domingo, 24 de abril de 2022

Genealogia de Jesus - Considerações sobre Mateus capítulo 1 - Parte 1

Aqui iniciamos o estudo do Evangelho de Mateus, no primeiro capítulo. Nesse texto, vamos entender a genealogia de Jesus, e como ela está ligada ao cumprimento das profecias feitas no Antigo Testamento sobre a vinda do Messias. 

É importante que sempre façamos comparações do que está escrito em Mateus com os outros três Evangelhos, para termos uma melhor compreensão e também confirmação dos fatos. E quando falamos da genealogia de Jesus Cristo, os dois Evangelhos que se destacam são Mateus (Mt 1: 1-17) e Lucas (Lc 3:23-38).

Nos dois Evangelhos nós encontraremos detalhes da árvore genealógica de Jesus que aparentemente só colocam como referência de parente mais próximo o pai adotivo do Messias, que foi José, o carpinteiro, e não Maria, sua genitora. 

Contudo, veremos abaixo que um dos Evangelhos está se referindo à genealogia de Jesus pelo lado paterno (ainda que José não tenha sido o genitor de Cristo), e o outro, pelo lado materno. Vejamos a seguir duas pequenas partes dos trechos que mostram a genealogia de Jesus em Mateus e Lucas:

"Eliúde gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó; e Jacó gerou José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo. Assim, ao todo houve catorze gerações de Abraão a Davi, catorze de Davi até o exílio na Babilônia e catorze do exílio até o Cristo." (Mateus 1:15-17)

"Jesus tinha cerca de trinta anos de idade quando começou seu ministério. Ele era, como se pensava, filho de José, filho de Eli, filho de Matate, filho de Levi, filho de Melqui, filho de Janai, filho de José, filho de Matatias, filho de Amós, filho de Naum, filho de Esli, filho de Nagai, (...)." (Lucas 3:23-38)

Lendo as duas genealogias vamos notar pequenas diferenças entre elas em alguns nomes, especialmente os nomes dos avôs de Jesus, que em Mateus é Jacó e em Lucas é Eli. Essas diferenças acontecem para que possamos saber que umas das genealogias é paterna, e a outra, materna, e que tanto por parte de pai quanto por parte de mãe Jesus era descendente da tribo de Judá e pertencia a linhagem de Davi, cumprindo devidamente as escrituras nesses quesitos.

A grande dúvida que existe nesses textos traduzidos para a língua portuguesa é descobrir qual deles está se referindo à genealogia de Jesus por parte de pai, e qual está se referindo a sua genealogia por parte de mãe. 

Então, considerando que não houveram erros de tradução/interpretação dos manuscritos na versão que estamos analisando (NVI), e que os Evangelhos estão expondo a verdade dos fatos, vamos analisar a colocação das palavras a partir dos textos publicados em nossa própria língua, a fim de descobrir qual é qual.

No Evangelho de Mateus vemos que a palavra "gerou" está em evidência geração após geração desde Abraão até chegar em "José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus". Por causa desse verbo (gerar), entendemos aqui que Jacó era realmente o genitor de José. E, nesse caso, essa genealogia se refere ao lado paterno de Jesus.

Já no Evangelho de Lucas, notamos que a expressão "filho de" está em evidência geração após geração, até chegar em "Adão filho de Deus" (Lc 3:38). Aqui, entendemos que a expressão "José, filho de Eli" não necessariamente está dizendo que Eli foi o genitor de José, e que, nesse caso, pode estar declarando que José é filho de Eli por ter se casado com sua filha legítima, Maria. 

Legalmente, um genro ou uma nora torna-se filho(a) por adoção dos pais de seu cônjuge, e isso é assim desde Adão até agora, nunca mudou. Portanto, se a genealogia contida em Mateus é a paterna, a de Lucas certamente está se referindo ao lado materno de Jesus Cristo.

Sobre Mateus e Lucas: Mateus era judeu, ex-cobrador de impostos, e foi um dos doze Apóstolos que o Senhor Jesus deixou para iniciar a sua Igreja na Terra. Ele escreveu seu evangelho em Hebraico. Lucas era médico e muito provavelmente não era judeu, segundo as informações contidas na carta de Paulo aos colossenses (Cl 4:7-14). Era discípulo de Paulo, e escreveu seu evangelho em grego.

Sobre a versão bíblica NVI, leia explicações detalhadas sobre ela na Wikipédia (clique aqui). A equipe que trabalhou no processo de elaboração e conclusão da NVI foi extensa (clique aqui), e esta versão, assim como as mais antigas, como a João Ferreira de Almeida e a King James, também passou por muitas revisões antes de ser publicada, e é apta para fornecer informações claras e detalhadas tanto do conteúdo do Antigo como do Novo Testamentos.

Com relação às profecias do Antigo Testamento que falam de quem o Messias seria descendente, vejamos algumas abaixo:

"Dias virão, declara o Senhor, em que cumprirei a promessa que fiz à comunidade de Israel e à comunidade de Judá. Naqueles dias e naquela época farei brotar um Renovo justo da linhagem de Davi; ele fará o que é justo e certo na terra. Naqueles dias Judá será salva e Jerusalém viverá em segurança, e este é o nome pelo qual ela será chamada: O Senhor é a Nossa Justiça." (Jeremias 33:14-16)

"Numa visão falaste um dia, e aos teus fiéis disseste: "Cobri de forças um guerreiro, exaltei um homem escolhido dentre o povo. Encontrei o meu servo Davi; ungi-o com o meu óleo sagrado. (...) Ele me dirá: ‘Tu és o meu Pai, o meu Deus, a Rocha que me salva’. Também o nomearei meu primogênito, o mais exaltado dos reis da terra. Manterei o meu amor por ele para sempre, e a minha aliança com ele jamais se quebrará. Firmarei a sua linhagem para sempre, o seu trono durará enquanto existirem céus."(Salmos 89:19-29)

"O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão. Ele amarrará seu jumento a uma videira e o seu jumentinho, ao ramo mais seleto; lavará no vinho as suas roupas, no sangue das uvas, as suas vestimentas." (Gênesis 49:10,11)

Missionária Oriana Costa.



quinta-feira, 21 de abril de 2022

Aparições de Jesus - Considerações sobre o capítulo 28 de Mateus - Parte 2


Como vimos no estudo anterior, as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo foram os soldados romanos que guardavam o sepulcro. Em seguida, Ele apareceu e falou com Maria Madalena. Nesse mesmo dia, que foi um domingo, o Senhor aparece novamente a mais dois discípulos que iam pela manhã caminhando em direção a um vilarejo próximo de Jerusalém, chamado Emaús, e então, finalmente, Cristo aparece aos Apóstolos e demais seguidores.

Ao todo, o Senhor Jesus passou quarenta dias aparecendo aos discípulos para lhes confirmar sua ressurreição (Atos 1:3), onde continuou instruindo a todos, especialmente acerca do conteúdo profético das Escrituras, além de instruí-los sobre a maravilhosa realidade do Reino de Deus. Lembrando que, naquela época, o Novo Testamento ainda não tinha sido escrito, e o Senhor Jesus continuou usando o conteúdo do Antigo Testamento para ensinar.

O Evangelho de Mateus não nos fornece todas as informações sobre as aparições de Cristo, após Sua ressurreição, como veremos abaixo, e termina fazendo um rápido relato com o desfecho dos dias que o Senhor apareceu aos discípulos, até o momento de sua ascensão aos céus.

Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram o adoraram; mas alguns duvidaram. Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". (Mateus 28:16-20)

Antes que os Apóstolos e demais discípulos fossem para a Galileia, Jesus apareceu a dois deles, enquanto se dirigiam a Emaús, como lemos no primeiro parágrafo do nosso estudo, e em conformidade com os Evangelhos de Marcos e Lucas, sendo este último mais detalhado nessa narrativa, como veremos a seguir.

Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido.

Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles; mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo.

Ele lhes perguntou: "Sobre o que vocês estão discutindo enquanto caminham?". 

Eles pararam, com os rostos entristecidos. Um deles, chamado Cleopas, perguntou-lhe: "Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?"

"Que coisas?", perguntou ele.

"O que aconteceu com Jesus de Nazaré", responderam eles.

(...)

Ele lhes disse: "Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?"

E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.

(...) Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles. Perguntaram-se um ao outro: "Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?"

Levantaram-se e voltaram imediatamente para Jerusalém. Ali encontraram os Onze e os que estavam com eles reunidos, que diziam: "É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!"

Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como Jesus fora reconhecido por eles quando partia o pão. (Lucas 24:13-35)

No entanto, mesmo com mais essa prova, os demais discípulos ainda não acreditaram que o Senhor havia ressuscitado, quando lemos o relato contido em Marcos. 

Depois Jesus apareceu noutra forma a dois deles, estando eles a caminho do campo. Eles voltaram e relataram isso aos outros; mas também nestes eles não creram. Mais tarde Jesus apareceu aos Onze enquanto eles comiam; censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração, porque não acreditaram nos que o tinham visto depois de ressurreto. (Marcos 16:12-14)

Em outro momento, provavelmente quando os discípulos já tinham voltado a Galileia, e estavam juntos comendo e conversando sobre a ressurreição de Jesus, Ele aparece, pela primeira vez, enfim, no meio deles, porém Tomé não estava presente, conforme relatam os Evangelhos de Lucas e João:

Enquanto falavam sobre isso, o próprio Jesus apresentou-se entre eles e lhes disse: "Paz seja com vocês!" Eles ficaram assustados e com medo, pensando que estavam vendo um espírito.

Ele lhes disse: "Por que vocês estão perturbados e por que se levantam dúvidas em seus corações?Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho". Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e os pés.

E por não crerem ainda, tão cheios estavam de alegria e de espanto, ele lhes perguntou: "Vocês têm aqui algo para comer?" Deram-lhe um pedaço de peixe assado, e ele o comeu na presença deles. E disse-lhes: "Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos". Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras.

E lhes disse: "Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas. (Lucas 24:36-48)

---

Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "Paz seja com vocês!"

Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor.

Novamente Jesus disse: "Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio". E com isso, soprou sobre eles e disse: "Recebam o Espírito Santo. Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados".

Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze, não estava com os discípulos quando Jesus apareceu. Os outros discípulos lhe disseram: "Vimos o Senhor!"

Mas ele lhes disse: "Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei. (João 20:19-25)

Uma semana depois, Cristo aparece segunda vez numa reunião similar, onde se apresenta especialmente a Tomé.

Uma semana mais tarde, os seus discípulos estavam outra vez ali, e Tomé com eles. Apesar de estarem trancadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "Paz seja com vocês!"

E Jesus disse a Tomé: "Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia". Disse-lhe Tomé: "Senhor meu e Deus meu!"

Então Jesus lhe disse: "Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram".

Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome. (João 20:26-31)

Algum tempo depois, Jesus aparece pela terceira vez aos discípulos às margens do Mar da Galiléia, enquanto eles pescavam. 

Depois disso Jesus apareceu novamente aos seus discípulos, à margem do mar de Tiberíades. Foi assim:

Estavam juntos Simão Pedro; Tomé, chamado Dídimo; Natanael, de Caná da Galiléia; os filhos de Zebedeu; e dois outros discípulos. "Vou pescar", disse-lhes Simão Pedro. E eles disseram: "Nós vamos com você".

Eles foram e entraram no barco, mas naquela noite não pegaram nada. Ao amanhecer, Jesus estava na praia, mas os discípulos não o reconheceram. Ele lhes perguntou: "Filhos, vocês têm algo para comer?" "Não", responderam eles.

Ele disse: "Lancem a rede do lado direito do barco e vocês encontrarão". Eles a lançaram, e não conseguiam recolher a rede, tal era a quantidade de peixes.

O discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: "É o Senhor!"

(...)

Quando desembarcaram, viram ali uma fogueira, peixe sobre brasas, e um pouco de pão. Disse-lhes Jesus: "Tragam alguns dos peixes que acabaram de pescar". Simão Pedro entrou no barco e arrastou a rede para a praia.

Ela estava cheia: tinha cento e cinquenta e três grandes peixes. Embora houvesse tantos peixes, a rede não se rompeu.

(...)

Esta foi a terceira vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois que ressuscitou dos mortos. (João 21:1-14)

Sua última aparição, com corpo glorificado e palpável, foi próximo à Betânia, no Monte das Oliveiras (Atos 1:9-12), onde deu suas últimas instruções aos discípulos e em seguida subiu aos céus conforme vimos no início do nosso estudo em Mateus 28:16-20 e também vemos em Lucas.

"Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto". Tendo-os levado até as proximidades de Betânia, Jesus levantou as mãos e os abençoou. Estando ainda a abençoá-los, ele os deixou e foi elevado ao céu. Então eles o adoraram e voltaram para Jerusalém com grande alegria. E permaneciam constantemente no templo, louvando a Deus. (Lucas 24:49-53)

Depois que ascendeu aos céus, as escrituras mostram que o Senhor Jesus continuou aparecendo em visões espirituais aos seus seguidores. Em Atos dos Apóstolos, observamos que Ele aparece uma vez ao discípulo Estevão, um pouco antes deste falecer por apedrejamento (At 7:55,56), e a Saulo de Tarso, no caminho de Damasco, enquanto viajava em perseguição aos cristãos (At 9:3-5). 

O Apóstolo Paulo de Tarso, em sua primeira carta aos coríntios, dá um breve relato do que aconteceu, segundo as informações que colheu em Jerusalém e por sua própria experiência com a aparição de Cristo, complementando as narrativas dos Evangelhos:

Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo. (1 Coríntios 15:3-8)

Portanto, com relação aos Apóstolos, Jesus apareceu primeiro a Pedro e, em seguida, apareceu aos demais, antes de ascender aos céus. Depois de já ter subido aos céus, o Senhor Jesus continuou aparecendo, segundo a narrativa de Paulo, que fala de alguns eventos não citados pelos escritores dos Evangelhos: Cristo apareceu para mais de quinhentas pessoas de uma vez, depois a Tiago, e mais uma vez aos demais Apóstolos, antes de aparecer ao próprio Paulo.

Alguns trechos do livro de Apocalipse mostram que Cristo aparece algumas vezes ao Apóstolo João, falando-lhe sobre acontecimentos futuros que envolvem o povo de Deus e o mundo.

Missionária Oriana Costa

Revisão: Wendell Costa

domingo, 17 de abril de 2022

A Ressurreição - Considerações sobre o capítulo 28 de Mateus - Parte 1


Neste texto, iniciamos o estudo do último capítulo do Evangelho de Mateus e veremos como foi a ressurreição de Jesus bem como os acontecimentos que se sucederam após esse evento tão maravilhoso. Este evento foi de suma importância, para que todos os que creem possam usufruir da herança da vida eterna em toda a sua plenitude.

Assim como nos estudos anteriores, faremos uma comparação do trecho de Mateus que iremos analisar com trechos equivalentes dos outros três evangelhos, à título de termos uma melhor compreensão de como tudo aconteceu. As referências correspondentes estão em Marcos 16:1-11, Lucas 24:1-12 e João 20:1-18.

Vejamos, a seguir, como Mateus narra o que aconteceu após o sepultamento do Senhor Jesus:
Depois do sábado, tendo começado o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
E eis que sobreveio um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu do céu e, chegando ao sepulcro, rolou a pedra da entrada e assentou-se sobre ela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve. Os guardas tremeram de medo e ficaram como mortos.
O anjo disse às mulheres: "Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele: ‘Ele ressuscitou dentre os mortos e está indo adiante de vocês para a Galiléia. Lá vocês o verão’. Notem que eu já os avisei".
As mulheres saíram depressa do sepulcro, amedrontadas e cheias de alegria, e foram correndo anunciá-lo aos discípulos de Jesus.
De repente, Jesus as encontrou e disse: "Salve! " Elas se aproximaram dele, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. Então Jesus lhes disse: "Não tenham medo. Vão dizer a meus irmãos que se dirijam para a Galiléia; lá eles me verão".
Enquanto as mulheres estavam a caminho, alguns dos guardas dirigiram-se à cidade e contaram aos chefes dos sacerdotes tudo o que havia acontecido. Quando os chefes dos sacerdotes se reuniram com os líderes religiosos, elaboraram um plano. Deram aos soldados grande soma de dinheiro, dizendo-lhes: "Vocês devem declarar o seguinte: ‘Os discípulos dele vieram durante a noite e furtaram o corpo, enquanto estávamos dormindo’.
Se isso chegar aos ouvidos do governador, nós lhe daremos explicações e livraremos vocês de qualquer problema". Assim, os soldados receberam o dinheiro e fizeram como tinham sido instruídos. E esta versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje. (Mateus 28:1-15)
De acordo com o relato acima, antes que o sepulcro de Jesus fosse visitado, Ele já havia ressuscitado, e isso aconteceu bem antes que aquele dia de domingo amanhecesse, pois quando as mulheres lá chegaram e encontraram o túmulo vazio e também sem os guardas, era madrugada e ainda estava escuro, como veremos mais adiante em nosso estudo.

Somente o Evangelho de Mateus relata o que houve com os guardas no momento em que Cristo ressuscitou, e, de acordo com a narrativa, todos eles presenciaram tudo. O problema foi que, ao falarem o que viram às autoridades israelitas, eles foram subornados para contar uma outra versão do acontecido às autoridades romanas.

É importante lembrar que o destacamento de soldados romanos que guardava o sepulcro de Jesus não dormiria em trabalho, eles eram obrigados a ser diligentes no que faziam, ou poderiam ser condenados à morte por negligência no cumprimento de suas tarefas. Então, eles se revezavam entre si, para garantir que seu trabalho fosse feito corretamente.

No momento em que a pedra do sepulcro rolou e aquele recinto ficou aberto, houve um grande terremoto, além do clarão que aconteceu no momento em que o anjo apareceu, de forma que a parte da equipe que dormia, certamente, acordou assustada com o barulho e a luz forte. Portanto, sem sombra de dúvidas, os soldados romanos foram as primeiras testemunhas oculares da ressurreição de Jesus. 

Não sabemos o que se passou pela cabeça daqueles homens, depois de presenciarem aquele acontecimento sobrenatural, mas uma coisa é certa: todos eles, ou pelo menos alguns, devem ter ido secretamente encontrar os discípulos de Jesus para relatar o que aconteceu e tentar entender o que houve, pois se assim não fosse, a narrativa detalhada daquele momento e do suborno dos soldados não estaria descrita no Evangelho de Mateus.

Muito provavelmente, alguns dos fariseus que eram seguidores de Jesus secretamente, como José de Arimatéia e Nicodemos, dentre outros nomes não citados nas escrituras, também podem ter presenciado o momento em que os guardas do destacamento chegaram e relataram o ocorrido às autoridades israelitas, como também viram o momento em que eles foram subornados para esconder o que aconteceu. Desta forma, percebemos que houveram muitas testemunhas diretas e indiretas daquele evento extraordinário.

Continuando com nossa análise, segundo o trecho do Evangelho que lemos parágrafos acima, duas mulheres visitaram o sepulcro de Jesus na madrugada do domingo, que foram Maria Madalena e Maria, mãe de José de Arimatéia, seguindo o raciocínio do capítulo 27 de Mateus, o qual já analisamos aqui no blog. No entanto, no Evangelho de Marcos, três mulheres visitaram o túmulo do Senhor: Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago.

Quando analisamos o trecho equivalente a esta mesma passagem no Evangelho de Lucas, ele diz que visitaram o sepulcro "Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas". Já o Evangelho de João diz que somente Maria Madalena foi ao sepulcro naquela manhã de domingo.

Fazendo um apanhado dessas informações, e chegando a um consenso, concluímos que Maria Madalena esteve no sepulcro acompanhada de outras mulheres, ela não esteve lá sozinha, segundo a narrativa do Evangelho de João:
No primeiro dia da semana, bem cedo, estando ainda escuro, Maria Madalena chegou ao sepulcro e viu que a pedra da entrada tinha sido removida. Então correu ao encontro de Simão Pedro e do outro discípulo, aquele a quem Jesus amava, e disse: "Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o colocaram! (João 20:1,2)
Notamos que, ao contar a notícia a Pedro e João, Maria Madalena falou em seu nome e em nome das outras mulheres que estavam com ela ao dizer "não sabemos onde o colocaram". Provavelmente ela organizou tudo, para que todas as seguidoras de Jesus pudessem fazer aquela visita tão desejada, mas tudo de forma sigilosa, de modo que cada uma pudesse colaborar no processo de unção do corpo do Senhor com as especiarias aromáticas que elas prepararam para esta finalidade.

Seguindo com a análise dos fatos, e levando sempre em consideração os relatos dos quatro Evangelhos, agora vamos entender o que aconteceu após a saída dos soldados romanos.+

Pegas de surpresa, ao encontrarem o sepulcro aberto e sem o corpo do Senhor, as mulheres se desesperaram, e então Maria Madalena voltou à cidade com algumas das companheiras para encontrar os irmãos e avisá-los do ocorrido.

Após serem avisados, os discípulos Pedro e João correram em direção ao sepulcro, a fim de averiguar o que as mulheres lhes disseram.
Pedro e o outro discípulo saíram e foram para o sepulcro. Os dois corriam, mas o outro discípulo foi mais rápido que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Ele se curvou e olhou para dentro, viu as faixas de linho ali, mas não entrou.
A seguir, Simão Pedro, que vinha atrás dele, chegou, entrou no sepulcro e viu as faixas de linho, bem como o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus. Ele estava dobrado à parte, separado das faixas de linho. Depois o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, também entrou.
Ele viu e creu. (Eles ainda não haviam compreendido que, conforme a Escritura, era necessário que Jesus ressuscitasse dos mortos.) Os discípulos voltaram para casa. (João 20:3-10)
No momento em que Pedro e João foram ao sepulcro, as mulheres que foram avisar os irmãos também voltaram para lá. Quando os dois discípulos foram embora, todas as mulheres continuaram ainda no local. E é neste momento que elas veem um anjo do lado de fora do sepulcro (Mateus 28:5-7, Marcos 16:5-7) e outros dois do lado de dentro (Lucas 24:4-8, João 20: 11-13).

Todas as mulheres, menos Maria Madalena, foram embora do local com medo, após verem e ouvirem os anjos, e, certamente, uma boa parte delas permaneceu calada sem contar nada do que presenciaram, como podemos ler em Marcos 16:8. Contudo, algumas delas decidiram ir até os discípulos e contar-lhes o que presenciaram, de acordo com o relato contido em Mateus.

Depois disso, deixando o sepulcro por último, no momento em que se afastava, Maria Madalena encontrou-se ali com Jesus. Vejamos a confirmação desse evento nos dois trechos abaixo:
Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios. Ela foi e contou aos que com ele tinham estado; eles estavam lamentando e chorando. Quando ouviram que Jesus estava vivo e fora visto por ela, não creram. (Marcos 16:9-11)
Os discípulos voltaram para casa. Maria, porém, ficou à entrada do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, curvou-se para olhar dentro do sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés.
Eles lhe perguntaram: "Mulher, por que você está chorando?" "Levaram embora o meu Senhor", respondeu ela, "e não sei onde o puseram". Nisso ela se voltou e viu Jesus ali, em pé, mas não o reconheceu.
Disse ele: "Mulher, por que está chorando? Quem você está procurando?" Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: "Se o senhor o levou embora, diga-me onde o colocou, e eu o levarei".
Jesus lhe disse: "Maria!" Então, voltando-se para ele, Maria exclamou em aramaico: "Rabôni!" (que significa Mestre).
Jesus disse: "Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês".
Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: "Eu vi o Senhor!" E contou o que ele lhe dissera. (João 20:10-18)
Portanto, apesar de no Evangelho de Mateus constar que Jesus apareceu "às mulheres", sua primeira aparição foi somente a Maria Madalena, para só depois, aparecer aos outros irmãos. 

É bom termos em mente que os relatos dos Evangelhos são totalmente verdadeiros, no entanto, um ou outro cita a participação das mulheres no evento da ressurreição de Jesus, ou a ida dos discípulos averiguar o ocorrido, por exemplo, de forma generalizada. Por isso, se quisermos entender melhor os fatos, é imprescindível fazer a comparação dos conteúdos dos quatro Evangelhos, no que diz respeito a esses e outros assuntos.

Para concluir, ao verificarmos os quatro evangelhos vamos observar que em Mateus (Mt 28:5-10) e Marcos (Mc 16:5-7), tanto os anjos que falaram com as mulheres como o próprio Cristo, que falou com Maria Madalena, avisaram que eles encontrariam o Senhor na Galileia.

Naquele domingo, os discípulos de Jesus ainda estavam em Jerusalém, por ocasião das celebrações das festas ordenadas na Lei Mosaica, porém, naquela mesma semana eles teriam que retornar à Galileia para retomarem suas rotinas normais. E foi lá na Galileia que Cristo terminou de instruir os Apóstolos e, depois, subiu aos Céus, para tomar posse do trono no Reino de Deus para sempre, como veremos no próximo estudo.

Sobre a ressurreição de Jesus, no Antigo Testamento há vários trechos se referindo a esse evento. Abaixo vamos ler três deles:
Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto; mesmo o meu corpo repousará tranqüilo, porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita. (Salmos 16:9-11)
Tu o recebeste com ricas bênçãos, e em sua cabeça puseste uma coroa de ouro puro.
Ele te pediu vida, e tu lhe deste! Vida longa e duradoura. (Salmos 21:3,4) 
Eu te exaltarei, Senhor, pois tu me reergueste e não deixaste que os meus inimigos se divertissem à minha custa.
Senhor meu Deus, a ti clamei por socorro, e tu me curaste. Senhor, tiraste-me da sepultura; prestes a descer à cova, devolveste-me à vida.
Cantem louvores ao Senhor, vocês, os seus fiéis; louvem o seu santo nome. Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda; o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria. (Salmos 30:1-5)

Missionária Oriana Costa

quinta-feira, 14 de abril de 2022

O sepultamento - Considerações sobre o capítulo 27 de Mateus - Parte 5


Na parte final do capítulo 27 de Mateus, temos a narrativa do sepultamento de Cristo. Vejamos a passagem bíblica:

Ao cair da tarde chegou um homem rico, de Arimatéia, chamado José, que se tornara discípulo de Jesus. Dirigindo-se a Pilatos, pediu o corpo de Jesus, e Pilatos ordenou que lhe fosse entregue.José tomou o corpo, envolveu-o num limpo lençol de linho e o colocou num sepulcro novo, que ele havia mandado cavar na rocha. E, fazendo rolar uma grande pedra sobre a entrada do sepulcro, retirou-se.
Maria Madalena e a outra Maria estavam assentadas ali, em frente do sepulcro.
No outro dia, que era o seguinte ao da Preparação, os chefes dos sacerdotes e os fariseus dirigiram-se a Pilatos e disseram: "Senhor, lembramos que, enquanto ainda estava vivo, aquele impostor disse: ‘Depois de três dias ressuscitarei’. Ordena, pois, que o sepulcro dele seja guardado até o terceiro dia, para que não venham seus discípulos e, roubando o corpo, digam ao povo que ele ressuscitou dentre os mortos. Este último engano será pior do que o primeiro".
"Levem um destacamento", respondeu Pilatos. "Podem ir, e mantenham o sepulcro em segurança como acharem melhor". Eles foram e armaram um esquema de segurança no sepulcro; e além de deixarem um destacamento montando guarda, lacraram a pedra. 
(Mateus 27:57-66)

Como observamos no início do trecho acima, o homem que foi até Pilatos pedir o corpo de Jesus, se chamava José, e era natural de Arimatéia, uma cidade de Judá. Ele era um judeu rico que havia se tornado discípulo de Jesus.

Mas as escrituras fornecem outras informações interessantes acerca desse homem: de acordo com os evangelhos de Marcos (Mc 15:43), Lucas (Lc 23:50,51) e João (Jo 19:38), José também era membro de destaque do Conselho (Sinédrio) e tinha sido convocado para participar do julgamento de Jesus. Portanto, Ele acompanhou todo o processo do martírio de Cristo, desde sua prisão.

Nos evangelhos também podemos ver que José de Arimatéia tinha consciência do Reino de Deus (ele esperava a vinda do Reino), e por isso creu em Jesus Cristo, no entanto, ele seguia o Senhor em segredo, por medo dos judeus. No Evangelho de Lucas está escrito que ele era "um homem bom e justo, que não tinha consentido na decisão e no procedimento dos outros".

De fato, o fariseu Nicodemos, que conversou com Jesus numa certa noite sobre "nascer de novo" (Jo 3:1-5), e que também participou do sepultamento do Senhor, segundo o relato do Evangelho de João, estava na mesma situação de José. Nicodemos igualmente era membro do Conselho e, portanto, participou do julgamento de Jesus, esperava o Reino de Deus, e seguia Cristo secretamente.

Ele estava acompanhado de Nicodemos, aquele que antes tinha visitado Jesus à noite. Nicodemos levou cerca de trinta e quatro quilos de uma mistura de mirra e aloés. Tomando o corpo de Jesus, os dois o envolveram em faixas de linho, juntamente com as especiarias, de acordo com os costumes judaicos de sepultamento. (João 19:39,40)

A morte de Jesus aconteceu muito rápido, pois seu sofrimento fora abreviado pelo Pai. Tanto é que, no Evangelho de Marcos, lemos que quando José pediu o corpo de Jesus a Pilatos, esse ficou sem acreditar que ele já tinha falecido.

José de Arimatéia, membro de destaque do Sinédrio, que também esperava o Reino de Deus, dirigiu-se corajosamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Pilatos ficou surpreso ao ouvir que ele já tinha morrido. Chamando o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido. Sendo informado pelo centurião, entregou o corpo a José. Então José comprou um lençol de linho, baixou o corpo da cruz, envolveu-o no lençol e o colocou num sepulcro cavado na rocha. Depois, fez rolar uma pedra sobre a entrada do sepulcro. Maria Madalena e Maria, mãe de José, viram onde ele fora colocado. (Marcos 15:43-47)

Segundo os Evangelhos de Mateus, Lucas e João, José de Arimatéia sepultou Jesus num lugar reservado para pessoas nobres na sociedade judaica, em um sepulcro que lhe pertencia e que nunca havia sido usado, e que estava localizado num "jardim" ali próximo. No livro do Profeta Isaías e no livro de Cantares há trechos referentes a esse acontecimento:

Pois ele foi eliminado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado. Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte. (Isaías 53:8,9)

O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de especiarias, para descansar nos jardins e colher lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele descansa entre os lírios. (Cânticos 6:2,3)

Fora José de Arimatéia e Nicodemos, houveram, pelo menos, mais duas testemunhas do sepultamento de Jesus, segundo o relato dos Evangelhos (Mt 27:61, Mc 15:47, Lc 23:55). "As mulheres que haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia", que não eram poucas, viram onde o Senhor Jesus tinha sido sepultado, mas os nomes de duas mulheres são especialmente citados: Maria Madalena e Maria (Mãe de José de Arimatéia).

Além do local onde Cristo foi sepultado ter sido devidamente visualizado por várias pessoas, dentre judeus e romanos, o lugar também fora muito bem vigiado, conforme lemos em Mateus. Esses dados são importantes para que tenhamos certeza de que não houve ocasião para que o corpo de Jesus fosse levado para outro lugar, ou mesmo fosse roubado do túmulo após seu sepultamento, pois isso invalidaria sua ressurreição.

No estudo anterior (Está consumado - Considerações sobre o capítulo 27 de Mateus - Parte 4), nós observamos que vários eventos sobrenaturais aconteceram enquanto Jesus estava na cruz e também logo após sua morte, eventos esses que foram presenciados não somente por todos os que estavam envolvidos direta ou indiretamente no processo de crucificação, mas também por todos os habitantes do planeta, tamanha foi a intensidade desses acontecimentos.

Um deles, que foi mais pontual, deve realmente ter chamado a atenção (ou, pelo menos, deveria ter chamado) do Sumo sacerdote e dos levitas, como também dos fariseus e mestres da Lei, que foi encontrarem o véu do templo rasgado de cima abaixo, ao darem continuidade aos preparativos para os rituais das festas seguintes. E estando o véu do templo rasgado, não haveria como concluir alguns desses rituais.

Mesmo assim, nenhum desses acontecimentos foi suficiente para fazer a maior parte da liderança religiosa de Israel entender o que aconteceu ali, tamanha era sua cegueira espiritual.

E achando esses que os discípulos de Jesus Cristo poderiam forjar uma falsa ressurreição, por causa do que o Senhor tinha prometido, pediram a Pilatos para colocar soldados vigiando o sepulcro até o terceiro dia, e não satisfeitos com isso, ainda lacraram a pedra que fechava a entrada do túmulo.

Apesar de estarem cegos pelo ódio que sentiam de Jesus, o que aqueles homens fizeram só ajudou a provar que a ressurreição do Senhor foi simplesmente verdadeira, como veremos no estudo seguinte.

De fato, Jesus cumpriu à risca todos os requisitos que a Lei Mosaica ordena, para que a humanidade fosse liberta da escravidão do pecado, e isso tudo diante dos olhos do povo de Israel. Contudo, para que os fariseus e mestres da Lei enxergassem isso, não bastava apenas serem bons conhecedores da Lei e das palavras dos profetas, mas também era preciso ter um entendimento claro de para quê eles serviam e para onde apontavam (Veja a explicação do Apóstolo Paulo em Gálatas capítulo 3).

Missionária Oriana Costa

Revisão: Wendell Costa

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Está consumado - Considerações sobre Mateus 27 - Parte 4


Aqui faremos a penúltima parte da análise do capitulo 27 do Evangelho de Mateus. Neste estudo, iremos observar o que aconteceu naquela sexta-feira, do meio-dia em diante, no evento da crucificação de Jesus. Lembrando que Jesus foi preso na noite do dia anterior, por volta das 22:00 h, e levado ao Pretório, já nas primeiras horas do dia seguinte, para ser julgado por Pôncio Pilatos. Portanto, da quinta para a sexta-feira, Jesus Cristo não dormiu, não teve mais descanso.

Muito provavelmente este foi um dos julgamentos ou, talvez, o único de que se tenha notícia, que aconteceu de uma forma incrivelmente rápida: da prisão até o julgamento já concluído, passaram-se cerca de 10 horas. Vê-se aí que o tempo de sofrimento de Jesus nessa parte de seu martírio foi bem abreviado pelo Pai.

Dando início ao nosso estudo, vamos ler abaixo o trecho que finaliza o capítulo 27 do Evangelho de Mateus:

E houve trevas sobre toda a terra, do meio dia às três horas da tarde. Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" que significa: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?" Quando alguns dos que estavam ali ouviram isso, disseram: "Ele está chamando Elias". Imediatamente, um deles correu em busca de uma esponja, embebeu-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. Mas os outros disseram: "Deixem-no. Vejamos se Elias vem salvá-lo". Depois de ter bradado novamente em alta voz, Jesus entregou o espírito. Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. A terra tremeu, e as rochas se partiram. Os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos santos que tinham morrido foram ressuscitados. E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. Quando o centurião e os que com ele vigiavam Jesus viram o terremoto e tudo o que havia acontecido, ficaram aterrorizados e exclamaram: "Verdadeiramente este era o Filho de Deus!" Muitas mulheres estavam ali, observando de longe. Elas haviam seguido Jesus desde a Galiléia, para o servir. Entre elas estavam Maria Madalena; Maria, mãe de Tiago e de José; e a mãe dos filhos de Zebedeu." (Mateus 27:45-56)

Vamos observar alguns fatos interessantes que se sucederam nos últimos momentos de vida de Jesus e também logo após a sua morte. O primeiro deles foi que, entre o meio-dia e as três horas da tarde daquela sexta-feira, houve "trevas" em toda a terra. Essa escuridão começou a acontecer um pouco antes do meio-dia, segundo o Evangelho de Lucas.

Alguns pesquisadores afirmam que esse período de trevas, na verdade, foi um eclipse solar, outros dizem ter sido uma tempestade de poeira vinda das regiões desérticas que ficavam próximas dali, outros dizem que foram densas nuvens que se acumularam no céu naquele momento, dentre as muitas hipóteses do que poderia ter sido aquele evento. Contudo, não há um consenso entre os estudiosos sobre o que realmente foi esse período de escuridão.

Nos Evangelhos de Marcos (Mc 15:33) e de Lucas (Lc 23:44), podemos ler trechos com informações similares, falando sobre esse mesmo acontecimento descrito em Mateus. É interessante notar que o sol não brilhou POR TRÊS HORAS SEGUIDAS, e esse fenômeno pôde ser observado em TODO O PLANETA, segundo o que está escrito nos evangelhos. Portanto, por se tratar de um evento ímpar na natureza, que foge aos padrões conhecidos, muitos pesquisadores afirmam que foi algo sobrenatural.

No Antigo Testamento, podemos encontrar um trecho constante no livro de Êxodo, em que Deus envia densas trevas sobre o Egito por três dias:

Mas o Senhor endureceu o coração do faraó, e ele não deixou que os israelitas saíssem. O Senhor disse a Moisés: "Estenda a mão para o céu, e trevas cobrirão o Egito, trevas tais que poderão ser apalpadas". Moisés estendeu a mão para o céu, e por três dias houve densas trevas em todo o Egito. Ninguém pôde ver ninguém, nem sair do seu lugar durante três dias. Todavia, todos os israelitas tinham luz nos locais em que habitavam. (Êxodo 10:20-23)

A praga das trevas que veio sobre o Egito foi a penúltima, antes da morte dos primogênitos, e antes também do sacrifício de cordeiros que as famílias israelitas fizeram, cumprindo um mandamento, para, enfim, deixarem o território egípcio em segurança. 

Portanto, assim como os três dias de trevas sobre o Egito foram um sinal para o povo de Israel e para os egípcios, de que Deus estava interferindo para que os israelitas fossem libertos daquela escravidão, as três horas de trevas sobre toda a terra foi um sinal para toda a humanidade. Deus sinalizou que estava derramando o juízo pelo pecado sobre Jesus, para que todos os que n'Ele cressem pudessem ser libertados da escravidão do pecado.

Por volta das três horas da tarde, provavelmente enquanto ainda aquela escuridão prevalecia, Jesus pergunta ao Pai "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?".

Essa pergunta não significa que Jesus era ignorante acerca do motivo pelo o qual o Pai deixou que Ele passasse por tudo aquilo, mas nos mostra algo importante: que Jesus se separou do Pai por algumas horas, para se colocar no lugar de toda a humanidade naquele momento. Até aquele instante, todos os seres humanos (incluindo os próprios israelitas) ainda não tinham acesso à justificação de seus pecados diante de Deus e estavam em trevas, separados de seu Criador e se sentindo abandonados por Ele.

Assim, desde que o sangue de Jesus foi derramado na Sua morte, muitas pessoas começaram a se reconciliar espiritualmente com Deus ao serem informadas sobre seu Reino, saindo das trevas para a luz. Esse processo continua até agora e vai perdurar até a volta do Senhor.

A morte de Cristo estabeleceu uma aliança de paz com toda a humanidade, onde todo aquele que crê na mensagem do Reino e deseja fazer parte dele recebe a justificação de seus pecados pela fé nesse sacrifício, sendo livrado da condenação à morte eterna.

Com relação a esse momento em que Jesus pergunta ao Pai porque o abandonou, ele foi predito no livro de Salmos pelo Rei Davi:

Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? (Salmos 22:1)

O momento em que Jesus tem os lábios molhados com vinagre, por uma das pessoas que estavam ali zombando dele e presenciando seu martírio, acontece logo após essa fala do Senhor, sendo, também, predito no Antigo Testamento, no livro de Salmos:

Tu bem sabes como sofro zombaria, humilhação e vergonha; conheces todos os meus adversários. A zombaria partiu-me o coração; estou em desespero! Supliquei por socorro, nada recebi, por consoladores, e a ninguém encontrei. Puseram fel na minha comida e para matar-me a sede deram-me vinagre. (Salmos 69:19-21)

Então Moisés convocou todas as autoridades de Israel e lhes disse: "Escolham um cordeiro ou um cabrito para cada família. Sacrifiquem-no para celebrar a Páscoa! Molhem um feixe de hissopo no sangue que estiver na bacia e passem o sangue na viga superior e nas laterais das portas. Nenhum de vocês poderá sair de casa até o amanhecer. Quando o Senhor passar pela terra para matar os egípcios, verá o sangue na viga superior e nas laterais da porta e passará sobre aquela porta; e não permitirá que o destruidor entre na casa de vocês para matá-los. (Êxodo 12:21-23)

O vinagre chegou até os lábios de Jesus através de uma vara que continha um molho de hissopo na ponta. O hissopo é uma erva muito parecida com lavanda que era usada em alguns rituais descritos na Lei Mosaica (veja em Lv:14 e Nm:19), especialmente os que se destinavam à purificação. E, nesses eventos, ele servia para fazer aspersões, que é respingar com os líquidos usados no ritual os objetos a serem purificados. 

Então, quando aquele judeu levou o hissopo embebido com vinagre até a boca de Jesus, ele cumpriu, sem se dar conta, a profecia e o mandamento que se referia à libertação do povo da escravidão no Egito, como lemos há pouco. E sabemos desse detalhe graças ao Evangelho de João:

Depois disso, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam terminadas, para que pudesse se cumprir a escritura, disse: "Tenho sede". Ora, estava ali um vaso cheio de vinagre; e embeberam uma esponja de vinagre, e pondo-a sobre um hissopo, a colocaram na sua boca. (João 19:28,29 - versão King James Fiel)

Em seguida, Jesus grita bem alto suas últimas palavras e vai a óbito (Mt 27:50, Mc 15:37). Através dos Evangelhos de Lucas e João, podemos saber o que Cristo falou nesse momento:

Jesus bradou em alta voz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Tendo dito isso, expirou. (Lucas 23:46)

Tendo-o provado, Jesus disse: "Está consumado!" Com isso, curvou a cabeça e entregou o espírito. (João 19:30)

Se juntarmos as informações contidas nos quatro evangelhos, veremos que o momento da morte de Jesus aconteceu da seguinte forma: logo após ter recebido o hissopo molhado com vinagre, Jesus gritou bem alto: "Está consumado! Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito!"

No livro de Salmos, há também um trecho relacionado ao momento em que Jesus entrega seu espírito ao Pai:

Em ti, Senhor, me refugio; nunca permitas que eu seja humilhado; livra-me pela tua justiça. Inclina os teus ouvidos para mim, vem livrar-me depressa! Sê minha rocha de refúgio, uma fortaleza poderosa para me salvar. Sim, tu és a minha rocha e a minha fortaleza; por amor do teu nome, conduze-me e guia-me. Tira-me da armadilha que me prepararam, pois tu és o meu refúgio. Nas tuas mãos entrego o meu espírito; resgata-me, Senhor, Deus da verdade. (Salmos 31:1-5)

Assim que o Senhor Jesus falece, acontecem três fatos que são considerados sobrenaturais: o véu do templo se rasga de cima para baixo (Mt 27: 51,52, Mc 15:38, Lc 23:45), o planeta treme e rochas se partem, e os sepulcros se abrem. Provavelmente também é nesse momento que a escuridão que tomou o céu em todo o planeta termina. 

Sobre o véu do templo ter se partido de cima abaixo, precisamos entender para que esse "véu" servia, a fim de podermos mensurar o grau de relevância desse acontecimento. Esse véu era uma espessa cortina feita de linho, que servia para separar duas salas especiais dentro do tabernáculo. Vejamos suas especificações:

Faça um véu de linho fino trançado e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, e mande bordar nele querubins. Pendure-o com ganchos de ouro em quatro colunas de madeira de acácia revestidas de ouro e fincadas em quatro bases de prata. Pendure o véu pelos colchetes e coloque atrás do véu a arca da aliança. O véu separará o Lugar Santo do Lugar Santíssimo. (Êxodo 26:31-33)

O texto acima refere-se ao tabernáculo construído por Moisés, mas o templo edificado por Salomão era semelhante, possuindo, também, três divisões. No Átrio, que era a parte externa, ficava o altar do sacrifício e a pia de bronze. No meio do Átrio, havia a área coberta, dividida em duas partes: o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo.

No Lugar Santo, os sacerdotes ministravam e apresentavam os sacrifícios de animais que haviam sido feitos pelos pecados do povo e por seus próprios pecados. Ali estavam o altar do incenso, a mesa dos pães da propiciação e o candelabro, que eram necessários para o cumprimento de todo o ritual. 

O Lugar Santíssimo – também chamado de Santo dos santos – era o local mais interno do templo, onde ficava a arca da aliança. Somente o sumo sacerdote poderia entrar ali. O véu, por conseguinte, separava a presença de Deus, manifesta naquele local, dos demais participantes do ritual e também do povo que estivesse na área mais externa do templo.

O véu rasgado de alto a baixo, no momento da morte de Jesus, indicou que aquilo veio do próprio Deus, pois, se fosse rasgado por um ser humano, isso teria sido feito de baixo para cima. Portanto, foi um evento sobrenatural.

O véu partido também foi um sinal de que daquele momento em diante Deus estaria acessível a todas as pessoas sem precisar de rituais com a mediação de um sacerdote mortal, pois o próprio Cristo ali assumiu a posição de mediador entre Deus e os homens (cf. 1Timóteo 2:1-6).

Dessa forma, todos aqueles rituais destinados a expiação de pecados já não eram mais necessários, porque Cristo acabara de ser sacrificado pelas transgressões de toda a humanidade em todas as eras, e de uma vez por todas, cumprindo a promessa que o Pai fizera aos antepassados israelitas (cf. Gálatas 3:8-25).

Sobre o tremor de terra que atingiu todo o planeta e levou as rochas a se partirem, foi um sinal de que o Pai estava consumando o juízo (ou ira) sobre os pecados da humanidade em Cristo:

Dos céus pronunciaste juízo, e a terra tremeu e emudeceu, quando tu, ó Deus, te levantaste para julgar, para salvar todos os oprimidos da terra. (Salmos 76:8,9)

O Senhor jurou contra o orgulho de Jacó: "Jamais esquecerei coisa alguma do que eles fizeram". Acaso não tremerá a terra por causa disso, e não chorarão todos os que nela vivem? Toda esta terra se levantará como o Nilo; será agitada e depois afundará como o ribeiro do Egito". "Naquele dia", declara o SENHOR, o Soberano: "Farei o sol se pôr ao meio-dia e em plena luz do dia escurecerei a terra." (Amós 8:7-9)

Quanto aos mortos que ressuscitaram, assim que Jesus morreu, foi um sinal sobrenatural e extraordinário, onde o Pai trouxe à vida algumas pessoas que faleceram naquela época. Esses indivíduos viveram crendo que Deus realmente enviaria o Messias para justificá-los de seus pecados, a fim de lhes devolver a cidadania em seu Reino (cf. Hebreus 11:13-16).

Portanto, aquelas pessoas "viveram pela fé", apesar de não terem visto o Messias vir. Elas cumpriram até o último dia de vida os mandamentos da Lei, porém conscientes de para quê eles serviam e para onde eles apontavam, sem se deixarem enganar pelas falsas doutrinas do farisaismo (Mt 27:52,53).

Podemos ler um trecho constante no livro do Profeta Isaías relacionado a esse evento:

Como a mulher grávida prestes a dar à luz se contorce e grita de dor, assim estamos nós na tua presença, ó Senhor. Nós engravidamos e nos contorcemos de dor, mas demos à luz o vento. Não trouxemos salvação à terra; não demos à luz os habitantes do mundo. Mas os teus mortos viverão; seus corpos ressuscitarão. Vocês, que voltaram ao pó, acordem e cantem de alegria. O teu orvalho é orvalho de luz; a terra dará à luz os seus mortos. (Isaías 26:17-19)

Um evento similar a esse acontecerá na segunda vinda de Jesus, onde os que estiverem mortos, até aquele momento, tendo vivido pela fé verdadeira, cumprindo os mandamentos do Reino de Deus ensinados por Cristo, terão seus corpos ressuscitados para herdarem a vida eterna (cf. 1 Coríntios 15:50-58 e 1 Tessalonicenses 4:13-18).

No livro do Profeta Daniel há também um trecho relativo à este grande acontecimento que presenciaremos num futuro que, agora, já não está tão distante:

Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia tal como nunca houve desde o início das nações e até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. (Daniel 12:1,2)

O dia em que Jesus morreu era uma sexta-feira, momento em que o povo de Israel devia se preparar para o descanso do Sábado do Senhor. Portanto, no "Dia da Preparação", como era conhecido para os israelitas, os judeus tinham que deixar tudo pronto para o dia seguinte, como os serviços domésticos, trabalhos no campo, etc., pois, no Sábado, eles deveriam se consagrar a Deus e não realizarem trabalho algum, segundo a Lei Mosaica (Levítico 23:3).

Além disso, a Lei Mosaica ditava o seguinte, sobre indivíduos que fossem mortos "pendurados num madeiro" ou pendurados em estacas de madeira:

Se um homem culpado de um crime que mereça a morte for morto e pendurado num madeiro, não deixem o corpo no madeiro durante a noite. Enterrem-no naquele mesmo dia, porque qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição de Deus. Não contaminem a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança. (Deuteronômio 21:22,23)

Por isso, os líderes judeus pediram a Pilatos para acelerar a morte dos crucificados (pois poderiam continuar vivos até o dia seguinte), para que, antes do pôr do sol, seus corpos fossem retirados das cruzes, segundo relata o Evangelho de João:

Esse era o Dia da Preparação, e o dia seguinte seria um sábado especialmente sagrado. Por não quererem que os corpos permanecessem na cruz durante o sábado, os judeus pediram a Pilatos que ordenasse que lhes quebrassem as pernas e os corpos fossem retirados. Vieram, então, os soldados e quebraram as pernas do primeiro homem que fora crucificado com Jesus e em seguida as do outro. Mas quando chegaram a Jesus, percebendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Em vez disso, um dos soldados perfurou o lado de Jesus com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que o viu, disso deu testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que está dizendo a verdade, e dela testemunha para que vocês também creiam. Estas coisas aconteceram para que se cumprisse a Escritura: "Nenhum dos seus ossos será quebrado", e, como diz a Escritura noutro lugar: "Olharão para aquele que traspassaram". (João 19:31-37)

Quanto aos ossos de Jesus não terem sido quebrados, isso foi um cumprimento do que já estava especificado na Lei sobre o cordeiro que seria sacrificado para a celebração do Shabbat (Êx 12:46, Nm 9:12), e também, cumprimento de uma profecia feita pelo Rei Davi, devidamente registrada no livro de Salmos:

O justo passa por muitas adversidades, mas o Senhor o livra de todas; protege todos os seus ossos; nenhum deles será quebrado. (Salmos 34:19,20)

No livro do Profeta Zacarias, lemos o trecho que se refere ao momento em que Jesus é perfurado no lado do seu corpo e a tristeza que sua morte causou entre todos os que creram n'Ele:

Olharão para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem chora a perda de um filho único, e lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do filho mais velho. Naquele dia muitos chorarão em Jerusalém, como os que choraram em Hadade-Rimon no vale de Megido. (Zacarias 12:10,11)

E para finalizar nosso estudo, ainda com relação ao momento que Jesus foi perfurado na cruz, onde, em seguida, saiu sangue e água, isso foi um sinal de Deus para todos os presentes, especialmente os que conheciam a Lei, de que Cristo é capaz de purificar de toda a transgressão contra a justiça de Deus (ou purificar do pecado) todos aqueles que crerem n'Ele.

Sangue e água eram dois dos seis itens usados no processo de purificação de uma casa infestada com mofo, como podemos ler em Levítico:

Para purificar a casa, ele pegará duas aves, um pedaço de madeira de cedro, um pano vermelho e hissopo. Depois matará uma das aves numa vasilha de barro com água da fonte. Então pegará o pedaço de madeira de cedro, o hissopo, o pano vermelho e a ave viva, e os molhará no sangue da ave morta e na água da fonte, e aspergirá a casa sete vezes. Ele purificará a casa com o sangue da ave, com a água da fonte, com a ave viva, com o pedaço de madeira de cedro, com o hissopo e com o pano vermelho. Depois soltará a ave viva em campo aberto, fora da cidade. Assim fará propiciação pela casa, que ficará pura. (Levítico 14:48-53)

O mofo era algo muito difícil de lidar, podendo levar uma casa à destruição, segundo as especificações da Lei (assim como o pecado não justificado leva um indivíduo à morte eterna):

Se as manchas tornarem a alastrar-se na casa depois de retiradas as pedras e de raspada e rebocada a casa, o sacerdote irá examiná-la, e, se as manchas se espalharam pela casa, é mofo corrosivo; a casa está impura. Ela terá que ser demolida: as pedras, as madeiras e todo o reboco da casa; tudo será levado para um local impuro, fora da cidade. (Levítico 14:43-45)

Se observarmos os itens usados pelo sacerdote na purificação, veremos que todos eles estavam bem representados do julgamento até a morte de Jesus: o pano vermelho (capa vermelha de rei colocada sobre Jesus), a madeira de cedro (a cruz), o hissopo (o feixe de hissopo usado para molhar os lábios de Jesus com vinagre), a água da fonte e o sangue da ave morta (sangue e água que saíram do corpo de Jesus), a ave viva (o espírito de Cristo, que deixou o corpo do homem Jesus, voltando para o Pai).

Missionária Oriana Costa

Revisão: Wendell Costa

Antes de escolher os Apóstolos - Parte 3.1 - O Sermão da montanha

Neste estudo vamos iniciar a análise de um dos momentos em que o Senhor Jesus começa a explicar com mais detalhes alguns princípios importan...