Tudo começou há alguns anos atrás, quando eu e meu esposo entregamos nossas vidas a Jesus. Foi a melhor decisão de nossas vidas, nós realmente provamos do amor de Deus e estamos tendo experiências incríveis com o Senhor Jesus até agora.
Aconteceram muitas mudanças, muitas vezes nós fomos quebrantados, e de fato até hoje ainda estamos nos arrependendo dos erros que cometemos e aprendendo a ser mais parecidos com Cristo.
No decorrer desse processo de conversão das nossas almas, que se iniciou no momento em que deixamos Jesus entrar em nossos corações, iniciamos um crescimento no conhecimento do Reino de Deus e começamos a receber do Senhor muitas bençãos; também recebemos dons que nos ajudam a trabalhar na anunciação da mensagem de salvação e também a servir nos trabalhos eclesiásticos, colaborando na manutenção da fé verdadeira em Cristo Jesus entre os irmãos até sua volta.
No entanto, como nós não somos perfeitos e as demais pessoas que fazem parte da igreja também não são, muitas provas acontecem durante o percurso desse trabalho. Nós enfrentamos muitos desafios, situações difíceis e angustiantes; alguns sofrimentos foram tão pesados que nos levaram a diminuir ou parar algumas de nossas funções até que estivéssemos totalmente recuperados para continuar seguindo em frente.
Nós sabemos pelas escrituras bíblicas que ao entrarmos no Reino de Deus pela fé em Jesus Cristo nos tornamos herdeiros da vida eterna e, apesar de qualquer sofrimento que venhamos passar durante o tempo que estamos aqui, não temos mais nada a perder, pois não pertencemos mais a este mundo e TODAS AS COISAS SEMPRE VÃO CONTRIBUIR PARA O NOSSO BEM. Isso quer dizer que, se o nosso coração não mais nos condena diante do nosso Criador (pois ainda que cometamos erros, há um arrependimento sincero e mudança de atitude que nos adequa à justiça do Reino do qual fazemos parte) o Senhor converte tudo em benção e vai nos conduzindo em paz.
Realmente, para aqueles que vivem a realidade da redenção, não há mais nada a perder neste mundo. Porém, apesar de estarmos cientes disso, sempre nos momentos de dificuldades acabamos esquecendo da perfeita realidade espiritual à qual pertencemos, e ficamos abatidos ou entristecidos, com a sensação de que estamos perdendo alguma coisa ou que não somos capazes de continuar o trabalho que começamos.
Nós ficamos entregues aos nossos sentimentos quando não lembramos o que Cristo fez por nós, em qual lugar habitamos espiritualmente e quem realmente somos agora. Nos primeiros anos do nosso processo de crescimento na fé, meu marido e eu passamos por esses momentos de vulnerabilidade diversas vezes; hoje, graças à firmeza que já alcançamos devido ao entendimento correto das escrituras concedido a nós pelo nosso amado Pai, não estamos mais tão vulneráveis.
Certamente Cristo sabe das nossas fraquezas e sonda nossos corações; ele conhece nossas limitações e sabe até onde nós podemos ir. De fato, ele não deseja nosso sofrimento, e sim quer que demos frutos provenientes da justiça de seu Reino; e esses frutos nós damos quando obedecemos a sua palavra e ao chamado dele para nossas vidas.
Uma das primeiras coisas que aprendemos na igreja é que ela é perfeita espiritualmente, mas fisicamente é formada de pessoas imperfeitas, e nem todas estão interessadas em ficar parecidas com Cristo ou se adequarem à justiça de seu Reino. E essa é uma realidade da qual participamos diariamente e não temos como fugir, e que nos obriga a aprender a paciencia e a pratica da pacificação, sem, no entanto, deixarmos de exortar nossos irmãos quando necessário e sermos também exortados por eles quando erramos em alguma coisa.
No início, achávamos que todos os crentes eram pessoas totalmente perfeitas e que especialmente os pastores eram infalíveis em seu procedimento. Nós ficávamos indignados quando víamos irmãos na fé ou as lideranças das congregações onde participávamos não se portarem sempre conforme aquilo que entendíamos ser o correto, segundo o conhecimento das escrituras que havíamos adquirido.
Com o tempo começamos a perceber que nós mesmos somos falhos e que precisamos da ajuda do Senhor para poder deixar de agir conforme nossa carne e passar a agir pelo novo espírito recriado em Cristo que recebemos. Até hoje estamos sendo confrontados pela palavra por causa das nossas imperfeições e tendo que nos arrepender das nossas faltas perante o nosso Deus.
Um tempo depois que decidimos adequar nossas almas à justiça do Reino, começamos a entender que nossa carne não se converteria jamais à retidão desse maravilhoso lugar e que ela precisava ser mantida cativa pelo conhecimento dessa justiça, se realmente quiséssemos viver como verdadeiros cidadãos do Reino de Deus nesse mundo.
Aprendemos que a conversão das nossas almas na realidade material se dará durante toda a nossa permanência nela, e que muitas vezes vai se mostrar um processo dolorido. Mas, apesar de ser sofrida, a conversão à justiça do Reino de Deus é totalmente benéfica e necessária, conforme o Senhor nos ensina por sua palavra. É muito bom quando podemos enxergar onde estamos errando e podemos mudar nossas condutas, confirmando e tornando visível aos que nos rodeiam a graça da justificação que foi concedida à humanidade espiritualmente; e essa oportunidade única e preciosa nos foi dada pelo Pai através do incrível e incomparável sacrifício de Jesus. A honra e a glória sejam dadas a ele para sempre por essa graça tamanha.
Então, até aqui relatei de maneira superficial o que todas as experiências que passamos nas várias congregações evangélicas cristãs das quais participamos nos fizeram aprender. Ao contrário do que acontece com algumas pessoas, as dificuldades e sofrimentos nos impulsionaram a continuar buscando a Deus em vez de parar totalmente essa busca.
É claro que muitas vezes (falo por mim mesma) pensei em desistir de congregar diante das decepções que passei, mas, quando analisava minha vida percebia que o mundo não poderia mais me satisfazer como antes e que convivendo com meus irmãos na fé, ainda que eu soubesse que muitas vezes iria sofrer, tanto por causa de meus próprios defeitos e limitações como por causa dos outros, aquilo era o ideal par mim. Somente fazendo parte da igreja do Senhor Jesus eu sou realmente útil em sua obra, por causa dos dons que ele me deu para cumprir as tarefas para as quais ele mesmo me chamou.
Agora vou pontuar alguns casos que de uma forma ou de outra, serviram de alerta e de fator de aprendizado em alguma área das nossas vidas.
Nessas mais de duas décadas de caminhada com Jesus que vivenciamos, vimos irmãos das igrejas que congregamos entrarem em processos depressivos (no qual estão há muitos anos), desistirem de seus casamentos e também desistirem da fé.
Quando falo em irmãos que se entregaram à depressão, desistiram de seus casamentos e/ou abandonaram a fé cristã, não falo de pessoas que estavam nos bancos somente assistindo aos cultos, mas falo daquelas que PARECIAM ESTAR FIRMES NO CONHECIMENTO DA VERDADE QUE LIBERTA e que ministraram profundamente em nossas vidas, falo de indivíduos que nos impactaram e foram instrumentos preciosos nas mãos do Pai para auxiliar no nosso crescimento espiritual; pela forma como aquelas pessoas eram usadas, nós não poderíamos de maneira alguma imaginar que um dia elas se deixariam levar por crises emocionais, optariam por se separarem de seus cônjuges, ou mesmo deixariam o convívio com os irmãos para voltarem a viver longe de Deus.
Hoje percebemos que aquelas pessoas ainda não estavam firmes na fé como aparentavam e que precisavam conhecer mais ao Senhor e serem tradadas; foram líderes, ministros de louvor, diáconos, discipuladores, dentre outros que serviam de forma intensa no meio eclesiástico. Não sei como estão vivendo agora, mas, espero sinceramente que aqueles que caíram em estado depressivo se recuperem e voltem a trabalhar na obra dando o seu melhor, que aqueles que dividiram suas famílias possam se arrepender sinceramente e não voltem a fazer isso de novo (se deram início a outras), e aqueles que se afastaram da igreja e deixaram de perseverar na fé possam fazer as pazes com o Senhor novamente.
Vimos também certos irmãos dando espaço para a operação de espíritos malignos ou aceitando doutrinas diabólicas como se fossem vindos de Deus. Isso nos indignou e nos entristeceu muito. Meu marido e eu, inclusive, pudemos experimentar o que é estar num ministério onde as lideranças aparentam serem tementes a Deus, mas, na verdade, estão distorcendo a palavra dele e seguindo suas próprias paixões.
No início não conseguíamos perceber o espírito de engano, por causa do nosso pouco conhecimento das escrituras, mas, meses depois de uma convivência intensa com tais pessoas (que gerou dúvidas e nos fez sentir uma certa instabilidade espiritual, de tal maneira que nos impulsionou a orar especificamente sobre isso), tivemos nossos olhos abertos pelo Senhor e nos arrependemos profundamente de termos concordado com algumas das perversões da justiça de Deus que eles nos estavam ensinando.
Por causa do nosso envolvimento com tal ministério, nosso casamento quase acabou. Esse sofrimento nos vacinou para que mais tarde pudéssemos discernir com rapidez trabalhos ou lideranças que se diziam cristãos, mas não estavam em aliança com Cristo.
Enfim, no meio de tantas experiências, a que mais me marcou, e creio que marcou também toda a família, foi a experiência pastoral. Liderar duas igrejas em dois locais distintos do RN foi realmente algo desafiador e diferente de tudo o que já tínhamos passado até aquele momento; foram seis anos de muito aprendizado e crescimento em todas as áreas das nossas vidas.
Coisas que até então eu apenas sabia de ouvir falar, eu vi diante dos meus olhos. Conheci as rotinas de pessoas carentes; vi de perto o sofrimento delas, como percebi que assim como há soberba e egoísmo entre as pessoas de melhor condição financeira, também essas duas coisas existem nos corações de muitos daqueles que passam necessidade.
As igrejas que pastoreamos estavam em locais onde haviam pessoas de vários níveis sociais, mas a maioria dos frequentadores eram pessoas de baixa renda, até porque os locais onde estávamos estabelecidos não tinham muito conforto e beleza exterior: essa condição atraía o público mais carente.
Por sermos pastores, participávamos das vidas das pessoas mais ativamente; ficávamos sabendo de problemas pessoais e de muitas situações difíceis que as pessoas enfrentavam sem terem como resolvê-las a curto prazo. Nós sofríamos juntos com elas, e eu particularmente, pois, no início, não me acostumava com o fato de ver as pessoas necessitadas e somente orar por elas: eu tinha que fazer algo para ajudá-las, e quando eu não podia agir ficava profundamente entristecida. Tive que me acostumar com a realidade de que não poderia ajudar a todos, e entendi finalmente que o único que pode fazer isso é Deus.
Separamos brigas, fizemos reconciliação entre pessoas intrigadas umas com as outras, ajudamos casais a não desistirem de seus matrimônios, doamos roupas, alimentos, remédios e até dinheiro para pagar o gás e contas de água e luz vencidas dos irmãos. Aconselhamos muitos em situações difíceis a fim de ajudá-los a tomar decisões que protegessem suas vidas e preservassem a paz de seus lares; e vimos também alguns irmãos partirem para o merecido descanso do Senhor.
Muitas vezes precisamos chamar a atenção dos irmãos que agiam movidos por seus sentimentos ou viviam ao sabor das circunstâncias, em vez de atentarem para o que Cristo ensinou. Uns ouviam e consideravam, outros não. Presenciamos milagres maravilhosos de cura e provisão acontecerem, como também pessoas recebendo juízo sobre ações que cometeram insensatamente, sem atentarem para os conselhos e ensino que estavam recebendo à luz da palavra.
Considero que toda essa vivência foi uma faculdade especial que o Senhor nos ajudou a entrar e frequentar para que aprendêssemos coisas que fora dela jamais teríamos aprendido. Durante esse tempo de liderança corrigimos pessoas usando a palavra de Deus, como também fomos confrontados por ela. Não estávamos imunes ao quebrantamento, porque somos seres humanos falhos como qualquer outra pessoa; apesar de termos um pouco mais de conhecimento que as pessoas com as quais estávamos lidando, também tínhamos defeitos que precisavam ser corrigidos e só o Senhor poderia fazer esse trabalho, pois ele vê o que os outros não estão vendo e age de forma que os outros não podem agir: ele nos criou e é infinitamente sábio e poderoso.
Conforme as situações iam acontecendo, Cristo ia me apresentando detalhes da minha própria vida que eu desconhecia, e então passei a enxergar defeitos e limitações que não sabia ou não entendia que tinha. Quando chegou o tempo de encerrar o trabalho pastoral, em 2016, eu já estava exausta: e quem ao final de uma faculdade inteira não está? Então, foi penoso fechar aquelas duas congregações e encerrar os trabalhos naqueles dois locais em definitivo, mas, tivemos que fazê-lo, para o nosso próprio bem e para o bem daqueles que estavam debaixo das nossas lideranças.
Não tínhamos quem nos substituísse e especialmente eu necessitava parar naquele momento para buscar tratamento médico, pois minha saúde precisava de reparos devido à sobrecarga mental e emocional que enfrentei durante aqueles anos. Se continuássemos, muito provavelmente minha situação de saúde iria piorar e quando eu estivesse afastada precisando de cuidados, meu esposo também não ia poder pastorear devidamente; sem pastores presentes, os trabalhos teriam que ser parados por um longo tempo de qualquer forma e as pessoas iam precisar procurar outras congregações para não ficarem dispersas e esfriarem na fé.
De qualquer maneira, o próprio Deus nos deixou cientes que não reabriríamos as congregações, e que após meu tratamento retomaríamos o chamado itinerante que tínhamos antes de assumir o pastoreio das duas igrejas. Enfim, tudo acabou bem e cada um seguiu seu caminho, atendendo cada qual o chamado do Senhor para suas vidas. O trabalho foi intenso, desgastante, sofrido mesmo, mas valeu à pena. Vidas foram edificadas em Cristo, almas foram salvas e libertas da escravidão do pecado. Agradeço imensamente ao Senhor por tudo isso e peço que ele me capacite a continuar enfrentando os desafios da nova chamada ministerial.
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quinta-feira, 28 de junho de 2018
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