Neste estudo vamos entender o que acontece com Cristo logo após o período de provação no deserto da Judéia (leia o estudo anterior Jejuando no deserto), onde Ele dá início ao seu ministério terreno.
Algum tempo depois do término de seu jejum, enquanto seguia anunciando o Seu Reino, o Senhor fica sabendo que João Batista tinha sido preso. Essa situação sinalizou para Cristo que o momento não era propício para Ele continuar na região da Judéia, pois, além de ser seu parente, a mensagem que seria anunciada por Jesus era similar a de João, e por causa disso Ele poderia ser igualmente detido por Herodes.
Então, como ainda não havia chegado o tempo de ser preso e sacrificado, Cristo decidiu viajar de volta para Nazaré, na Galiléia, onde sua família estava, para lá continuar divulgando o Seu Reino, ensinando nas sinagogas e fazendo muitos milagres.
Porém, antes de ir para Nazaré, o Senhor Jesus passou adiante e hospedou-se em Betsaida, uma cidade situada no litoral da Galiléia, onde Ele foi encontrar alguns homens que escolheria para serem seus discípulos mais chegados, que foram André e seu irmão, Simão Pedro, Filipe, Natanael, e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e seu irmão João, como veremos nas informações a seguir:
"Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram. Indo um pouco mais adiante, viu num barco Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, preparando as suas redes. Logo os chamou, e eles o seguiram, deixando Zebedeu, seu pai, com os empregados no barco." (Marcos 1:16-20)
Uma narrativa similar a esta de Marcos também pode ser encontrada no Evangelho de Mateus (Mt 4:18-22), confirmando os acontecimentos. Porém, o Evangelho de João nos fornece mais algumas informações complementares bem interessantes sobre esses momentos, dando detalhes de como e onde foi o encontro de Jesus com esses homens (Jo 1:35-51).
Vale salientar que no Evangelho de João não está claro que Jesus encontrou os discípulos depois de sair do deserto da Judéia. Nós podemos chegar a essa conclusão após fazermos uma boa comparação com as descrições similares contidas nos outros três evangelhos.
No entanto, há uma hipótese (o texto não deixa claro) de que os dois primeiros discípulos que Jesus encontrou, André e Simão, provavelmente já seguiam o Senhor à distância, antes dele ir para o deserto da Judéia. De acordo com o relato do Evangelho de João, esses dois irmãos eram discípulos de João Batista e, logo após o batismo de Jesus, viram João sinalizar que Ele era o cordeiro de Deus e começaram a seguí-lo (Jo 1:35-37).
Continuando nosso estudo, após passar algum tempo em Nazaré, em seguida o Senhor Jesus vai para Carfanaum, dando continuidade ao Seu trabalho, como veremos no trecho abaixo:
"Quando Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galiléia. Saindo de Nazaré, foi viver em Cafarnaum, que ficava junto ao mar, na região de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías: "Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios; o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz". Daí em diante Jesus começou a pregar: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo." (Mateus 4:12-17)
Nos Evangelhos de Marcos, Lucas e João também encontramos muitas informações complementares sobre o período inicial do trabalho de Cristo.
No Evangelho de Marcos, encontramos o seguinte:
"Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, proclamando as boas novas de Deus. "O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!"" (Marcos 1:14,15)
Já no Evangelho de Lucas, encontramos um relato mais detalhado, como lemos abaixo:
"Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado. E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: "O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restaurar a vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos. E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José? E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum. E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira. E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se. E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados. E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade." (Lucas 4:14-32)
Lucas nos mostra informações importantes sobre como se deu o início do ministério de Jesus Cristo. Somadas às narrativas dos outros Evangelhos, sabemos que o Senhor deixou o deserto da Judéia e foi para a Galiléia, dando início oficialmente ao seu ministério em uma sinagoga de Nazaré, já acompanhado de muitos seguidores, como veremos em estudos posteriores.
E ali, apesar da sabedoria que demonstrou ter diante de todos e dos milagres que realizou por lá, as pessoas se enfureceram com ele ao serem confrontadas com a verdade dos fatos.
Vejamos abaixo onde está inserido o trecho do livro do profeta Isaías lido por Jesus Cristo na sinagoga de Nazaré:
"O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória." (Isaías 61:1-3)
Após mencionar Isaías, Jesus lembrou a verdadeira situação dos israelitas diante de Deus, mostrando sua necessidade de arrependimento perante a desobediência e incredulidade que viviam.
Por isso, seguiu falando da viúva da cidade de Sarepta, que ficava em Sidom, regiões do Império Fenício (veja a história em 1Reis 16:29-34, 1Reis 17) e de Naamã, comandante do exército Sírio (veja a história em 2Reis 5:1-19), que, apesar de serem de outras nações (gentios), foram abençoados no lugar dos israelitas por considerarem mais a Deus.
Então, ao iniciar a pregação da mensagem do Reino na cidade em que fora criado desde a mais tenra infância, onde residia até aquele momento, e num lugar onde todos conheciam sua família e sua boa reputação, Jesus foi rapidamente rejeitado e expulso simplesmente por falar a verdade.
As pessoas não entenderam o que viram e ouviram de Jesus, pois estavam longe de Deus, com os corações endurecidos. Ele só não foi assassinado por ter sido livrado pelo Pai do ódio da multidão, passando pelo meio das pessoas sem ser visto. Essa foi a forma como o ministério terreno de Jesus Cristo começou.
Por causa da indignação dos judeus nazarenos, Jesus saiu daquela cidade e foi continuar seu trabalho em Carfanaum, se mudando com sua família e seus discípulos para lá. A ida de Jesus para essa cidade foi predita pelo profeta Isaias, como observamos na passagem do Evangelho de Mateus citada no início deste texto. Vejamos o trecho de Isaías completo:
"Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida; envileceu nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, na Galiléia das nações. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz." (Isaías 9:1,2)
Sobre os prodígios que Jesus fez enquanto ainda morava em Nazaré, no Evangelho de João encontramos um trecho que mostra o primeiro milagre feito por Jesus ao iniciar seu ministério, que ocorreu em um vilarejo daquela localidade:
"No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". Respondeu Jesus: "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou". Sua mãe disse aos serviçais: "Façam tudo o que ele lhes mandar". Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabia entre oitenta a cento e vinte litros. Disse Jesus aos serviçais: "Encham os potes com água". E os encheram até à borda. Então lhes disse: "Agora, levem um pouco do vinho ao encarregado da festa". Eles assim o fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo e disse: "Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora". Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele." (João 2:1-11)
Caná era um pequeno vilarejo situado na cidade de Nazaré. As escrituras não deixam claro se Jesus fez esse milagre antes de ir à sinagoga naquela mesma cidade, onde leu o famoso trecho de Isaías (Is 61:1-3).
Sobre o evento ocorrido no casamento em Caná, podemos fazer uma contextualização, para entendermos melhor o que ocorreu ali.
Antes de mais nada, essa narrativa quebra um grande tabu sobre a ingestão de vinho (bebida alcoólica) dentre os cristãos, pois, de acordo com a história, Jesus realmente transformou água em vinho, que era a principal bebida servida nos casamentos judaicos daquela época. Se Cristo fosse contra a ingestão dessa bebida, e se realmente fosse pecado beber vinho, Ele jamais teria feito aquele prodígio.
O segundo ponto, é que Maria ainda não cria em Jesus como Messias naquela ocasião, segundo o relato dos Evangelhos. Ela só veio crer em Jesus dessa forma quando já estava próximo o momento do sacrifício dele na cruz. Nas bodas de Caná, ela comentou com Jesus que o vinho tinha acabado por ele ser o chefe da família (José já havia falecido), e acreditou que ele ajudaria a resolver o problema junto com os outros homens que estavam ali. O que ela não esperava é que Jesus resolveria o problema fazendo um milagre.
Sobre a resposta que Jesus deu a sua mãe "Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou" (versão NVI), a colocação das palavras pode soar como uma falta de respeito ou uma grosseria da parte de Jesus, mas não foi isso o que aconteceu ali. De fato, Jesus chamou a atenção para algo espiritual, pois há um significado profético entre a cerimônia de um casamento judaico e o sacrifício de Jesus, e que Maria certamente não entendia.
No casamento judaico, o vinho entrava em duas ocasiões. No primeiro momento, entrava no início do contrato de casamento, onde o noivo e a noiva bebiam o vinho no mesmo cálice, selando o pacto do noivado. Após um ou dois anos de preparação, os noivos novamente se encontravam para confirmar definitivamente o acordo no casamento, e voltavam a beber o vinho no mesmo cálice no primeiro dia da cerimônia, e esse cálice logo em seguida era quebrado.
Maria comentou com Jesus que o vinho tinha acabado, esperando que Ele ajudasse a resolver o problema junto com os outros homens que estavam na festa. Mas, Jesus não estava vendo aquela situação da mesma forma que sua mãe. Diante disso, a resposta de Jesus foi mais ou menos a seguinte, trocando em miúdos: você quer ofertar vinho para essa festa, mas o meu sangue é o vinho que todos realmente precisam para entrarem em aliança com o Pai, contudo, ainda não chegou a hora do meu sacrifício.
Na verdade, Jesus estabeleceu uma aliança entre Ele e a Sua Noiva, que é o Seu Povo ou a Sua Igreja, quando bebeu vinho no mesmo cálice com os Apóstolos no momento da celebração da última Páscoa, onde ficou estabelecido o mandamento da Santa Ceia. Por isso, a celebração da Santa Ceia é tão importante, pois traz à memória que Jesus vai retornar para consumar sua aliança de Vida Eterna com Seu Povo para sempre.
Para o povo de Israel, o milagre da transformação de água em vinho nas bodas de Caná foi um sinal claro de que o Seu Justificador havia chegado, mas, que eles não foram capazes de entender. Curiosamente, a água e o vinho eram dois dos demais elementos que faziam parte dos rituais ordenados por Deus a Moisés para a purificação dos sacerdotes e do povo (Êx 29:38-46, Êx 30:17-21)
Missionária Oriana Costa.
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