quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O milagre da moeda de quatro dracmas.

No capítulo 17 do Evangelho de Mateus, encontramos três eventos bem peculiares que aconteceram no ministério terreno do Rei Jesus Cristo, dois dos quais já tratamos aqui no blog, que foram a transfiguração do Mestre no Monte Hermom e a cura/libertação do menino possesso.

Agora vamos observar o momento em que o Senhor Jesus se antecipa a Pedro, já sabendo por obra do Espírito Santo o que havia acontecido com ele, dizendo-lhe em seguida o que deveria fazer para pagar um tributo. Este evento se inicia a partir do versículo 24 do capítulo que estamos analisando.

Todos os três eventos desse capítulo, como sabemos, estão diretamente relacionados com a realidade do Reino de Deus. Neste último, onde Pedro é instruído pelo Cristo em como deveria fazer para conseguir o valor para pagar um certo imposto, há a revelação de mais uma característica desse Reino: Filhos de Deus não precisam pagar ao seu Pai para fazerem parte desse lugar. Se somos filhos, temos direito de estar no Reino e usufruir dele gratuitamente.

Porém, naquele momento, os israelitas ainda não tinham conhecimento sobre a realidade do Reino dos Céus e seguiam obedecendo a Lei mosaica, sem entender que é para Cristo e para o Seu Reino que ela apontava todo o tempo.

Na Lei havia um mandamento específico, o qual determinava que todo o povo de Israel deveria contribuir uma vez por ano, com o valor de "meio siclo" (que equivalia a duas dracmas romanas) por pessoa adulta, em prol da expiação dos pecados do povo (Êxodo 30:11-16). Esse era o "imposto do templo", sobre o qual Pedro foi interrogado.

Este tributo, somado a alguns outros, como o dízimo, por exemplo, foi dado por Deus aos israelitas para garantir que o serviço do templo não parasse. Fazendo essas contribuições, os israelitas mantinham os sacerdotes e levitas providos em suas necessidades para continuarem seu trabalho. Por terem sido consagrados a Deus, eles tinham que se dedicar integralmente ao cumprimento dos rituais ordenados por Ele, e por causa disso, não podiam trabalhar plantando e criando animais para se sustentarem, como a maioria do povo fazia.

Se os sacerdotes e levitas não fizessem seu trabalho no templo, os mandamentos pela expiação dos pecados do povo deixavam de ser cumpridos assim como Deus ordenava na Lei – pois o povo continuava pecando contra o Criador continuamente –, e essa situação, por sua vez, tornava os israelitas dignos de juízo.

Portanto, o valor de meio siclo pago anualmente era uma oferta ao Senhor e deveria ser entregue ao serviço da tenda da congregação. Assim sendo, este ato impedia que um juízo de Deus sobre a maldade, em forma de pragas destruidoras, caísse sobre todo o povo de Israel. 

É importante lembrar aqui que, apesar de Jesus não ter podido trabalhar secularmente durante o Seu ministério terreno, nunca lhe faltou o dinheiro para que se sustentasse e pagasse os tributos, fossem eles relativos ao cumprimento da Lei ou fossem eles relativos ao domínio do Império Romano sobre Israel. 

O Pai providenciou mantenedores para sustentarem o trabalho da anunciação do Reino de Deus, dentre eles estavam mulheres de boas condições financeiras, que haviam sido curadas e libertas pelo poder de Deus através do trabalho de Jesus Cristo (Lucas 8:1-3).

Por este motivo, o milagre que aconteceu no episódio que estamos analisando foi diferenciado dos demais milagres realizados por Jesus, exatamente para que Pedro tivesse a confirmação de que seu mestre era realmente o Filho de Deus, o Messias enviado para resgatar o povo.

Assim, além de falar sobre a cobrança do imposto com seu discípulo, antes que este pudesse ter-lhe dito qualquer coisa, o Rei Jesus ainda lhe mostrou onde conseguir uma moeda de quatro dracmas de uma forma totalmente inusitada. Aquele valor pagaria não somente a parte de Jesus, mas a parte de Pedro também.

Quando o Senhor perguntou a Pedro "De quem os reis da terra cobram tributos e impostos: de seus próprios filhos ou dos outros?", Ele quis chamar a atenção de Seu discípulo para três fatos importantes: o primeiro era que os reis da terra não cobravam impostos de seus próprios filhos, para que estes permanecessem ao seu lado; logo, o Pai celestial também não cobraria qualquer valor de seus filhos para que estes estejam com Ele em Seu Reino.

O segundo era de que o seu Mestre era mesmo o Filho do Deus Vivo, enviado pelo Pai para justificar os pecados do povo, e n'Ele não havia pecado. O terceiro era que o templo havia sido construído por orientação do Pai, para que Ele interagisse com os israelitas ali. Ora, se Cristo é o Filho Unigênito de Deus, então o templo também existia por causa d'Ele e para Ele.

Foi por estas três causas que, após a resposta de Pedro afirmando que os reis da terra só cobravam impostos dos outros, Cristo respondeu: "Então os filhos estão isentos". Isso quer dizer que o Senhor Jesus não precisaria dar oferta por Si mesmo ali, ou em qualquer outro lugar da terra, pois n'Ele não havia maldade que precisasse ser justificada.

Isso também significa que após aceitarmos o suficiente sacrifício de Cristo pelos nossos pecados, que nos justifica diante do Pai Criador e nos torna seus filhos por adoção, nós também estamos isentos de ter que cumprir todos os mandamentos da Lei relacionados a expiação dos nossos pecados, ou que apontem a necessidade de uma justificação.

Quando somos justificados por Cristo, nós entramos em Seu Reino e assim passamos a conhecer plenamente os princípios e a justiça desse lugar e a obedecê-la de coração. Tais princípios são superiores aos mandamentos da Lei mosaica, uma vez que eles já existiam antes que o homem pecasse e a própria Lei mosaica existisse. Desta forma, os israelitas tinham que perseverar em obedecer aquela lei até que o Messias viesse, pois não estavam dentro do Reino de Deus e, por esta causa, precisavam dos contínuos sacrifícios, a fim de estarem justificados, diante de Deus, na carne.

Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? (Hebreus 9:13,14)

Naquele momento, o Senhor Jesus deveria ocultar temporariamente sua posição de divindade diante do povo para cumprir as escrituras, então Ele pagou o imposto e cumpriu o mandamento. Ele não foi enviado para se exaltar, mas para se humilhar em nosso favor, concedendo a toda humanidade a graça da salvação.

Quanto a forma inusitada de conseguir a moeda de quatro dracmas, seria interessante que os coletores do imposto do templo estivessem presenciando como ela estava sendo adquirida. Obviamente Jesus poderia não ter feito daquela forma. Poderia, simplesmente, ter chamado Judas para retirar da bolsa das ofertas o valor necessário para o pagamento dos dois impostos.

A Escritura não relata se Pedro estava acompanhado daqueles homens no momento que pegou o peixe; no entanto, seria impactante para eles se tivessem visto Pedro tirar o peixe do anzol e puxar a moeda de dentro da boca do animal. Certamente, após observarem aquele evento, a primeira pergunta que eles teriam feito àquele discípulo de Cristo seria: como você sabia que havia uma moeda de quatro dracmas na boca desse peixe?

Muito provavelmente, se Pedro tivesse que pagar o tributo a partir de seu trabalho como pescador, teria que pescar muitos peixes e vendê-los, para, em seguida, usar o dinheiro obtido. Naquele momento, no entanto, os discípulos de Cristo não tinham condições de trabalhar como antes, pois seu tempo era dedicado a acompanhar o Senhor Jesus no ministério de anunciação do Reino. Foi por isso que o Senhor providenciou o valor do pagamento para seu discípulo também.

A conclusão que chegamos é que, mais uma vez, o Senhor Jesus mostra Sua misericórdia, bondade, cuidado e justiça; também confirma que a realidade do Seu Reino é muito superior, e infinitas vezes melhor, que a realidade desse mundo mau no qual vivemos.


Texto: Missionária Oriana Costa

Revisão: Pr. Wendell Costa

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