sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A Santa Ceia - Considerações sobre Mateus 26 - Parte 2


Dando continuidade ao estudo do capítulo 26 do Evangelho de Mateus, vamos observar, agora, os aspectos envolvidos no momento em que Cristo celebra a última Páscoa com os Apóstolos e o momento em que Ele avisa que há alguém ali que irá traí-lo.

Vamos conferir o trecho abaixo:
No primeiro dia da festa dos pães sem fermento, os discípulos dirigiram-se a Jesus e lhe perguntaram: "Onde queres que preparemos a refeição da Páscoa?" Ele respondeu dizendo que entrassem na cidade, procurassem um certo homem e lhe dissessem: "O Mestre diz: ‘O meu tempo está próximo. Vou celebrar a Páscoa com meus discípulos em sua casa". Os discípulos fizeram como Jesus os havia instruído e prepararam a Páscoa. Ao anoitecer, Jesus estava reclinado à mesa com os Doze. E, enquanto estavam comendo, ele disse: "Digo-lhes que certamente um de vocês me trairá".
Eles ficaram muito tristes e começaram a dizer-lhe, um após outro: "Com certeza não sou eu, Senhor!" Afirmou Jesus: "Aquele que comeu comigo do mesmo prato há de me trair. O Filho do homem vai, como está escrito a seu respeito. Mas ai daquele que trai o Filho do homem! Melhor lhe seria não haver nascido". Então, Judas, que haveria de traí-lo, disse: "Com certeza não sou eu, Mestre!" Jesus afirmou: "Sim, é você". Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: "Tomem e comam; isto é o meu corpo". Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: "Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai". Depois de terem cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras. (Mateus 26:17-30)

Entre os versículos 17 e 19, vemos a preparação da última Páscoa que Jesus participa com seus discípulos, momento que ficou conhecido entre os cristãos como a Santa Ceia. Esse episódio aconteceu em Jerusalém, no primeiro dia da festa dos pães ázimos, (o decimo quarto dia do primeiro mês judaico) na casa de um certo homem, cujo nome não é revelado nos evangelhos.

Pedro e João foram designados para entrar naquela cidade e procurarem a pessoa indicada por Jesus, para que os preparativos da Páscoa fossem feitos.

Isso sugere que, como já não aparecia publicamente, a fim de que não fosse encontrado pelas lideranças religiosas de Israel antes do tempo, Jesus, juntamente aos seus discípulos, naquele momento, já não estava mais em Betânia e, provavelmente, permaneceu acampado em algum lugar ali próximo à entrada de Jerusalém. Em Lucas 22:7-13 e Marcos 14:12-17, podemos ler relatos similares.

Para melhor entendermos o que aconteceu naquele momento, devemos ver o que Deus ordenou aos israelitas, na Lei Mosaica, acerca da Páscoa e da festa dos pães ázimos (pães sem fermento):

O Senhor disse a Moisés e a Arão, no Egito:
"Este deverá ser o primeiro mês do ano para vocês. Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito (...). Guardem-no até o décimo quarto dia do mês, quando toda a comunidade de Israel irá sacrificá-lo, ao pôr-do-sol. (...) "Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Senhor. Comemorem-no como decreto perpétuo. (...) "Celebrem a festa dos pães sem fermento, porque foi nesse mesmo dia que eu tirei os exércitos de vocês do Egito. Celebrem esse dia como decreto perpétuo por todas as suas gerações. No primeiro mês comam pão sem fermento, desde o entardecer do décimo quarto dia até o entardecer do vigésimo primeiro."
(Êxodo 12:1-18)

Entre os versículos 20 e 25, durante a celebração da Páscoa, o Senhor alerta seus discípulos para a existência de alguém, que estava entre eles, mas que não creu na mensagem do Reino, que era Judas Iscariotes.

De fato, apesar de Jesus tê-los avisado sobre a proximidade do momento de sua morte e da presença do traidor, eles não entenderam que Jesus estava há poucas horas de ser crucificado, e que seria aquele mesmo apóstolo que o entregaria às lideranças religiosas de Israel.

O único que entendeu o alerta e já sabia que tinha sido descoberto foi o próprio Judas. Foi por esse motivo que os demais apóstolos nada fizeram para impedi-lo. O momento em que o Senhor avisa sobre seu traidor também pode ser encontrado nos Evangelhos de Marcos 14:18-21, Lucas 22:21-23 e João 13:21-26. No livro de Salmos há uma profecia relacionada a esse acontecimento:

Até o meu melhor amigo, em quem eu confiava e que partilhava do meu pão, voltou-se contra mim. (Salmos 41:9)

Na realidade, Jesus só avisou que seria traído no fim da ceia, depois de lavar os pés dos Apóstolos. Esse episódio é relatado unicamente no Evangelho de João, no capítulo 13.

O momento em que o Senhor Jesus lava os pés dos apóstolos após a ceia simboliza o que está escrito no Salmo 51:

Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. (...) Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei. (Salmos 51:1-7)

Também somente naquele Evangelho é que está explicado o porquê dos apóstolos não terem entendido o aviso de Cristo.

Após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. (João 13:27-30)

Unicamente no Evangelho de João é que observamos que Judas só participa da Páscoa até o momento em que recebe um pedaço de pão do próprio Cristo, quando Ele já tinha lavado os pés dos apóstolos e a celebração propriamente dita já tinha terminado. Tão logo recebe o bocado do Senhor, ele sai para fazer o que havia combinado com os líderes religiosos de Israel.

Podemos ver ali, também, que, após a saída de Judas, a reunião de Jesus com os apóstolos se continua por mais algum tempo, onde podemos ler algumas instruções importantes dadas pelo Senhor a eles, logo após a Ceia e a oração intercessória de Jesus pela igreja, antes de finalmente irem para o Monte das Oliveiras.

Do capítulo 13 do Evangelho de João até o capítulo 17, observamos mais detalhes do que foi ensinado pelo Senhor Jesus aos apóstolos na celebração de sua última Páscoa. Como se trata de um trecho longo, com muitas informações, após o término dos estudos sobre o Evangelho de Mateus, vamos fazer um estudo à parte, comentando o que Cristo ensina em cada um desses capítulos.

Sobre a celebração dessa Páscoa, citada no capítulo 26 de Mateus, ela se desenrolou de uma forma diferente das anteriores que Jesus participou, pois naquele momento, sua morte e ressurreição estavam próximas de acontecer. 

Era preciso sinalizar não somente que as profecias relacionadas a Ele estavam para se cumprir, mas também deixar para a igreja, após Sua ascensão aos céus, o mandamento que seria usado como memorial para lembrar sua morte pelos nossos pecados, o qual deve ser continuamente cumprido até que Ele volte pela segunda vez.

Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: "Tomem e comam; isto é o meu corpo". Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: "Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai". (Mateus 26:26-29)

Através do cumprimento do mandamento da Santa Ceia, portanto, a igreja tem celebrado, através dos tempos, o acesso gratuito, disponibilizado por Deus aos homens pelo sacrifício de Cristo – que é a justificação –, que livra os crentes da condenação à morte eterna.

O apóstolo Paulo, em sua primeira carta dirigida aos cristãos da cidade de Corinto, ensina alguns aspectos envolvidos na celebração da Santa Ceia, que todo cristão deve saber (1 Coríntios 11). Por se tratar de um assunto extenso, assim como aqueles contidos no Evangelho de João, referentes aos vários ensinamentos de Jesus durante a celebração da Páscoa, esse terá também um estudo à parte, após o término dos estudos do Evangelho de Mateus.

Para concluir, é preciso lembrar também que esse mandamento deixado por Jesus Cristo é superior àquele contido em Êxodo 12, pois, como o Messias veio e o cumpriu este em Si mesmo, já não se faz mais necessário sacrificar qualquer animal ou mesmo fazer os outros tipos de sacrifícios contidos na Lei mosaica, que são relacionados aos pecados dos homens.

Sobre isso, há muitos trechos nas cartas aos Hebreus e aos Gálatas que são esclarecedores. Abaixo, podemos conferir dois trechos, um de cada carta, que dizem o seguinte:

Quando Cristo veio como sumo sacerdote dos benefícios agora presentes, ele adentrou o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito pelo homem, isto é, não pertencente a esta criação. Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção. Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam de forma que se tornam exteriormente puros, quanto mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo! Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna. (Hebreus 9:11-15)

(...) sabemos que o ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da lei, porque pela prática da lei ninguém será justificado. (Gálatas 2:16)

Que o Senhor ilumine o teu coração, para a compreensão destas importantes verdades!

Missionária Oriana Costa

Revisão: Pr. Wendell Costa

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