fazer então? ", perguntavam as multidões. João respondia: "Quem tem duas túnicas reparta-as com quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo". Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: "Mestre, o que devemos fazer?" Ele respondeu: "Não cobrem nada além do que lhes foi estipulado". Então alguns soldados lhe perguntaram: "E nós, o que devemos fazer? " Ele respondeu: "Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário". O povo estava em grande expectativa, questionando em seus corações se acaso João não seria o Cristo." (Lucas 3:7-18)

Lembrando que, complementando a descrição contida em Lucas, conforme vimos parágrafos acima no Evangelho de Mateus, João não chamou todos os que vinham até ele de "raça de viboras", mas somente aqueles que exerciam influência no meio do povo, que eram os fariseus e saduceus.

Como o profeta João era cheio do Espírito Santo e tinha a mesma unção do profeta Elias, ele não somente falava ao povo com ousadia e autoridade, como também certamente muitos sinais sobrenaturais aconteciam conforme ele seguia fazendo seu trabalho, e isso fazia com que o povo acreditasse nele, provavelmente pensando que ele fosse mesmo o Messias, apesar dele avisar que não era.

No Evangelho de João, encontramos também um trecho que confirma o chamado de Deus para João Batista:

"Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João. Ele veio como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem. Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz. (...) João dá testemunho dele. Ele exclama: "Este é aquele de quem eu falei: Aquele que vem depois de mim é superior a mim, porque já existia antes de mim". (...) Esse foi o testemunho de João, quando os judeus de Jerusalém enviaram sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem ele era. Ele confessou e não negou; declarou abertamente: Não sou o Cristo." (João 1:6-20)

O batismo feito por João nas águas do rio Jordão era um sinal de Deus dado através do profeta que apontava o momento em que as pessoas se arrependiam sinceramente de seus pecados, ao ouvirem João falar dos preceitos do Reino de Deus, e também que elas estavam se dispondo a receber o Messias que estava chegando ali naquele momento para justificá-los diante do Pai, perdoando-lhes, assim, os seus pecados.

O batismo nas águas, portanto, não tem poder de justificar qualquer pessoa diante do Pai, mas simboliza que esse alguém decidiu iniciar o processo de conversão da maldade do mundo para os preceitos da justiça de Deus, os quais embasam a fé cristã verdadeira.

No evangelho de João (Jo 3:22) consta a informação de que Jesus Cristo também seguiu com o ritual de batismo, fazendo descer às águas todos os que escolhiam seguí-lo, e isso sugere que os doze apóstolos de Jesus foram todos batizados por imersão, a maioria deles pelo próprio Jesus, na região da Judéia. Dois deles, que seguiam o profeta João Batista antes de seguirem a Cristo, certamente devem ter sido batizados pelo profeta João, e um deles era André, irmão de Pedro (veja em Jo 1:40)

Esse mesmo batismo por imersão continua sendo tradicionalmente feito até hoje, porém, como cumprimento de uma ordem dada pelo próprio Jesus Cristo ressurreto, antes de sua ascenção aos céus (veja em Mt 28:19). 

Desta forma, na maioria das denominações cristãs evangélicas, quando pessoas creem na mensagem de salvação e por isso se arrependem verdadeiramente dos seus pecados, decidindo receber o governo do Senhor Jesus sobre suas vidas, elas são batizadas mergulhando rapidamente todo o corpo em água, como testemunho público de suas conversões à fé cristã. 

Missionária Oriana Costa.

terça-feira, 17 de maio de 2022

Ele será chamado nazareno - Considerações sobre Mateus capítulo 2 - Parte 2

Continuando nosso estudo do Evangelho de Mateus, veremos nesse texto que Jesus Cristo, correu o perigo de ser morto mesmo antes de nascer. María poderia ter sido apedrejada caso Deus não tivesse alertado José, e se isso tivesse realmente acontecido, Jesus seria morto antes de nascer. No entanto, o Cristo continuou sofrendo perigo de morte após seu nascimento, sendo ainda um bebê indefeso. 

Por isso, a fim de protegê-lo, o Pai guiou José a se mudar duas vezes de cidade, até que o perigo passasse. No entanto, devido à fúria de Herodes com relação ao desvio de rota dos magos e ao medo que ele tinha de que Israel fosse liberta do domínio romano, outras crianças acabaram pagando com suas vidas por causa da existência de Jesus. Vejamos o trecho a seguir:

"Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu a José em sonho e disse-lhe: "Levante-se, tome o menino e sua mãe, e fuja para o Egito. Fique lá até que eu lhe diga, pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo". Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe durante a noite, e partiu para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "Do Egito chamei o meu filho". Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos. Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias: "Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem". Depois que Herodes morreu, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse: "Levante-se, tome o menino e sua mãe, e vá para a terra de Israel, pois estão mortos os que procuravam tirar a vida do menino". Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, e foi para a terra de Israel. Mas, ao ouvir que Arquelau estava reinando na Judéia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Tendo sido avisado em sonho, retirou-se para a região da Galiléia e foi viver numa cidade chamada Nazaré. Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno." (Mateus 2:13-23)

Após a partida dos sábios que vieram do oriente conhecer e adorar o pequeno Jesus, o Pai avisou a José que se mudasse para o Egito para que o Cristo continuasse vivo. Com isso, se cumpre a profecia do livro do profeta Oséias:

"Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho." (Oséias 11:1)

A morte das crianças de Belém e redondezas, após a fuga de José, Maria e Jesus, também foi predita no livro do profeta Jeremias:

"Assim diz o Senhor: "Ouve-se uma voz em Ramá, pranto e amargo choro; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque os seus filhos já não existem." (Jeremias 31:15)

No trajeto de volta para Israel, depois que Herodes morreu, José tinha interesse em morar na Judéia, provavelmente em Jerusalém ou em Belém mesmo. No entanto, ao saber que o filho de Herodes, Arquelau, estava no governo da província da Judéia, ficou receoso de ir morar lá, temendo pela vida do pequeno Jesus.

Então, Deus confirmou que ainda havia perigo ali caso Jesus fosse encontrado, e conduziu a família para a província da Galiléia, de volta a cidade de Nazaré, o local de onde José e Maria saíram no momento do ressenciamento ordenado por César Augusto (Lc 2:1-7), quando Maria ainda estava grávida. Com isso cumpriu-se mais uma profecia, no entanto, essa, em especial, não se encontra clara na língua portuguesa. Após pesquisarmos no Antigo Testamento, não encontraremos nenhum trecho semelhante a "Ele será chamado Nazareno."

Como a palavra Nazaré pode significar "ramo, renovo ou rebento" no hebraico, alguns estudiosos acreditam que essa profecia está relacionada a um dos trechos do livro do profeta Isaías:

"Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do Senhor repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor. E ele se inspirará no temor do Senhor." (Isaías 11:1-3)

Porém, há outros trechos no Antigo Testamento que fazem referência a esse significado, como veremos dois deles a seguir:

"E o Senhor me ordenou: "Tome prata e ouro dos exilados Heldai, Tobias e Jedaías, que chegaram da Babilônia. No mesmo dia vá à casa de Josias, filho de Sofonias. Pegue a prata e o ouro, faça uma coroa, e coloque-a na cabeça do sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. Diga-lhe que assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Aqui está o homem cujo nome é Renovo, e ele sairá do seu lugar e construirá o templo do Senhor. Ele construirá o templo do Senhor, será revestido de majestade e se assentará em seu trono para governar. E ele será sacerdote no trono." (Zacarias 6:9-13)

"Dias virão, declara o Senhor, em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra. Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça." (Jeremias 23:5,6)

Uma curiosidade: quando lemos o Evangelho de Lucas, nos deparamos com uma narrativa um pouco diferente daquela contida no Evangelho de Mateus, como se José não tivesse ido de Belém para o Egito, dando a entender que de Belém a família voltou para Nazaré. Vejamos o trecho abaixo:

"Completando-se os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, o qual lhe tinha sido dado pelo anjo antes de ele nascer. Completando-se o tempo da purificação deles, de acordo com a Lei de Moisés, José e Maria o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor (como está escrito na Lei do Senhor: "Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor") e para oferecer um sacrifício, de acordo com o que diz a Lei do Senhor: "duas rolinhas ou dois pombinhos". (...) Depois de terem feito tudo o que era exigido pela Lei do Senhor, voltaram para a sua própria cidade, Nazaré, na Galiléia. O menino crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele." (Lucas 2:21-40)

Muito provavelmente, Lucas resumiu os acontecimentos e não mencionou que após a circuncisão de Jesus, a família não voltou imediatamente para Nazaré, como afirma Mateus. Se cruzarmos as informações contidas nos dois Evangelhos, vamos entender que após a circuncisão de Jesus, a família voltou a Belém, e ficou por lá até a visita dos Magos vindos do oriente.

Após essa visita, a família se mudou para o Egito, e, algum tempo depois, voltaram para a cidade de Nazaré, onde o Senhor viveu o restante da sua infância e toda a sua juventude. Quando se tornou adulto, após ser batizado por João Batista no rio Jordão, passar pela tentação no deserto e dar início ao seu ministério, Jesus foi morar sozinho em Cafarnaum (Mt 4:13).

Missionária Oriana Costa.









terça-feira, 10 de maio de 2022

Os magos do oriente - Considerações sobre Mateus capítulo 2 - Parte 1


Quando o Pai enviou Seu Filho Unigênito Jesus, não fez isso para que Ele justificasse e reinasse apenas sobre os israelitas, mas o enviou para justificar e reinar sobre todas as nações da terra. Abrão, que era caldeu, e sua descendência, que mais tarde formaria a nação de Israel, foram escolhidos por Deus para divulgar isso ao mundo, até que Jesus finalmente viesse. 

Assim, com o passar dos séculos, muitos estrangeiros acreditaram no Reino de Deus e permaneceram aguardando sua vinda, tanto ao entrarem em contato com os profetas israelitas ou com os escritos que os profetas deixaram nas nações onde permaneceram cativos, quanto estando em visitação a Israel, onde passavam a conhecer e a assimilar os estatutos da Lei mosaica que os israelitas cumpriam, e que apontavam para a vinda de seu justificador no futuro. 

Desta forma, diversas pessoas de outras nações tornavam-se prosélitos da fé judaica e muitos outros estrangeiros acabavam se convertendo ao judaimo mesmo, alicerçando sua fé na esperança de herdarem o Reino de Deus no futuro.

Os Magos do oriente, portanto, eram estrangeiros que esperavam o Reino de Deus por conhecerem o pacto que Deus fez com Abrão e a promessa envolvida nessa aliança. Eles sabiam que o nascimento do Messias estava próximo por terem analisado as profecias que tiveram acesso fora de Israel, em suas próprias nações. 

Algumas das profecias que extraordinariamente apontam o momento em que o Messias nasceria em Israel foram feitas pelo profeta Daniel, no tempo em que os israelitas estiveram cativos na Babilônia (veja Daniel capítulos 7 e 8).

Vejamos abaixo o trecho do Evangelho de Mateus que mostra a chegada dos Magos a Israel:

"Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’ ". Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido. Enviou-os a Belém e disse: "Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo". Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no Oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino. Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra. E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram a sua terra por outro caminho." (Mateus 2:1-12)

De acordo com o texto acima, os magos vindos do oriente perceberam uma luz incomum se movimentando no céu, que eles interpretaram como sendo um sinal de que o Rei dos judeus, aquele que viria para salvar o mundo da escravidão do pecado, teria nascido. Por isso, eles decidiram seguir a luz e viajar para encontrar o Cristo e adorá-lo, pois eles desejavam o seu governo. 

As escrituras não revelam se Deus os avisou que aquela estrela diferenciada no céu era um sinal, ou eles mesmos discerniram que um sinal no céu lhes seria dado pelo conteúdo profético das escrituras.

Provavelmente, além de saberem quando o Messias iria nascer, através das profecias de Daniel, eles também conheciam as profecias de Balaão (no livro de Números) e Isaías, que falam sobre esse (provável) sinal do céu que apareceria em Israel:

"Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel. Ele esmagará as frontes de Moabe e o crânio de todos os descendentes de Sete." (Números 24:17)

"Contudo, não haverá mais escuridão para os que estavam aflitos. No passado ele humilhou a terra de Zebulom e de Naftali, mas no futuro honrará a Galiléia dos gentios, o caminho do mar, junto ao Jordão. O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz. (...) Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso. (Isaías 9:1-7)

O problema foi que quando aquela comissão procurou Herodes, este não conhecia a mensagem do Reino de Deus como aqueles visitantes, e por isso não gostou da ideia de ver Israel adquirindo autonomia e se libertando do domínio romano, pois foi essa a visão que ele teve do que poderia acontecer, caso as profecias se cumprissem. Em nenhum momento passou pela cabeça de Herodes que a missão de Jesus era justificar a humanidade de suas transgressões diante do Pai, salvando-a da morte eterna.

Tampouco, naquele momento, as lideranças religiosas de Israel desejavam ser libertas do império romano, pois, além de terem perdido o entendimento do sentido da Lei Mosaica e dos rituais que praticavam, eles se acostumaram a desfrutar de regalias e lucros para manterem o povo submisso ao governo de Roma. 

Portanto, o surgimento dos magos mostra uma situação bem inusitada, onde a grande maioria dos israelitas estava totalmente alheia ao nascimento do Messias que eles deveriam estar aguardando, enquanto pessoas de outras nações estavam vigilantes esperando a vinda daquele que pagaria o preço pelos pecados de toda a humanidade, e simplesmente chegaram em Israel para ADORAR o Rei dos judeus que eles JÁ SABIAM que tinha nascido.

De fato, veremos no estudo seguinte que, quando os magos chegaram até Herodes, Jesus já devia estar próximo dos dois anos de idade.

Se o Pai não tivesse mandado os anjos avisarem os pastores israelitas que estavam nos campos próximos à cidade de Belém para virem testemunhar em primeira mão o nascimento do Cristo, as únicas pessoas que teriam testemunhado que o Cristo tinha nascido, cumprindo as profecias, seriam indivíduos vindos de outras nações, que por conhecerem e confiarem nas palavras proféticas contidas nas escrituras seguiram uma estrela no céu até chegar a Jesus.

Notamos no trecho de Mateus que lemos parágrafos acima que Herodes comunicou a chegada dos visitantes, e toda a Jerusalém ficou sabendo desse ocorrido. No entanto, apesar da notícia ter causado grande perturbação ao povo, os israelitas, e especialmente os líderes religiosos, não se moveram para ir junto com os magos a Belém verificar se realmente o Messias estava lá. Eles simplesmente ignoraram o evento.

De qualquer forma, essas coisas aconteceram para que as escrituras se cumprissem, e o Senhor Jesus realmente ficasse no anonimato até o início de seu ministério terreno.

Sobre os presentes que os magos entregaram, há uma grande ligação profética entre eles e os artefatos que eram usados no Templo em Jerusalém, que o tempo todo evocavam a necessidade de um justificador para o povo de Israel e para todas as outras nações da Terra. 

De fato, muitos objetos usados no Templo eram de ouro (confira a partir de Êxodo 25), e também havia um altar onde o incenso era constantemente queimado (Êx 30:1), e a mirra era um dos componentes principais usados na confecção do óleo da unção usado no Templo pelos sacerdotes (Êx 30:22-29).

Para finalizar nosso estudo, vamos desfazer aqui alguns mitos em relação aos magos. Em primeiro lugar, os magos não eram necessariamente reis, apesar de entregarem a Jesus presentes caros e de não encontrarem dificuldade de se dirigir a Herodes. Eles eram homens de posses, sábios, estudiosos daquele tempo, que muito provavelmente eram nativos de nações do oriente que ficavam próximas a Israel naquela época, como Egito, Pérsia, etc.. 

Em nenhum momento encontramos qualquer palavra nas escrituras onde os magos sejam chamados de reis. Inclusive, na versão King James nós podemos ler o seguinte:

"Após o nascimento de Jesus em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, eis que alguns sábios vindos do Oriente chegaram a Jerusalém. E, indagavam: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Pois do Oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo."

Em segundo lugar, não conta nas escrituras que os magos eram um grupo de três indivíduos nem tampouco os nomes deles são citados. De fato, não se sabe quantos homens formavam a caravana de sábios que estiveram em Israel querendo conhecer o Cristo, no entanto, podemos acreditar que eram mais de três indivíduos de diferentes nacionalidades.

Missionária Oriana Costa.