Após ter falado sobre os eventos que aconteceriam às nações da Terra, antecedendo à Sua vinda (capítulo 24 de Mateus), no capítulo 25 o Senhor Jesus mostra como se dará o julgamento da "Igreja". Esse julgamento acontecerá separadamente daquele relacionado aos que não fazem parte dela, por causa da responsabilidade que o corpo de Cristo tem na anunciação da mensagem do Reino ao mundo.
Como sabemos, a Igreja – do modo que a conhecemos em nossa realidade – não está somente constituída de verdadeiros cidadãos do Reino de Deus. Dentro dela existem indivíduos que não seguem a Cristo verdadeiramente, contudo aparentam ser pessoas espirituais e servas do Senhor, de forma que, por causa das sutilezas e por não enxergarmos a verdadeira motivação dentro dos corações dos outros, nem sempre é possível julgar quem realmente está agindo de acordo com a fé ou não.
Por causa disso, este julgamento só poderá ser feito plenamente pelo próprio Rei Jesus, no dia do Seu retorno, pois, naquele momento, todas as coisas estarão expostas diante d'Ele.
No capítulo 25 de Mateus, portanto, o Mestre fala os três motivos pelos quais alguns indivíduos serão separados do verdadeiro corpo de Cristo e vão perder a herança da vida eterna. O primeiro está explicado na parabola das dez virgens, o segundo na parábola dos talentos, e o terceiro, Cristo explica no trecho a seguir:
Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, assentar-se-á em seu trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas dos bodes. E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’.
Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?' O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.
Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram’.
Eles também responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos?’ Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo’.
E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna. (Mateus 25:31-46)
Para começar nossa análise, é importante que também tenhamos o entendimento do porquê de Cristo comparar os indivíduos que compõe a instituição eclesiástica à animais, como ovelhas e bodes, por exemplo.
Ele faz isso não por enxergar ou tratar as pessoas como animais, mas é somente para que possamos entender bem como será o processo de separação da nação santa das demais nações: será feito diretamente por Cristo, que colocará dentro de seu Reino os remidos e deixará fora os que desprezarem a justificação concedida gratuitamente por Deus pela fé.
No tempo em que Jesus estava em seu ministério terreno, diferentemente do que acontece hoje em dia, era normal que a maioria das pessoas trabalhassem na agricultura e na criação de animais. E, por isso, era comum encontrar criadores de bodes e ovelhas em Israel, até porque esses dois animais faziam parte dos rituais ordenados por Deus aos israelitas na Lei Mosaica, para a expiação dos pecados do povo.
Então, como a convivência com esses e outros tipos de animais fazia parte do dia a dia das pessoas, Cristo utilizou algo que era rotineiro na realidade da época, para ensinar o povo sobre o Reino e a Justiça de Deus.
Se procurarmos na internet, certamente encontraremos vários textos e vídeos mostrando as diferenças que existem no comportamento de ovinos e caprinos, e também várias pregações mostrando que ovelhas e bodes representam verdadeiros e falsos cristãos, respectivamente, por causa de suas características comportamentais.
Contudo, no trecho que estamos analisando, o Mestre está esclarecendo como será o momento em que Ele vai resgatar seu povo dentre as nações. Jesus está, tão somente, fazendo uma analogia ao momento em que o pastor separa as ovelhas dos bodes no curral. O processo de separação entre esses animais precisava acontecer todos os dias e fazia parte da rotina dos pastores.
Ovinos e caprinos podem conviver num mesmo curral, e é comum observarmos essa prática em países onde a criação desses animais faz parte de sua cultura e subsistência. Esses bichos, no geral, convivem bem no pasto, no entanto, há uma característica neles em particular que exige um certo cuidado do pastor, após conduzi-los de volta ao curral, no fim do dia: ovinos e caprinos não se dão bem quando estão confinados.
Ao voltarem para o curral, se o pastor não separa esses animais e os dois rebanhos permanecem juntos durante à noite, ao amanhecer, ovelhas podem ser encontradas mortas ou gravemente feridas devido às agressões sofridas pelos ataques dos bodes. Por isso, ao serem conduzidos pelo pastor ao aprisco, os dois rebanhos precisam ser separados, a fim de evitar prejuízos.
No trecho em questão, portanto, Cristo diz que, na Sua vinda, Ele vai separar as nações umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos bodes. Isso quer dizer que Cristo vai dar fim ao sofrimento do seu povo, para sempre, resgatando-o dentre todas as nações da terra.
Devemos lembrar que o retorno de Cristo acontecerá no ápice da grande tribulação, onde os cristãos estarão numa situação de muita aflição, devido à forte perseguição que o anticristo promoverá aos que seguem Jesus.
Então, não é à toa que o Mestre compara a separação entre ovinos e caprinos, quando são criados juntos, com o momento do juízo final. A situação na qual o povo de Deus ficará, durante o tempo do anticristo, será semelhante a das ovelhas confinadas com bodes num curral, onde correm o risco de serem atacadas, feridas e mortas, sem terem como se defender.
O grande dia do Senhor está próximo; está próximo e logo vem. Ouçam! O dia do Senhor será amargo; até os guerreiros gritarão. Aquele dia será um dia de ira, dia de aflição e angústia, dia de sofrimento e ruína, dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e negridão, dia de toques de trombeta e gritos de guerra contra as cidades fortificadas e contra as torres elevadas. (Sofonias 1:14-16)
Nessa passagem bíblica, as "cidades fortificadas" (Jeremias 1:18, Salmos 28:8) e as "torres elevadas" (Provérbios 18:10, Cânticos 7:4), ditas pelo profeta, se referem ao povo de Deus.
Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia tal como nunca houve desde o início das nações e até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto.(Daniel 12:1)
Portanto, essa situação complicada já está predita e vai acontecer, apesar de não ser a perfeita vontade de Deus para os seus filhos, e a igreja realmente terá que passar por essa fase.
Mas, graças à intervenção do Pai, será por pouco tempo! Por isso, é muito importante que antes desses momentos difíceis começarem a acontecer, que os cristãos se fortaleçam no conhecimento do Reino e da Justiça de Deus, contidos no ensino de Cristo, para que não entrem em desespero e continuem em paz até seu retorno.
Prosseguindo com nosso estudo, após dizer que vai separar seu povo dentre as nações, o Mestre deixa claro, falando da maneira como fará tal separação, que negligenciar conscientemente a assistência necessária aos que se dedicam ao trabalho de anunciação do Reino resulta em condenação.
Para o Pai, quem escolhe não ajudar um servo d'Ele em suas necessidades, podendo fazê-lo, está deixando de colaborar com sua obra voluntariamente, ou seja, está deixando de servir ao próprio Rei Jesus. E é essa a característica que condenará os "bodes", que estarão à esquerda do Rei Jesus:
Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram’.
O Apóstolo Tiago esclarece bem esse assunto, onde um dos trechos mais marcantes de sua carta trata exatamente disso. Vejamos a seguir:
Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade; porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo! De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: "Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se", sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. (Tiago 2:12-17)
O Apóstolo João também discorre sobre esse tema, porém, explicando-o pelo ângulo do "amor de Deus", que é a Sua Justiça – o conjunto de leis e preceitos que regem o Seu Reino. Abaixo seguem dois trechos importantes de sua primeira carta dirigida aos cristãos de sua época. O primeiro é este:
Quem afirma estar na luz mas odeia seu irmão, continua nas trevas. Quem ama seu irmão permanece na luz, e nele não há causa de tropeço. Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas; não sabe para onde vai, porque as trevas o cegaram. (1 João 2:9-11)
E logo depois, vemos o segundo:
Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus; e também quem não ama seu irmão.
Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. (...) Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte. Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem vida eterna em si mesmo.
Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?
Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade. (1 João 3:10-18)
Missionária Oriana Costa
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