terça-feira, 13 de setembro de 2022

Jesus inicia seu ministério - Considerações sobre Mateus capítulo 4 - parte 2


Neste estudo vamos entender o que acontece com Cristo logo após o período de provação no deserto da Judéia (leia o estudo anterior Jejuando no deserto), onde Ele dá início ao seu ministério terreno.

Algum tempo depois do término de seu jejum, enquanto seguia anunciando o Seu Reino, o Senhor fica sabendo que João Batista tinha sido preso. Essa situação sinalizou para Cristo que o momento não era propício para Ele continuar na região da Judéia, pois, além de ser seu parente, a mensagem que seria anunciada por Jesus era similar a de João, e por causa disso Ele poderia ser igualmente detido por Herodes. 

Então, como ainda não havia chegado o tempo de ser preso e sacrificado, Cristo decidiu viajar de volta para Nazaré, na Galiléia, onde sua família estava, para lá continuar divulgando o Seu Reino, ensinando nas sinagogas e fazendo muitos milagres. 

Porém, antes de ir para Nazaré, o Senhor Jesus passou adiante e hospedou-se em Betsaida, uma cidade situada no litoral da Galiléia, onde Ele foi encontrar alguns homens que escolheria para serem seus discípulos mais chegados, que foram André e seu irmão, Simão Pedro, Filipe, Natanael, e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e seu irmão João, como veremos nas informações a seguir:

"Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram. Indo um pouco mais adiante, viu num barco Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, preparando as suas redes. Logo os chamou, e eles o seguiram, deixando Zebedeu, seu pai, com os empregados no barco." (Marcos 1:16-20)

Uma narrativa similar a esta de Marcos também pode ser encontrada no Evangelho de Mateus (Mt 4:18-22), confirmando os acontecimentos. Porém, o Evangelho de João nos fornece mais algumas informações complementares bem interessantes sobre esses momentos, dando detalhes de como e onde foi o encontro de Jesus com esses homens (Jo 1:35-51).

Vale salientar que no Evangelho de João não está claro que Jesus encontrou os discípulos depois de sair do deserto da Judéia. Nós podemos chegar a essa conclusão após fazermos uma boa comparação com as descrições similares contidas nos outros três evangelhos.

No entanto, há uma hipótese (o texto não deixa claro) de que os dois primeiros discípulos que Jesus encontrou, André e Simão, provavelmente já seguiam o Senhor à distância, antes dele ir para o deserto da Judéia. De acordo com o relato do Evangelho de João, esses dois irmãos eram discípulos de João Batista e, logo após o batismo de Jesus, viram João sinalizar que Ele era o cordeiro de Deus e começaram a seguí-lo (Jo 1:35-37). 

Continuando nosso estudo, após passar algum tempo em Nazaré, em seguida o Senhor Jesus vai para Carfanaum, dando continuidade ao Seu trabalho, como veremos no trecho abaixo:

"Quando Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galiléia. Saindo de Nazaré, foi viver em Cafarnaum, que ficava junto ao mar, na região de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías: "Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios; o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz". Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo." (Mateus 4:12-17)

Nos Evangelhos de Marcos, Lucas e João também encontramos muitas informações complementares sobre o período inicial do trabalho de Cristo.

No Evangelho de Marcos, encontramos o seguinte:

"Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. "O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!"" (Marcos 1:14,15)

Já no Evangelho de Lucas, encontramos um relato mais detalhado, como lemos abaixo:

"Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado. E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: "O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restaurar a vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos. E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José? E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum. E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se. E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados. E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade." (Lucas 4:14-32)

Lucas nos mostra informações importantes sobre como se deu o início do ministério de Jesus Cristo. Somadas às narrativas dos outros Evangelhos, sabemos que o Senhor deixou o deserto da Judéia e foi para a Galiléia, dando início oficialmente ao seu ministério em uma sinagoga de Nazaré, já acompanhado de muitos seguidores, como veremos em estudos posteriores. 

E ali, apesar da sabedoria que demonstrou ter diante de todos e dos milagres que realizou por lá, as pessoas se enfureceram com ele ao serem confrontadas com a verdade dos fatos.

Vejamos abaixo onde está inserido o trecho do livro do profeta Isaías lido por Jesus Cristo na sinagoga de Nazaré:

"O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória." (Isaías 61:1-3)

Após mencionar Isaías, Jesus lembrou a verdadeira situação dos israelitas diante de Deus, mostrando sua necessidade de arrependimento perante a desobediência e incredulidade que viviam. 

Por isso, seguiu falando da viúva da cidade de Sarepta, que ficava em Sidom, regiões do Império Fenício (veja a história em 1Reis 16:29-34, 1Reis 17) e de Naamã, comandante do exército Sírio (veja a história em 2Reis 5:1-19), que, apesar de serem de outras nações (gentios), foram abençoados no lugar dos israelitas por considerarem mais a Deus.

Então, ao iniciar a pregação da mensagem do Reino na cidade em que fora criado desde a mais tenra infância, onde residia até aquele momento, e num lugar onde todos conheciam sua família e sua boa reputação, Jesus foi rapidamente rejeitado e expulso simplesmente por falar a verdade. 

As pessoas não entenderam o que viram e ouviram de Jesus, pois estavam longe de Deus, com os corações endurecidos. Ele só não foi assassinado por ter sido livrado pelo Pai do ódio da multidão, passando pelo meio das pessoas sem ser visto. Essa foi a forma como o ministério terreno de Jesus Cristo começou.

Por causa da indignação dos judeus nazarenos, Jesus saiu daquela cidade e foi continuar seu trabalho em Carfanaum, se mudando com sua família e seus discípulos para lá. A ida de Jesus para essa cidade foi predita pelo profeta Isaias, como observamos na passagem do Evangelho de Mateus citada no início deste texto. Vejamos o trecho de Isaías completo:

"Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galiléia das nações. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz." (Isaías 9:1,2)

Sobre os prodígios que Jesus fez enquanto ainda morava em Nazaré, no Evangelho de João encontramos um trecho que mostra o primeiro milagre feito por Jesus ao iniciar seu ministério, que ocorreu em um vilarejo daquela localidade: 

"No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". Respondeu Jesus: "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou". Sua mãe disse aos serviçais: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabia entre oitenta a cento e vinte litros. Disse Jesus aos serviçais: "Encham os potes com água". E os encheram até à borda. Então lhes disse: "Agora, levem um pouco do vinho ao encarregado da festa". Eles assim o fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo e disse: "Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora". Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele." (João 2:1-11)

Caná era um pequeno vilarejo situado na cidade de Nazaré. As escrituras não deixam claro se Jesus fez esse milagre antes de ir à sinagoga naquela mesma cidade, onde leu o famoso trecho de Isaías (Is 61:1-3). 

Sobre o evento ocorrido no casamento em Caná, podemos fazer uma contextualização, para entendermos melhor o que ocorreu ali. 

Antes de mais nada, essa narrativa quebra um grande tabu sobre a ingestão de vinho (bebida alcoólica) dentre os cristãos, pois, de acordo com a história, Jesus realmente transformou água em vinho, que era a principal bebida servida nos casamentos judaicos daquela época. Se Cristo fosse contra a ingestão dessa bebida, e se realmente fosse pecado beber vinho, Ele jamais teria feito aquele prodígio.

O segundo ponto, é que Maria ainda não cria em Jesus como Messias naquela ocasião, segundo o relato dos Evangelhos. Ela só veio crer em Jesus dessa forma quando já estava próximo o momento do sacrifício dele na cruz. Nas bodas de Caná, ela comentou com Jesus que o vinho tinha acabado por ele ser o chefe da família (José já havia falecido), e acreditou que ele ajudaria a resolver o problema junto com os outros homens que estavam ali. O que ela não esperava é que Jesus resolveria o problema fazendo um milagre.

Sobre a resposta que Jesus deu a sua mãe "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou" (versão NVI), a colocação das palavras pode soar como uma falta de respeito ou uma grosseria da parte de Jesus, mas não foi isso o que aconteceu ali. De fato, Jesus chamou a atenção para algo espiritual, pois há um significado profético entre a cerimônia de um casamento judaico e o sacrifício de Jesus, e que Maria certamente não entendia.

No casamento judaico, o vinho entrava em duas ocasiões. No primeiro momento, entrava no início do contrato de casamento, onde o noivo e a noiva bebiam o vinho no mesmo cálice, selando o pacto do noivado. Após um ou dois anos de preparação, os noivos novamente se encontravam para confirmar definitivamente o acordo no casamento, e voltavam a beber o vinho no mesmo cálice no primeiro dia da cerimônia, e esse cálice logo em seguida era quebrado. 

Maria comentou com Jesus que o vinho tinha acabado, esperando que Ele ajudasse a resolver o problema junto com os outros homens que estavam na festa. Mas, Jesus não estava vendo aquela situação da mesma forma que sua mãe. Diante disso, a resposta de Jesus foi mais ou menos a seguinte, trocando em miúdos: você quer ofertar vinho para essa festa, mas o meu sangue é o vinho que todos realmente precisam para entrarem em aliança com o Pai, contudo, ainda não chegou a hora do meu sacrifício.

Na verdade, Jesus estabeleceu uma aliança entre Ele e a Sua Noiva, que é o Seu Povo ou a Sua Igreja, quando bebeu vinho no mesmo cálice com os Apóstolos no momento da celebração da última Páscoa, onde ficou estabelecido o mandamento da Santa Ceia. Por isso, a celebração da Santa Ceia é tão importante, pois traz à memória que Jesus vai retornar para consumar sua aliança de Vida Eterna com Seu Povo para sempre.

Para o povo de Israel, o milagre da transformação de água em vinho nas bodas de Caná foi um sinal claro de que o Seu Justificador havia chegado, mas, que eles não foram capazes de entender. Curiosamente, a água e o vinho eram dois dos demais elementos que faziam parte dos rituais ordenados por Deus a Moisés para a purificação dos sacerdotes e do povo (Êx 29:38-46, Êx 30:17-21)

Missionária Oriana Costa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Jejuando no deserto - Considerações sobre Mateus capítulo 4 - parte 1


Neste texto vamos fazer a análise do momento em que Jesus Cristo vai para o deserto da Judéia, e ali passa por uma fase de provação antes de iniciar seu trabalho de anunciação do Reino de Deus, para, finalmente, se oferecer como sacrifício em nosso favor diante do Pai.

Esse momento foi curto, durou quarenta dias, porém, foi intenso, no qual Jesus foi provado até o limite da sua vida, ficando sem comer durante todo esse período. Chegando ao fim do jejum, já com o corpo bem enfraquecido, Ele precisou estar seguro com relação à vontade do Pai e ao conteúdo das escrituras, para não sair do plano no qual manter a sua integridade era fundamental.

Abaixo vamos ler o trecho do Evangelho de Mateus que relata essa fase especial da vida e ministério do Senhor Jesus:

"Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: "Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães". Jesus respondeu: "Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’". Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: "Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’". Jesus lhe respondeu: "Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’". Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar". Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram." (Mateus 4:1-11)

Um pouco antes de ir para o deserto e iniciar esse período de provação, o Senhor havia passado pelo batismo no Rio Jordão, como vimos no estudo anterior - O batismo de Jesus. E assim como o batismo de Jesus está ligado aos acontecimentos passados publicados no Antigo Testamento, o tempo em que Ele foi provado no deserto também está.

Estes dias que Jesus passou no deserto foi um sinal importante para os israelitas. Essa fase do ministério de Cristo se relacionou ao tempo  em que o povo de Israel passou quarenta anos no deserto do Sinai, até que finalmente pudessem entrar em Canaã, a terra prometida. 

A seguir, vejamos um trecho no livro de Salmos que nos revela o porquê do povo ter sido mantido no deserto por quatro décadas:

"Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como em Meribá, como aquele dia em Massá, no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de terem visto o que eu fiz. Durante quarenta anos fiquei irado contra aquela geração e disse: "Eles são um povo de coração ingrato; não reconheceram os meus caminhos". Por isso jurei na minha ira: "Jamais entrarão no meu descanso"". (Salmos 95:7-11)

Depois que o povo foi liberto da escravidão no Egito, infelizmente não se manteve focado em Deus. Os israelitas endureceram o coração, se tornaram ingratos e não reconheceram os preceitos da reta justiça de Deus (não reconheceram seus caminhos), segundo o que lemos no trecho bíblico contido no parágrafo anterior. 

Então, o Senhor manteve o povo no deserto sem poder entrar em Canaã, até que aquela geração que havia sido liberta tivesse morrido. Somente a geração seguinte foi autorizada a conquistar a terra prometida a Moisés e possuí-la. Assim, Deus falou o seguinte ao sucessor de Moisés:

"Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: "Meu servo Moisés está morto. Agora, pois, você e todo este povo, preparem-se para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu estou para dar aos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a terra dos hititas, até o mar Grande, no oeste. Ninguém conseguirá resistir a você, todos os dias da sua vida. (...) Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar". (Josué 1:1-9)

A relação entre o que aconteceu aos israelitas no deserto e a provação de Jesus num lugar semelhante é que, ao contrário do que sucedeu ao povo de Israel naqueles quarenta anos, estando eles num território inóspito (Dt 8:15,16), contudo, sem que Deus não lhes deixasse faltar nada (Nm 9:21) - ainda que muitas vezes desprezassem seus decretos e não obedecessem a Ele como deveriam -, Jesus foi para o deserto da Judéia passar quarenta dias, porém, sendo tentado por Satanás e sem comer nada, sem estar numa casa ou numa tenda, e cercado de animais selvagens. 

Nos Evangelhos de Marcos e Lucas encontramos os trechos que complementam as informações contidas em Mateus:

"Logo após, o Espírito o impeliu para o deserto. Ali esteve quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Estava com os animais selvagens, e os anjos o serviam." (Marcos 1:12,13)

"Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve fome." (Lucas 4:1,2)

Jesus suportou passar quarenta dias sendo tentado pelo Diabo, sem comer, sem conforto, e cercado de perigos, por estar cheio do Espírito Santo, e estar convicto da vontade do Pai. Ele tinha uma missão especial a cumprir, e isso ia requerer dele uma postura incorruptível e plenamente justa, que o povo de Israel infelizmente não apresentou logo após ser liberto da escravidão no Egito. Por isso, Ele precisou ser provado dessa forma antes de começar a anunciar o Seu Reino.

Lembrando que tudo o que houve com Jesus, desde o momento em que Maria engravidou do Espírito Santo até a ressurreição, foi devidamente predito nas escrituras. Tudo o que aconteceu com Cristo estava intimamente relacionado ao início da criação, ao Dilúvio, aos mandamentos da Lei Mosaica e às palavras dos profetas, no entanto, se sucedendo de forma abreviada. 

Assim sendo, enquanto os israelitas passaram quarenta anos no deserto do Sinai sendo provados (Dt 8:2,3), Jesus passou quarenta dias. Cada dia de Cristo ali equivale a um ano dos israelitas no tempo de Moisés.

Retomando a análise da fase em que Cristo esteve no deserto jejuando, ao final de quarenta dias sem comer, Ele teve fome. Para quem nunca jejuou ou não tem conhecimento sobre jejum, pode parecer estranho que o Senhor só tenha sentido fome após todo esse tempo sem comer. 

Mas, o que ocorre normalmente é que, no início do jejum o indivíduo sente fome, contudo, à medida que o tempo passa, essa fome reduz e aquieta, de modo que a pessoa não sente mais o incômodo.

Porém, depois de algum tempo sem comer, só tomando água, isso varia de pessoa para pessoa - quarenta dias é o tempo máximo que um adulto pode suportar vivo sem se alimentar -, a fome volta de uma maneira muito forte, sinalizando que se a pessoa não repor as energias naquele momento, o corpo não vai mais aguentar vivo.

Então, foi sentindo a fome de uma inanição, com o corpo totalmente fraco, que Jesus suportou a pior tentação que Satanás lhe fez durante aqueles quarenta dias, lembrando que as escrituras esclarecem que Jesus foi tentado por Satanás durante todo o tempo do jejum (Mc 1:13 e Lc 4:2). 

Mesmo enfraquecido e com uma fome insuportável para um ser humano comum, Ele foi capaz de resistir às tentações, mantendo sua integridade diante do Pai, sem se desviar do propósito para o qual sua vida estava designada desde o início da criação.

Observando os relatos dos Evangelhos, vemos que Satanás não tentou Jesus de qualquer forma, na sua última investida. Ele o fez com base em três pontos chaves da fé em Deus que estão contidos na Lei Mosaica, aquela mesma que foi entregue aos israelitas no deserto do Sinai e eles, movidos por seus desejos carnais, a desobedeceram. 

O Diabo estava na expectativa de que o Filho de Deus também a transgredisse em algum momento, movido pelo desespero, visto que seu corpo estava desconfortável e fraco, beirando a morte.

Vejamos abaixo, quais foram os três  mandamentos da Lei que o Maligno tentou fazer o Cristo infringir:

1-Ele tentou fazer Cristo desprezar a palavra de Deus.

Satanás aproveita o estado de fraqueza física do Senhor, e sugere a ele transformar pedras em pães (Mt 4:3 e Lc 4:3), para que, agindo por medo de morrer e pelo desespero da fome, colocasse a palavra de Deus em segundo plano. Porém, Cristo rebate citando um trecho do livro de Deuteronômio. 

Vejamos onde está inserida a resposta que o Senhor deu ao Diabo:

"Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhe que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor." (Deuteronômio 8:2,3)

Se Jesus tivesse cedido àquela tentação, não teria dado o sinal de integridade que o Pai esperava receber dele, que deveria contrariar o comportamento reprovável dos israelitas no passado.

2-Ele tentou fazer Cristo ficar confuso e duvidar do Pai.

Usando um trecho bem conhecido do livro de Salmos, e que é profético, o Diabo tenta persuadir o Cristo a duvidar que o Pai o livraria da morte, colocando-o no ponto mais alto do templo e sugerindo que ele testasse se realmente o Pai iria livrá-lo, se atirando de lá (Mt 4:5,6 e Lc 4:9-11):

"Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra." (Salmos 91:11,12)

E Jesus, mais uma vez, resiste à tentação com um trecho da Lei:

"Não ponham à prova o Senhor, o seu Deus, como fizeram em Massá. Obedeçam cuidadosamente aos mandamentos do Senhor, o seu Deus, e aos preceitos e decretos que ele lhes ordenou." (Deuteronômio 6:16,17)

Massá foi o lugar do deserto do Sinai onde os israelitas, após terem sido libertos da escravidão no Egito, se desesperaram por causa da sede que sentiam, e começaram a agir por incredulidade, colocando à prova se Deus realmente estava agindo em favor deles ou não:

"O povo estava sedento e reclamou a Moisés: "Por que você nos tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?" Então Moisés clamou ao Senhor: "Que farei com este povo? Estão a ponto de apedrejar-me!" Respondeu-lhe o Senhor: "Passe à frente do povo. Leve com você algumas das autoridades de Israel, tenha na mão a vara com a qual você feriu o Nilo e vá adiante. Eu estarei à sua espera no alto da rocha que está em Horebe. Bata na rocha, e dela sairá água para o povo beber". Assim fez Moisés, à vista das autoridades de Israel. E chamou aquele lugar Massá e Meribá, porque ali os israelitas reclamaram e puseram o Senhor à prova, dizendo: "O Senhor está entre nós, ou não?" (Êxodo 17:3-7)

3-Ele tentou fazer Jesus desistir de ser sacrificado para justificar toda a humanidade.

Na última tentação, buscando fazer o homem Jesus desejar reinar sobre toda a terra sem ser sacrificado, o Maligno mostra-lhe todos os reinos do mundo, pois naquele momento eles estavam sob seu domínio. No entanto, a condição para que Jesus reinasse ali era reconher somente a autoridade do Diabo sobre sua vida, e não a do Pai, prostando-se para adorá-lo (Mt 4:8-10 e Lc 4:5-8.

Quando adoramos alguém (reclinando o corpo de joelhos com a face voltada para o chão) estamos reconhecendo que aquela pessoa tem autoridade máxima sobre nossas vidas, e confirmando que estamos inteiramente submissos a ela.

Se Jesus tivesse se deixado levar pela oferta, a humanidade não teria uma justificação disponível para seus pecados, e ele seria destruído pelo Pai junto com Satanás, pois, assim como foi a resposta de Cristo ao Diabo, a Lei declara:

"Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto, e jurem somente pelo seu nome. Não sigam outros deuses, os deuses dos povos ao redor; pois o Senhor, o seu Deus, que está no meio de vocês, é Deus zeloso; a ira do Senhor, o seu Deus, se acenderá contra vocês, e ele os banirá da face da terra." (Deuteronômio 6:13-15)

Terminada a prova, Satanás deixou Jesus por algum tempo e os anjos vieram cuidar do Senhor, pois Ele estava muito fraco e isolado, longe das cidades e sem acesso à ajuda humana. Logo após sua reabilitação, Ele se dirigiu à Galiléia e ficou um pouco de tempo em Nazaré, onde iniciou seu trabalho de anunciação do Reino, depois foi morar em Carfanaum.

Missionária Oriana Costa.

Antes de escolher os Apóstolos - Parte 3.1 - O Sermão da montanha

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